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Bauhaus em Berlim

20 de dezembro de 2009

Em proporção à relevância de seu acervo, Arquivo Bauhaus, existente há 30 anos em Berlim, é certamente discreto demais. Reinaugurado após período de reformas e reparos técnicos, o museu renova sua exposição permanente.

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Passarelas brancas ao lado do LandwehrkanalFoto: picture-alliance / KPA

A instituição que abriga a maior coleção de objetos e documentos da Bauhaus em todo o mundo não poderia ser mais silenciosa. O pequeno edifício branco, cuja silueta remete a uma arquitetura fabril estilizada, fica praticamente escondido por trás de árvores entre o Landwehrkanal e uma das pistas da avenida marginal de Berlim. O Arquivo-Museu Bauhaus é um dos principais endereços para pesquisadores interessados em investigar a trajetória da mais influente escola de arquitetura, design e arte do século 20.

Reinaugurado após um período de reformas de ordem técnica, que incluíram – entre outras coisas – a instalação de um sistema de climatização compatível com novos padrões de manutenção, o Arquivo Bauhaus renovou sua mostra permanente, a ser visitada ao longo de todo o próximo ano. À parte de 120 peças fundamentais do acervo atualmente emprestadas para o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a exposição que encerra a comemoração dos 90 anos de existência da Bauhaus destaca objetos clássicos do design moderno e maquetes arquitetônicas, além do espólio recém-adquirido do escultor Josef Hartwig.

Objetos como a "poltrona Wassily" ou a "luminária Bauhaus" já viraram marca registrada desse centro de reflexão sobre arquitetura, design e artes aplicadas que reuniu, entre 1919 e 1933, artistas tão relevantes como Walter Gropius, Johannes Itten, Paul Klee, Lyonel Feininger, Wassily Kandinsky, Josef Albers, Oskar Schlemmer, László Moholy-Nagy e Ludwig Mies van der Rohe.

Entretanto, a verdadeira singularidade das mostras do Arquivo Bauhaus é a vantagem de poder mostrar, ao lado de objetos e esboços desses mestres, o trabalho de seus alunos, em grande parte desconhecidos hoje. Essas exposições se entendem como um corte transversal da concepção e aprendizado de técnicas e do desenvolvimento de princípios estéticos que viriam a revolucionar a relação entre arte e sua manifestação no cotidiano das pessoas.

Patrimônio da Bauhaus em busca de abrigo

Uma outra singularidade desse discreto museu é ter sido concebido desde o início como arquivo, uma ideia impulsionada sobretudo pelo fundador da Bauhaus, Walter Gropius (1883-1969), que também acabou projetando o edifício da instituição. A criação do arquivo em 1960 veio em resposta a uma urgência histórica.

Afinal, ao ser fechada pelos nazistas em 1933, a Bauhaus sofreu a mesma diáspora que seus integrantes perseguidos pelo regime. Se, por um lado, essa dispersão serviu para propagar as ideias da escola em todo o mundo, por outro, requereu uma iniciativa historiográfica enérgica no sentido de resgatar seu patrimônio espalhado e reuni-lo em um centro de documentação: o Arquivo Bauhaus.

Em 1961, o arquivo começou a ser montado em um local significativo: a Mathildenhöhe, uma colina na cidade de Darmstadt que, na virada do século 19 para o 20, se tornara um dos principais centros de efervescência do Jugendstil, o art-nouveau áustrio-alemão. Com a ampliação do acervo, surgiu a necessidade de se construir um edifício próprio em Darmstadt, a ser projetado por Walter Gropius.

Apesar de o projeto ter sido realizado, a ideia foi rejeitada pelas autoridades locais. Posteriormente, a cidade de Berlim se dispôs a abrigar o arquivo, oferecendo como alternativa três terrenos para a construção do projeto de Gropius. O terreno escolhido, às margens do principal canal de Berlim, que flui ao sul do rio Spree, é absolutamente plano, ao contrário da área em declive para a qual Gropius havia concebido o edifício.

Em 1976, sete anos após a morte de Gropius, o edifício começou a ser construído após drásticas modificações requeridas pelo deslocamento do projeto de Darmstadt para Berlim. A inauguração ocorreu em 1979, 60 anos após a fundação da Bauhaus.

O alto preço da discrição

A discrição do Arquivo Bauhaus não se reduz apenas à sua pouca visibilidade na paisagem urbana berlinense. O principal mérito da instituição não é tão evidente à primeira vista: colocar à disposição de pesquisadores do mundo inteiro uma biblioteca especializada de 26 mil volumes sobre a história e a influência da Bauhaus, uma vasta coleção de manuscritos, cartas, desenhos, projetos e fotos, além de diversos espólios, inclusive o de Walter Gropius. Segundo o museu, suas exposições são visitadas sobretudo por turistas.

No atual contexto de um crescente interesse por eventos de arte espetaculares e exposições com grandes highlights, tanto por parte das instituições como por parte do público, um museu como o Arquivo Bauhaus certamente não é uma prioridade da política cultural.

Após mais de 15 anos sem obter nenhum aumento de orçamento, o Arquivo Bauhaus recebeu do governo de Berlim um incentivo suplementar de 230 mil euros para 2010. Essa verba certamente não poderá ser aplicada em projetos novos, pois servirá apenas para suprir algumas defasagens orçamentárias de anos.

Autora: Simone Lopes
Revisão: Augusto Valente