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Candidato da esquerda é eleito o novo presidente do Chile

19 de dezembro de 2021

Com metade das urnas apuradas, Gabriel Boric, de 35 anos, está com 54,72% dos votos, contra 45,9% do candidato de extrema direita José Antonio Kast, que reconhece derrota.

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Boric, de máscara, ergue o braço
Foto: Aliosha Marquez/AP/picture alliance

O candidato da coalizão de esquerda, Gabriel Boric, de 35 anos, foi eleito neste domingo (19/12) o mais jovem presidente da história do Chile.

Com 50% das urnas apuradas, Boric tinha 54,72% dos votos, contra 45,9% do candidato de extrema direita José Antonio Kast. Segundo analistas, é muito improvável que o segundo colocado reverta o resultado.

No começo da noite, Kast telefonou para o rival e reconheceu a derrota. "Acabo de falar com @gabrielboric e eu o felicitei por seu grande triunfo. A partir de hoje, é o presidente eleito do Chile e merece todo o nosso respeito e colaboração construtiva. Chile sempre em primeiro", escreveu no Twitter.

Nas últimas pesquisas, o ex-líder estudantil esquerdista aparecia com vantagem apertada. No primeiro turno, ele recebeu 25,8% dos votos, ficando pouco atrás de Kast, que teve 27,9%.

No exterior, Boric também foi vencedor na maioria dos países, com exceção da China, onde Kast foi mais votado.

A apuração começou logo após o fechamento dos mais de 2.500 centros de votação, em meio a críticas contra o governo, pelos problemas registrados ao longo do dia no transporte público. Cerca de 15 milhões de chilenos — de uma população de 19 milhões — estavam aptos a votar.

O pleito foi o mais acirrado e polarizado em décadas e ocorre num contexto de crise social e política e de um processo constituinte que pretende enterrar os últimos resquícios da ditadura militar de Augusto Pinochet.

A eleição também ocorre num cenário de inflação galopante, um sistema previdenciário descapitalizado e desigualdade acentuada pela pandemia de covid-19. O país ainda está há dois anos mergulhado na mais grave crise das últimas três décadas, desde que, em outubro de 2019, eclodiram os maiores protestos populares desde a ditadura.

Problemas no transporte público

Durante o dia, os holofotes se voltaram para o próprio território chileno, onde não faltaram críticas aos problemas no transporte público e engarrafamentos, que atrapalharam a vida dos eleitores.

Nas comunas de Puente Alto, Maipú, La Florida e San Miguel, todas na região metropolitana de Santiago, foi possível encontrar pessoas que esperaram por até duas horas para conseguir condução e se deslocar ao local de votação.

"É o cúmulo que nós, idosos, tenhamos que esperar tanto tempo no sol, com esse calor", disse à agência Efe a aposentada Mariana Vargas, que vive no bairro de La Reina, na cidade de Santiago.

Integrantes das campanhas dos dois candidatos também se queixaram da situação e incentivaram que eleitores dessem carona para vizinhos, com o objetivo de garantir mais um voto no pleito, marcado pelo equilíbrio nas pesquisas.

Por volta do meio-dia, prefeituras disponibilizaram veículos oficiais para transportar moradores para os locais de votação.

Boric chegou a afirmar que o governo do presidente Sebastián Piñera buscava "boicotar" as eleições.

A ministra dos Transportes, Gloria Hutt, reconheceu o problema ao longo do dia e garantiu estar fazendo "todos os esforços" para que se resolvesse o mais rapidamente possível.

"Há episódios de congestionamentos em vias importantes, e isso afeta a fluidez dos trajetos do transporte público, quando não há via exclusiva. Com isso, os temos de espera aumentaram", admitiu.

O porta-voz do governo, Jaime Bellolio, por sua vez, negou as acusações de que havia uma estratégia em prática para que as pessoas não votassem neste segundo turno. "Temos cerca de 75% mais ônibus circulando do que em um domingo normal", disse o representante do Executivo.

Quem é Boric

Boric tem 35 anos e era o candidato da coalizão de esquerda Apruebo Dignidad. Ele começou a carreira política como líder estudantil e dirigente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECh). 

Filho de uma família de classe média alta em Punta Arenas, no extremo sul do país, o candidato está em seu segundo mandato como deputado. Tornou-se conhecido nacionalmente em 2011, em protestos contra as mudanças no sistema educacional introduzidas durante o primeiro governo de Sebastián Piñera. 

Como propostas, pretende realizar profundas mudanças nos sistemas previdenciário, tributário, de saúde e educacional, questões que estiveram entre as principais demandas da população nos protestos de outubro de 2019.

Quem é Kast

Kast, do Partido Republicano, apostou num forte discurso nacionalista anti-imigração, numa repetição de processos que ocorreram no Brasil e Estados Unidos, que também viram candidatos de extrema direita ascenderem em momentos de desgaste da política tradicional.

A família de Kast, um católico romano fervoroso e pai de nove filhos, tem laços profundos com a ditadura militar de Pinochet, que assumiu o poder no Chile após um golpe em 1973. Miguel Kast, irmão de José Antonio Kast, atuou como presidente do Banco Central durante a ditadura.

"Se ele estivesse vivo, votaria em mim", afirmou Kast sobre Pinochet durante sua campanha à Presidência em 2017, quando somou apenas 8% dos votos. "Nós tomaríamos chá juntos [no palácio presidencial]", acrescentou o candidato.

O pai alemão de Kast era membro do partido nazista de Adolf Hitler. 

le/as (Efe, ots)