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Campanha para imigrantes gera indignação em Berlim

26 de novembro de 2018

"Seu país. Seu futuro. Agora!", diz cartaz do Ministério do Interior. Campanha voltada para requerentes de refúgio com pedido rejeitado é mal entendida por imigrantes que vivem na capital alemã.

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Cartaz da campanha na estação de trem Potsdamer PlatzFoto: DW/V. Esipov

Há cerca de uma semana, estava andando de metrô em Berlim quando me deparei com uma propaganda que me chamou a atenção: "Seu país. Seu futuro. Agora!", dizia em letras garrafais o cartaz, que estava na estação de trem Potsdamer Platz. Além do slogan, havia um texto numa língua estrangeira e, no rodapé, um endereço de um site que se chama "retornando da Alemanha".

Já tinha ouvido falar que a Alemanha tem um programa de ajuda para requerentes de refúgio que desejam retornar para seus países de origem, mas o que mais me incomodou foi ver a propaganda ali, num espaço de grande circulação de pessoas, com um slogan que soa como um "vá embora daqui agora", e a falta total de esclarecimentos sobre do que se trata.

É uma informação que pode ser importante para muitos e por isso deve ser divulgada. Porém, a iniciativa do Ministério do Interior alemão de fazer propaganda do programa em locais fora de contexto e com um texto que é quase uma afronta a estrangeiros que moram na Alemanha presta um desserviço.

Espalhados por diversas estações de metrô e trem de Berlim, os cartazes geraram indignação, principalmente entre os imigrantes que moram na cidade. Ainda mais vindos de um ministério comando por Horst Seehofer, da União Social Cristã (CSU), que já chegou a dizer que a "migração é mãe de todos os problemas" na Alemanha.

A propaganda peca ao apresentar um slogan de extremo mau gosto e ao não informar que o programa de retorno voluntário é destinado a requerentes de refúgio que tiveram seu pedido negado. O programa do governo alemão existe desde a década de 1970 e, além de financiar a passagem de volta, oferece uma ajuda de custo.

Diante da diminuição do número de solicitantes do retorno voluntário, passando de cerca de 29 mil de janeiro a outubro de 2017 para 14 mil no mesmo período deste ano, o governo teve a ideia de oferecer um bônus para quem solicitar o retorno até 31 de dezembro de 2018: uma grana extra para moradia. Por isso, resolveu lançar a nova propaganda, mas não imaginou que o slogan pudesse causar contradições.

Após reclamações, o ministério informou que está ciente do problema e disse ser muito difícil expressar de maneira curta esse tipo de oferta, destacando que o programa é para quem não mora na Alemanha regularmente.

Acredito que esse estímulo pode ser importante para muitos, principalmente para aqueles que gostariam de voltar para seus países, mas não têm condições financeiras para isso. Por isso, é importante divulgar esse tipo de informação, mas em locais adequados, como em departamentos ou órgãos governamentais que tratam de questões migratórias e atendem requerentes de refúgio, e não por toda a cidade, e sem especificar do que se trata, aparentando estar direcionada a todos os estrangeiros que moram aqui.

Em tempos crescentes de nacionalismo e também de resistência ao extremismo de direita, é óbvio que uma propaganda com esse slogan iria pegar mal.

Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.