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Ataque ao Kremlin foi encenado pela Rússia, dizem analistas

4 de maio de 2023

Instituto de pesquisa dos EUA lista indícios que sugerem que suposto atentado com drones contra Putin foi conduzido pelo próprio governo russo para fins de propaganda. Moscou acusou Washington de planejar o ataque.

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Imagem parece mostrar um objeto voador se aproximando do Kremlin e explodindo pouco antes de chegar a uma das cúpulas do edifício
Um vídeo que circula na internet parece mostrar um objeto voador se aproximando do Kremlin e explodindo pouco antes de chegar a uma das cúpulas do edifícioFoto: Ostorozhno Novosti/REUTERS

Analistas dos Estados Unidos afirmaram que o suposto ataque com drones visando atingir o Kremlin na quarta-feira (03/05) foi provavelmente encenado pela própria Rússia, como ato de propaganda a fim de mobilizar a população a favor da guerra na Ucrânia.

A conclusão é do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), um think tank apartidário com sede em Washington, após analisar as circunstâncias do incidente.

Segundo o grupo de analistas americano, "vários indicadores sugerem que o ataque foi conduzido internamente e propositalmente encenado". "A Rússia provavelmente encenou esse ataque em uma tentativa de trazer a guerra para o público doméstico russo e estabelecer condições para uma mobilização social mais ampla", escreveu o instituto.

Na quarta-feira, a Rússia acusou a Ucrânia de conduzir um "ataque terrorista planejado" contra a residência oficial de Vladimir Putin, numa suposta tentativa frustrada de assassinar o presidente russo – que não estava no Kremlin no momento do ataque.

Em comunicado, o gabinete presidencial russo disse que interceptou dois drones enviados para atacar o Kremlin e que, como "resultado de ações rápidas tomadas pelos militares e serviços especiais com o uso de sistemas militares de radar, os dispositivos foram neutralizados".

O Kremlin não forneceu evidências do incidente relatado, e a declaração com as acusações não incluiu detalhes sobre o suposto ataque. Também não houve explicação imediata para o motivo de ter levado mais de 12 horas para o suposto incidente ser informado ao público.

A Ucrânia negou ter qualquer envolvimento no caso. "Não atacamos Putin ou Moscou", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. "Apenas defendemos nossas aldeias e cidades."

Nesta quinta, o Kremlin chegou a acusar os Estados Unidos de terem planejado o ataque contra Putin. "As decisões sobre tais ataques não são tomadas em Kiev, mas em Washington", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. "Kiev só faz o que mandam fazer."

Analistas apontam indícios

Em um relatório após as acusações, o ISW observou que, recentemente, as autoridades russas tomaram medidas para aumentar as capacidades de defesa aérea doméstica, inclusive dentro da própria capital, Moscou. "Portanto, é extremamente improvável que dois drones possam ter penetrado várias camadas de defesa aérea e detonado ou sido abatidos bem no coração do Kremlin."

Segundo os analistas, imagens com geolocalização feitas em janeiro de 2023 mostram que as autoridades russas têm instalado unidades do sistema de mísseis Pantsir perto de Moscou a fim de criar círculos de defesa aérea ao redor da cidade.

"Um ataque que evitasse a detecção e destruição por tais meios de defesa aérea e conseguisse atingir um alvo tão importante quanto o Palácio do Senado do Kremlin seria um embaraço significativo para a Rússia", afirma o instituto americano. "A resposta imediata, coerente e coordenada do Kremlin ao incidente sugere que o ataque foi preparado internamente de tal forma que seus efeitos políticos pretendidos superam seu embaraço."

O ISW notou que, em outras "humilhações militares" não encenadas, como as quedas das cidades de Balakliya e Kherson, em setembro e novembro de 2022, o governo russo "fracassou notavelmente em gerar uma resposta informativa oportuna e coerente".

"Se o ataque com drones não tivesse sido encenado internamente, teria sido um evento surpresa. É muito provável que a resposta oficial russa inicialmente teria sido muito mais desorganizada, uma vez que as autoridades russas costumam penar para gerar uma narrativa coerente e compensar as implicações retóricas de um claro embaraço informativo", afirmou o think tank.

Feriado de 9 de maio

Os analistas mencionaram ainda a proximidade do Dia da Vitória, em 9 de maio, quando os russos comemoram a vitória do Exército Vermelho sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial.

"A apresentação rápida e coerente de uma narrativa oficial russa em torno do ataque sugere que a Rússia encenou esse incidente próximo ao feriado do Dia da Vitória de 9 de maio, a fim de enquadrar a guerra como existencial para seu público doméstico", disse o órgão.

"O Kremlin pode usar o ataque para justificar o cancelamento ou limitar ainda mais as comemorações de 9 de maio", completou o ISW, observando que tais cancelamentos provavelmente reforçariam a narrativa russa de que a guerra é uma ameaça direta à celebração de eventos históricos reverenciados no país.

Peskov, porta-voz do Kremlin, garantiu que o tradicional desfile militar ocorrerá conforme planejado na Praça Vermelha, em Moscou, na próxima terça-feira, embora com segurança reforçada. "O presidente [Putin] aparecerá como de costume", disse Peskov.

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, expressou preocupação com a possibilidade de a Rússia usar esse suposto ataque com drones "como uma desculpa para continuar sua escalada da guerra".

"O que nos preocupa é que isso possa ser usado para justificar o recrutamento de mais soldados e mais ataques à Ucrânia", afirmou Borrell, acrescentando que os países europeus devem continuar apoiando a Ucrânia militarmente, politicamente e economicamente até que a Rússia retire suas tropas do país vizinho.

ek (AFP, Efe, Lusa, Reuters, DPA, ots)