Apoio à Irmandade Muçulmana ameaça isolar Turquia no Oriente Médio
23 de agosto de 2013As críticas feitas em julho pelo primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, sobre o golpe militar no Egito e a forte repressão às manifestações de apoio ao presidente deposto Mohamed Morsi causaram confrontações diplomáticas entre Ancara e Cairo.
O Egito acusa o governo turco – dominado pelo partido conservador islâmico Justiça e Desenvolvimento (AKP) – de interferir em questões internas. Ancara ampliou seu apoio à Irmandade Muçulmana, acusando o governo interino egípcio de crimes contra a humanidade.
Outro sinal recente de que não anda bem a relação entre esses dois países estrategicamente importantes do mundo islâmico foi o fato de ambos haverem convocado seus embaixadores para deliberações.
O ex-ministro turco das Relações Exteriores Yasar Yakis, membro fundador do AKP, expressou preocupação com o futuro das relações entre os dois países. Yakis, que foi embaixador no Cairo, na década de 1990, afirmou que a continuidade dessas relações é decisiva para a Turquia continuar tendo algum poder de influência sobre os acontecimentos no Egito.
"Eu acredito que a Turquia estava certa em definir, desde o começo, a situação como um golpe e em condená-lo em nível internacional. Podem-se criticar as tendências antidemocráticas, mas não há necessidade de estar fundamentalmente em conflito com o atual regime egípcio", afirmou Yakis à DW.
Posição definida
Erdogan opõe-se abertamente aos novos dirigentes do Egito, os quais derrubaram seu antigo próximo, o ex-presidente Mohamed Morsi. Nos últimos dois anos, o governo de Erdogan apoiou Morsi e a Irmandade Muçulmana, não somente devido aos valores islâmicos comuns, mas também buscando ganhar influência política na região.
Com a queda de Morsi, Ancara vê essa influência se esvair. Na última terça-feira, Erdogan acusou tanto os países de cunho islâmico quanto o Ocidente de nada terem empreendido contra o golpe de Estado e a repressão sangrenta à Irmandade Muçulmana e a seus seguidores no Egito.
O primeiro-ministro chegou a afirmar que possui documentos comprovando que Israel teria influenciado os eventos no Egito. Com tais declarações, Erdogan irritou não somente os governos de Israel e do Egito, mas também dos Estados Unidos.
"Nós condenamos fortemente as afirmativas do primeiro-ministro Erdogan. Sugerir que Israel seja, de alguma maneira, responsável pelos acontecimentos mais recentes no Egito é ofensivo, sem fundamento e errado", diz o porta-voz da Casa Branca Josh Earnest.
Segundo o professor de Relações Internacionais Ihsan Dagi, da Middle East Technical University em Ancara, a política externa da Turquia é muito diversa da dos outros países da região. "Mesmo entre as nações muçulmanas, nenhuma tem uma posição semelhante, no que se refere ao Egito", escreveu Dagi em sua coluna no jornal Zaman. No entanto, a linha adotada pelo governo prejudica as relações da Turquia com outros países.
Problemas à vista
Para o especialista, o país deveria retomar a política que o ministro do Exterior Ahmet Davutoglu certa vez resumiu com a expressão "nada de problemas com os vizinhos", e que se concentra no diálogo e na cooperação. Mas, apesar das críticas, o governo turco não parece disposto mudar sua atitude.
A atual posição da Turquia no Oriente Médio não deve ser vista como "isolamento", mas sim como uma "preciosa solidão", postou no Twitter Ibrahim Kalin, principal assessor de Erdogan para assuntos de política externa. Uma solidão que, a seu ver, está associada à fidelidade aos princípios e à moral da Turquia,
No entanto, essa solidão tem o seu preço. O ex-ministro Yakis adverte que as próximas semanas serão difíceis para a Turquia: ele antecipa "sérias desavenças com os Estados do Golfo, os Estados Unidos e outros países do Ocidente".