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Bolsonaro confirma viagem a Moscou para se reunir com Putin

12 de fevereiro de 2022

Críticos afirmam que viagem é inoportuna e pode dar a impressão de que Brasil apoia a Rússia no conflito com a Ucrânia, justamente em um momento em que países do Ocidente tentam isolar Putin.

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Foto de Putin e Bolsonaro juntos.
Putin e Bolsonaro durante encontro em Brasília, em 2019Foto: picture-alliance/dpa/M. Metzel

Em meio à crescente tensão entre o Ocidente e a Rússia pelo temor de uma invasão à Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro confirmou neste sábado (12/02) que viajará a Moscou na próxima semana para se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin.

A viagem tem sido amplamente criticada pelo momento inoportuno em que ocorre, inclusive por aliados de Bolsonaro.

"Fui convidado pelo presidente Putin. O Brasil depende muito dos fertilizantes russos. Levaremos também um grupo de ministros para tratar de outros assuntos que interessam aos nossos países, como a energia, a defesa e a agricultura", disse Bolsonaro em entrevista à rádio Tupi, de Campos dos Goytacazes (RJ), conduzida pelo ex-governador carioca Anthony Garotinho.

"Pedimos a Deus que a paz reine no mundo para o bem de todos nós", acrescentou o presidente.

Bolsonaro deve embarcar para Moscou na noite de segunda-feira. Na terça-feira, ao chegar à Rússia, ele prometeu uma live em suas redes sociais. Na quarta-feira, tem encontro marcado com Putin e empresários locais. Depois, segue para a Hungria, onde deverá se encontrar com o primeiro-ministro, Viktor Orbán.

EUA criticam viagem

Os Estados Unidos pressionaram, sem sucesso, para que a viagem fosse cancelada. Segundo a Casa Branca, o momento da visita pode passar a mensagem de que o Brasil apoia a Rússia na questão da Ucrânia justamente quando países do Ocidente tentam isolar Putin e tentar uma solução diplomática para o conflito.

Alguns interlocutores afirmam que Bolsonaro decidiu manter a viagem para não dar a impressão de que é submisso aos americanos.

A pedido do governo russo - que esforça-se ao máximo para proteger Putin da covid-19, a exemplo da imensa mesa usada em seu encontro com Macron-, Bolsonaro reduziu o tamanho de sua comitiva.

Devem acompanhar o presidente os ministros das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, da Secretaria-Geral da Presidência, Eduardo Ramos, e da Defesa, Braga Netto. Membros do alto escalão das Forças Armadas também devem fazer parte do grupo, já que um dos temas a serem debatidos em Moscou será a cooperação na área de tecnologia militar. 

Relações com a Ucrânia

Na sexta-feira, três dias antes da viagem de Bolsonaro à Rússia, o Brasil comemorou os 30 anos de relações diplomáticas com a Ucrânia.

Para marcar a data, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota destacando que "desde que o governo brasileiro reconheceu a independência ucraniana, em dezembro de 1991, Brasil e Ucrânia mantiveram múltiplos contatos de alto nível entre seus mandatários".

A nota chamou atenção por ser publicada às vésperas da visita de Bolsonaro a Moscou em um momento de alta tensão, quando governos ocidentais pedem para que seus cidadãos deixem a Ucrânia o mais rapidamente possível e desaconselham viagens não essenciais ao país.

A companhia aérea holandesa KLM chegou a suspender as duas linhas diárias que mantém entre Amsterdã e Kiev, por tempo indeterminado, e informou que não sobrevoará mais o espaço aéreo ucraniano.

Em janeiro, ao falar a apoiadores sobre a viagem, Bolsonaro afirmou que o convite partiu de Putin. "Sabemos dos problemas que alguns países têm com a Rússia. Mas a Rússia é parceiro nosso. Essa é uma viagem que interessa a nós, e a eles também", disse na época.

Questionado por um apoiador se Putin seria conservador e "gente da gente", Bolsonaro respondeu que o presidente russo "é conservador, sim".

Ataque a qualquer momento

Nesta sexta-feira, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou que a Rússia está concentrando ainda mais tropas perto da Ucrânia, e uma invasão pode ocorrer a qualquer momento, talvez antes do fim dos Jogos de Inverno de Pequim, que terminam no dia 20 de fevereiro.

A atual crise entre Rússia e Ucrânia começou no fim do ano passado, com a concentração de dezenas de milhares de tropas russas e armamento pesado perto das fronteiras da Ucrânia. A movimentação aumenta os temores de que Mosocu planeje um ataque à Ucrânia, depois de ter anexado a península da Crimeia em 2014. No mesmo ano, separatistas pró-russos apoiados por Moscou iniciaram uma guerra contra Kiev na região oriental do Donbass, que já provocou cerca de 14.000 mortos e 1,5 milhões de desalojados, segundo a ONU.

 A Rússia nega qualquer intenção de invadir a Ucrânia, mas condiciona uma desacelerada da crise a exigências. Entre elas, está a garantia de que a Ucrânia nunca fará parte da Otan e o regresso das tropas aliadas nos países vizinhos às posições anteriores a 1997.

le (Lusa, ots)