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PolíticaIrlanda

Comissário da UE renuncia após ir a jantar durante pandemia

27 de agosto de 2020

Titular europeu do Comércio cede à pressão por ter ido a evento promovido por sociedade de golfe com 80 convidados na Irlanda. Suposta violação das regras de saúde já havia causado a renúncia de um ministro do país.

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Comissário de Comércio da União Europeia, o irlandês Phil Hogan
Hogan diz que "não violou nenhuma lei" durante sua viagem à Irlanda, mas que poderia ter "aderido melhor às diretrizes"Foto: picture-alliance/dpa/V. Mayo

O comissário de Comércio da União Europeia (UE), o irlandês Phil Hogan, renunciou ao cargo na noite de quarta-feira (26/08), após crescente pressão por ter supostamente violado restrições implementadas para conter a propagação da covid-19 na Irlanda.

Na semana passada, Hogan participou de um jantar oferecido pela sociedade de golfe do Parlamento irlandês, um encontro polêmico que já havia resultado na renúncia do ministro da Agricultura da Irlanda, Dara Calleary.

Em entrevista à emissora irlandesa RTE, Hogan reiterou que "não violou nenhuma lei" durante sua viagem à Irlanda, mas que poderia ter "aderido melhor às diretrizes".

"Evidentemente, foi uma distração para muitas pessoas no momento em que elas estão tentando lidar com a gravidade desta pandemia", disse o político. "Senti que o fato de ter cometido esse erro, apesar de não ter infringido a lei, era uma distração suficiente do trabalho que estava fazendo e da Comissão [Europeia]."

Hogan esteve entre os mais de 80 convidados de uma jantar num hotel no Condado de Galway, em 19 de agosto. O encontro ocorreu exatamente um dia depois de o governo irlandês ter endurecido as medidas restritivas no país, na tentativa de frear um aumento nas infecções do coronavírus. Entre as regras em vigor, está a proibição de reuniões entre mais de seis pessoas em locais fechados.

Na semana passada, a polícia irlandesa informou que estava investigando o evento da sociedade de golfe sobre possíveis violações das leis nacionais de saúde.

Além de Hogan e Calleary, estavam presentes no jantar, que recebeu o apelido de "Golfgate", um juiz da Suprema Corte e vários parlamentares, entre eles o vice-presidente da câmara alta do Parlamento irlandês (equivalente ao Senado), Jerry Buttimer, que também renunciou ao cargo na semana passada.

Hogan não se desculpou inicialmente por sua presença. O comissário afirmou na semana passada que havia ido ao jantar "com a ideia clara de que os organizadores e o hotel tinham assegurado que os preparativos estavam em conformidade com as orientações do governo".

Ele acrescentou que, antes do evento, "cumpriu integralmente os requisitos de quarentena do governo irlandês", e que permaneceu em isolamento preventivo desde o final de julho.

No entanto, posteriormente surgiram detalhes sobre seus movimentos pela Irlanda – entre eles, a passagem por um condado em quarentena. Hogan se desculpou "por completo e sem reservas" por suas ações. Ainda não está definido quem substituirá Hogan como comissário de Comércio da UE.

A presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, havia pedido ao então comissário uma explicação de suas infrações de viagem e estava avaliando suas justificativas, quando Hogan ofereceu sua renúncia.

"Eu respeito sua decisão", disse Von der Leyen. "Sou muito grata a ele por seu trabalho incansável como comissário de Comércio desde o início deste mandato."

Hogan havia perdido o apoio do governo irlandês depois que o primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, e seu vice, Leo Varadkar, afirmaram na terça-feira que houve evidentes violações das diretrizes de saúde pública referentes à covid-19 durante a viagem ao evento em Galway.

Em resposta à decisão de Hogan, Martin e Varadkar afirmaram que a renúncia foi "o curso correto de ação, dadas as circunstâncias da semana passada". "Todos nós temos a responsabilidade de apoiar e cumprir as diretrizes e regulamentações de saúde pública", disseram em comunicado.

Em 18 de agosto, Martin anunciou que o governo decidiu reintroduzir algumas medidas implantadas durante o lockdown de março a maio no país europeu, após um recente aumento no número de novas infecções diárias.

Segundo as novas regras, as reuniões em espaços fechados só podem juntar um máximo de seis pessoas (até então eram 50) e em espaços abertos um máximo de 15 (eram 200), com exceção de alguns eventos, como serviços religiosos e casamentos, que podem reunir até 50 pessoas.

O hotel que sediou o jantar do qual Hogan e Calleary participaram afirmou que os convidados foram separados em dois grupos com menos de 50 pessoas cada. Contudo, a imprensa local informou que a divisão entre as duas salas foi removida durante os discursos.

Na sexta-feira passada, ao anunciar sua renúncia, o então ministro da Agricultura do país pediu desculpas à população. "Prejudiquei o esforço nacional para tentar enfrentar a covid-19", declarou Calleary. "Eu decepcionei, irritei e estressei muitas pessoas que tiveram que fazer apelos muito difíceis nos últimos seis meses."

Alguns dias antes, a presidente da agência responsável pela promoção do turismo na Irlanda, Catherine Martin, já havia pedido demissão após ser revelado que ela viajou de férias para a Itália, apesar dos apelos do governo para que as viagens sejam feitas apenas dentro do país.

A Irlanda, um país de pouco menos de 5 milhões de habitantes, registrou até agora pouco mais de 28 mil casos confirmados de coronavírus e 1.777 mortes ligadas à doença.

O número de infecções diárias atingiu seu pico em abril, com centenas de casos registrados diariamente, antes de cair para cerca de 20 por dia ao longo de junho e julho, permitindo a flexibilização das restrições em junho. A reintrodução das medidas foi anunciada na semana passada após a cifra de novos casos diários ultrapassar 100 por quatro vezes em agosto. 

PV/rtr/dpa/afp/efe/lusa

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