Reator colombiano
14 de julho de 2011Anúncio
O único reator nuclear da Colômbia – chamado IAN-R1 – foi construído em 1965, desligado em 1997 e reativado em 2005. Ele é utilizado para examinar a qualidade e a quantidade de recursos naturais como o petróleo, o ouro e o carbono da Colômbia. Também é empregado para fins farmacêuticos, para identificar disfunções da tiroide, e na engenharia, para detectar falhas em represas hidrelétricas.
O desligamento há 14 anos se deu como uma tentativa de abandonar a energia nuclear. À época, o governo da Colômbia ordenou que se desligasse o reator fechando, ao mesmo tempo, o Instituto de Ciências Nucleares e Energias Alternativas que o operava. Um erro, na opinião de especialistas da área, já que um reator não é como um moinho de vento, que deixa de produzir energia assim que para de girar.
"Os responsáveis achavam que apertando o botão de off tudo estaria solucionado", disse um dos 174 ex-trabalhadores despedidos naquele ano.
No entanto os custos para desativar o reator, descontaminar a área e fechá-lo definitivamente forçaram o governo de Álvaro Uribe a colocá-lo em funcionamento outra vez em 2005.
Decisão equivocada
Enquanto o salário dos cientistas foi reduzido à época, o reator precisava continuar sendo monitorado e permanecer sob constante manutenção. Ainda assim, econômica e cientificamente esta foi uma "decisão equivocada" para Jaime Sandoval Lagos, atual chefe do reator nuclear colombiano e uma das cinco pessoas que atualmente o operam.
"Não levaram em conta que o IAN-R1 estava conectado a uma usina de radiação gama, além de trabalhar com um único laboratório nacional de calibragem para detectores de radiação", disse.
Para ele, além de prejudicar o know-how colombiano, o fechamento do IAN-R1 também gerou um caos em outras áreas. "Já não era possível examinar as fontes radiativas que tinham que ser importadas para uso medicinal", explicou Lagos.
Outros custos não operacionais e também não calculados do fim dos trabalhos do reator estavam sendo cobertos por instituições geológicas e universidades colombianas. Durante a etapa "inativa" do IAN-R1, o Estado e as universidades colombianas tiveram que irradiar suas amostras em reatores civis da Alemanha, como o FRM II de Munique, ou no Chile.
Atividade para evitar perdas
"A mera operação em stand by custaria aos contribuintes colombianos mais de 300 milhões de pesos (cerca de 134,6 mil dólares) – sete vezes menos do que se gastaria para desmantelá-lo", calculou o diário El Tempo, de Bogotá. Entre manter o reator ativo, a um custo de 42 milhões de pesos anuais, e gastar mais um milhão de dólares para fechá-lo e descontaminar a área – processo que levaria 20 anos – a única alternativa que não implicava mais perdas para o país era colocá-lo novamente em funcionamento. Este processo se reiniciou em 2005 e será concluído em 2012.
Ainda que seu principal usuário seja o Instituto Colombiano de Geologia e Mineração (Ingeominas), o IAN-R1 ampliou seus serviços a outros centros científicos e à iniciativa privada.
O IAN-R1 foi adquirido nos anos em que o então presidente norte-americano Dwight Eisenhower lançou o plano "Átomos para a paz", que procurava impulsionar a produção de energia a baixo custo. Em plena Guerra Fria, Washington buscava apoiar os países alinhados com os ideais norte-americanos frente ao avanço comunista. Os riscos da energia nuclear para a saúde, o meio ambiente e os problemas de transporte e armazenamento de resíduos nucleares ainda não eram debatidos publicamente.
"Segurança inerente"
O reator colombiano não é um reator comum. O TRIGA é um tipo estanque, desenhado para fins científicos, pedagógicos e análises de provas não destrutivas e produção de isótopos. "A matriz ou barra de combustível nuclear do IAN-R1 utiliza hidreto de urânio-zircônio (U-ZrH) como combustível e possui um sistema de segurança inerente", disse Lagos à reportagem.
Isso quer dizer que ele tem um Coeficiente Negativo de Temperatura rápido, de tal forma que, na medida em que a temperatura do núcleo sobe, a eficiência do reator diminui. "Sendo assim, é impossível que se produza sua fusão", conforme explicação de seus fabricantes General Atomics, dos Estados Unidos, Framatome, da França, e Siemens AG, da Alemanha.
A explicação é necessária pois o IAN-R1 está localizado justamente abaixo de um dos corredores aéreos mais movimentados da Colômbia. Quando o reator foi construído, em 1965, as instalações estavam nos limites da cidade. Hoje, 46 anos mais tarde, o crescimento urbano acabou colocando o setor bem no centro. Mas Lagos explica: "no caso do impacto de um avião sobre o reator, calcula-se que a liberação de material radioativo só alcançaria um raio de 70 metros". Ainda que o reator tenha uma potência de 100 kw, ele é operado com apenas 30 kw.
Autor: José Ospina-Valencia (ms)
Revisão: Carlos Albuquerque
Revisão: Carlos Albuquerque
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