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PolíticaItália

Coalizão de Draghi se esfacela e Itália pode adiantar pleito

20 de julho de 2022

Três partidos da ampla aliança que sustenta o premiê se recusaram a participar de um voto de confiança nesta quarta-feira. Cenário mais provável é convocação de novas eleições em setembro ou outubro.

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Draghi discursa no Senado da Itália
Draghi discursa no Senado da Itália na manhã desta quarta-feiraFoto: Andrew Medichini/AP/dpa

O governo do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, ficou mais perto do fim depois que três partidos que integram sua coalizão não participaram de um voto de confiança no Senado nesta quarta-feira (20/07), frustrando esforços para resolver uma crise que deve levar à sua renúncia e à convocação de eleições antecipadas.

Draghi havia dito que o apoio de partidos de todo o espectro político era essencial para acabar com um impasse que tem o potencial de desestabilizar a terceira maior economia da zona do euro, enquanto o país enfrenta pressões domésticas e geopolíticas, como a guerra na Ucrânia e a crise no fornecimento de energia.

A decisão do Forza Italia, de Silvio Berlusconi, da Liga, de extrema direita, e do populista Movimento Cinco Estrelas de não participarem do voto de confiança significou que o fracasso da tentativa de Draghi de reavivar sua coalizão, que governa o país há 18 meses.

Numericamente, Draghi venceu o voto de confiança por 95 votos a 38, mas não pode declarar vitória diante da abstenção de dezenas de senadores desses três partidos. O desfecho mais provável agora é a realização de eleições parlamentares antecipadas em setembro ou outubro.

Em um discurso antes da votação, Draghi disse que estava preparado para ficar, mas com uma condição: se os partidos se comprometessem com uma agenda comum. Mas a Liga e a Forza Italia disseram que era impossível recuperar a confiança perdida após uma crise provocada pela decisão do Movimento Cinco Estrelas de não participar de um voto de confiança na semana passada.

Draghi já havia oferecido sua demissão na semana passada, mas foi convencido pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella, a não renunciar imediatamente e a tentar negociar com os partidos.

Economista de prestígio e ex-presidente do Banco Central Europeu, Draghi foi convidado em fevereiro de 2021 por Mattarella para liderar uma coalizão heterogênea que reúne quase todos os partidos representados no Parlamento. A única exceção é o partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), que permaneceu na oposição.

"Tempestade perfeita"

O comissário da União Europeia (UE) para economia, Paolo Gentiloni, escreveu no Twitter que o impasse criado por partidos "irresponsáveis" poderia "criar uma tempestade perfeita", e que a Itália enfrentaria "meses difíceis à frente".

Enrico Letta, presidente do Partido Democrático, de centro-esquerda, também disse no Twitter que "neste dia de loucura, o Parlamento decidiu se voltar contra a Itália". "Os italianos irão mostrar nas urnas que são mais sábios do que seus representantes", afirmou.

Pesquisas recentes indicaram que a maioria dos italianos queria que Draghi seguisse à frente do governo até as próximas eleições gerais, programadas para maio de 2023.

"A centro-direita entrará para a história como aqueles que se livraram de Mario Draghi", afirmou Francesco Galietti, analista da Policy Sonar, à agência de notícias AFP. Ele ponderou, porém, que "Draghi não fez concessões. Ele foi muito duro".

Draghi havia "repreendido seus parceiros de coalizão por lutas internas" nos últimos meses e traçado uma política governamental que "contém medidas às quais a Liga ou o Movimento Cinco Estrelas se opõem firmemente", disse Wolfango Piccoli, da consultoria Teneo. "Ao não fazer novas concessões a nenhuma das partes, Draghi não facilitou a vida da Liga e do Movimento Cinco Estrelas."

Investidores observam a situação italiana de perto. A diferença entre os títulos do tesouro italianos e alemães de 10 anos aumentou para 215 pontos no fechamento do mercado. Na quinta-feira, o Banco Central Europeu também deve fazer a primeira elevação da taxa de juros básica da zona do euro em 11 anos.

bl (AFP, AP)