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Clube argentino de rúgbi luta pela diversidade sexual

Maricel Drazer
18 de abril de 2021

Ciervos Pampas se apresenta como um clube gay num esporte que muitas pessoas consideram para "machos", e luta para oferecer um espaço livre de discriminação e violência homofóbica.

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Ciervos Pampas Rubgy Club
Jogadores do Ciervos Pampas, de Buenos Aires, durante treinoFoto: ciervospampas

Fundado em 2017 em Buenos Aires, o Ciervos Pampas R.C. é o primeiro clube de rúgbi a defender a diversidade sexual na América Latina. O slogan já é uma declaração de princípios: "Ciervos Pampas: tackleando a homofobia" (tackle é um jogada no rúgbi em que se agarra um jogador adversário para derrubá-lo).

"O principal motivo para nos unirmos foi buscar um espaço livre de discriminação e violência homofóbica", explica o presidente do clube, Caio Varela. "Muitos de nós, jogadores, passamos por discriminação e violência, sob a forma de invisibilização, menosprezo, rechaço, insultos e até mesmo a exclusão, nos espaços esportivos", diz Varela, que também é jogador de rúgbi e consultor em temas de direitos humanos.

Segundo ele, o rúgbi é visto por muitas pessoas como um esporte de "machos" que devem ter uma determinada postura, usar determinado tipo de roupa e assumir determinada orientação sexual.

 Caio Varela, do Ciervos Pampas Rubgy Club
Varela: "Nós nos denominamos um clube de putos e usamos essa expressão para dar visibilidade à diversidade sexual"Foto: ciervospampas

"Imagine o que significa un grupo de putos pisando no gramado empoderados, livres e orgulhosos de suas meias arco-íris", diz Varela, com certa ironia. E acrescenta: "Nós nos denominamos um clube de putos e usamos essa expressão, de cunho pejorativo, justamente para dar visibilidade à diversidade sexual."

"Porque, na verdade, ser puto não está ligado exclusivamente à nossa orientação, mas a uma postura contra-hegemônica da sexualidade", explica o esportista, que nasceu em Santos (SP) e se mudou há oito anos para Buenos Aires.

"Nosso espaço está pensado prioritariamente para as pessoas do coletivo LGBTQI+. Mas somos heterofriendly."

Esporte e direitos humanos

O argentino Alan Cignoli, de 30 anos, que começou a jogar rúgbi há apenas três anos, diz que o clube faz militância fora e dentro de campo. "Estou no Ciervos Pampas porque pude romper com essas ideias que me diziam que esse esporte não era para alguém como eu. Aqui me ensinaram que sim, que é um direito para todos", comenta.

"Ocupamos um espaço que o machismo e a homofobia nos negaram durante muito tempo, resistimos com força a todos os golpes que tentam nos dar e buscamos transformar esse local, para que mais pessoas do coletivo LGBTQI+ se unam e se animem a praticar esporte", diz Cignoli.

Participar do Ciervos Pampa é mais do que apenas praticar esporte. Uma das características distintivas do clube é que seus integrantes não apenas treinam e jogam, mas também se formam em direitos humanos.

"Temos debatido, fora do campo, sobre o que éramos e sobre o que queríamos ser", diz o presidente da organização. "E desse debate nasceu a proposta de uma escola de formação em direitos humanos", acrescenta.

Compartilhar experiências e refletir ajuda os integrantes do Ciervos Pampas na luta que levam adiante e também permite a eles superar em melhores condições as situações de discriminação e violência que enfrentam.

"Como jogadores do Ciervos Pampas, ouvimos insultos diretos e indiretos sobre nossa existência ou nossa participação em torneios", diz. "Escrevem discursos de ódio em nossas redes sociais", comenta Varela. "Mas sabíamos que isso aconteceria, e existimos justamente para problematizar, enfrentar e ressignificar as experiências negativas", afirma.

O clube amador tem quase 30 jogadores e mais de 50 associados. A equipe participa do torneio oficial empresarial da União de Rúgbi de Buenos Aires. No momento, os integrantes estão entusiasmados com o projeto de uma turnê internacional depois da pandemia de covid-19, antes do mundial masculino da categoria, em 2023.