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Apesar de restrições, pesquisa com células-tronco avança no Brasil

3 de novembro de 2012

Pesquisadora que trabalhou na elaboração da lei que regulamenta o uso de células embrionárias humanas explica quais são as limitações e avalia que, no futuro, células adultas bastarão para boa parte dos tratamentos.

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Foto: picture-alliance/dpa

O Futurando desta semana mostrou a parceria de pesquisadores alemães e israelenses na busca de caminhos para a produção de células-tronco em larga escala. As implicações éticas no uso de embriões humanos para a extração dessas células e o descarte do material não utilizado ainda são questões polêmicas.

Para saber mais como anda a pesquisa neste segmento no Brasil, a equipe do Futurando conversou com a coordenadora do Laboratório de Células-Tronco e Nanotecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Patrícia Pranke.

Fundadora do Instituto de Pesquisa com Células-Tronco do Rio Grande do Sul, ela é doutora em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS em parceria com o Laboratório de Células-Tronco do New York Blood Center, dos Estados Unidos. Pranke também fez pós-doutorado na Universidade Philipps de Marburg, na Alemanha, na área de uso de técnicas de nanotecnologia para a engenharia de tecidos. A farmacêutica bioquímica foi uma das pesquisadoras convidadas pelo governo brasileiro para assessorar a redação da lei que permite o uso de células-tronco embrionárias no país.

Existe uma regulamentação para a pesquisa com células-tronco no Brasil? Quais são as limitações?

A lei ficou dentro do que o mundo inteiro aprovou. Nossa lei restringe alguns pontos que países como a Austrália e a Inglaterra permitem, como a clonagem terapêutica. Não queremos a clonagem reprodutiva, mas a clonagem terapêutica é um procedimento diferente. De qualquer forma, a legislação brasileira não permite a clonagem terapêutica, mas permite o que a maioria dos países que trabalha com célula-tronco admite: usar embriões excedentes que foram produzidos para reprodução assistida. Os embriões que sobram, que não são transferidos para o útero materno, são congelados. Se a família não desejar uma nova gestação, esses embriões são doados para outros casais ou para a pesquisa. Nós entendemos que isso se compara à doação de órgãos: o material não será mais usado e obviamente vai perdendo a viabilidade com o passar dos anos, congelado. Então, o Brasil permitiu a pesquisa com células-tronco nesses embriões.

Que tipos de tratamentos com células-tronco já são oferecidos no Brasil?

Precisamos distinguir células-tronco embrionárias de células-tronco adultas. Pesquisas com células-tronco adultas envolvem células de organismos já formados. Por exemplo, as células-tronco da medula óssea, que são usadas há mais de 40 anos em transplantes de medula. É um tratamento consagrado para doenças hematológicas, como leucemia, linfoma, aplasia de medula. As outras fontes de células-tronco adultas seriam cordão umbilical e gordura de lipoaspiração, entre outras fontes. Já existem protocolos clínicos estabelecidos para o uso dessas células no tratamento de doenças não hematológicas, como doenças cardíacas, diabetes e doenças hepáticas. Porém, com células-tronco embrionárias humanas, precisamos de mais tempo.

Como essas células-tronco funcionam no corpo e por que são tão importantes na área médica?

Trata-se de uma célula que pode se transformar em qualquer célula do corpo, que permite regenerar qualquer tecido do nosso organismo que tenha sofrido uma lesão, tal como coração, músculo, osso, pele. É uma célula bastante potente e, justamente por isso, temos que esgotar todas as possibilidades e evitar que isso possa gerar um teratoma (espécie de tumor). Temos que estudar essas células de modo a garantir que elas cumpram a função que queremos e não vão para outro destino qualquer. Portanto ainda não é momento de usar essas células em pacientes. Ainda estamos na fase de pesquisa.

É possível prever em quanto tempo novos tratamentos, como terapias para lesões de medula, poderão ser feitos de forma segura?

Qualquer medicamento à venda na farmácia ficou de dez a 20 anos sendo estudado antes de ser liberado no mercado. Por que com as células-tronco seria diferente? É difícil fazer uma previsão. Já existem algumas doenças que estão sendo tratadas com células-tronco. Vai depender da doença. Em alguns casos, a célula-tronco adulta é o suficiente para o tratamento. Em outras, talvez os protocolos de tratamento com células-tronco adultas não estejam mostrando bons resultados, então se espera que a célula-tronco embrionária possa dar resultados melhores. Eu nem sei se no futuro, de fato, precisaremos usar células-tronco embrionárias humanas no tratamento de pacientes. Talvez não. Mas eu não tenho a menor dúvida que essas células embrionárias são fundamentais para que possamos estudá-las, nem que seja para usar melhor as células-tronco adultas.

No áudio abaixo, a doutora Patrícia Pranke fala um pouco mais sobre o processo de regulamentação do uso de células-tronco no Brasil e sobre o uso das células-tronco adultas.

Autora: Ivana Ebel
Revisão: Francis França

Para o Futurando - Entrevista com Patricia Pranke - celulas tronco - MP3-Mono