1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Trauma de guerra

DW/Agências (mb/ca)12 de fevereiro de 2009

Cerca de 2% dos soldados alemães que voltaram do Afeganistão sofrem de algum trauma. Parlamento alemão discute moção por um melhor apoio aos soldados traumatizados. Médicos sugerem melhor assistência.

https://p.dw.com/p/GsYw
Soldado alemão observa seu veículo destruído por atentadoFoto: AP

A luta corpo-a-corpo nas trincheiras, o fogo de artilharia durante horas e dias. Quem sobreviveu às batalhas da Primeira Guerra Mundial saiu marcado pelo resto de sua vida: ansiedade, depressão, agressividade. "Trauma de guerra" foi o nome dado aos graves sintomas dos que voltavam da frente de batalha e não conseguiam retornar à normalidade do dia-a-dia.

Hoje, existe outro conceito para denominar o trauma: Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Os sintomas, no entanto, continuaram os mesmos. Isso também acontece com soldados das Forças Armadas Alemãs (Bundeswehr) que voltam do Afeganistão e são, frequentemente, deixados à própria sorte.

Depois de a rede de TV pública ARD ter mostrado um filme sobre soldados traumatizados após missões internacionais, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), discute nesta quinta-feira (12/02) uma moção com vista a uma maior ajuda para soldados traumatizados.

Soldados presos em seu trauma

No bairro de Wandsbeck, em Hamburgo, está localizado o Hospital da Bundeswehr. Do lado de fora, o prédio não se difere de nenhuma outra grande clínica, mas na cabeça dos pacientes da unidade de Psiquiatria e Psicoterapia ocorre uma guerra sem fim. O diagnóstico: Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

Afghanistan Deutschland ISAF Soldat am Tatort Kabul Anschlag
Explosão matou três soldados alemães de um comboio no Afeganistão em 2007Foto: AP

O médico-chefe da unidade, Karl-Heinz Biesold, é um dos principais especialistas alemães em traumatoterapia. Segundo Biesold, o TEPT acontece quando as pessoas vivenciam algo que ultrapassa seu horizonte de experiências, ou seja, vêm à cabeça demasiadas sensações que não podem ser trabalhadas. Isso leva os traumatizados a ficarem presos em seu trauma e faz com que determinados estímulos sensoriais – barulho, cheiro, por exemplo – lembrem imagens dos dolorosos acontecimentos.

As emoções, então, não podem mais ser controladas, explicou o especialista. O corpo reage através de transpiração excessiva e insônia, a pessoa está sempre nervosa. Para evitar a causa dos sintomas, os traumatizados acabam se distanciando das pessoas, sofrem de profundas depressões, pensam em suicídio, desenvolvem vícios.

Fazendo do tema um tabu

Somente em Hamburgo, no ano passado, mais de 4.200 soldados estiveram em tratamento psicoterapêutico nas mãos de Biesold e sua equipe, com ou sem internação. Desses, 150 sofrem de TEPT.

Segundo o médico, no entanto, muitos soldados não têm coragem de pedir ajuda, fazendo do tema um tabu, pois, diferentemente de uma doença corporal, a doença mental é vista como um defeito, explicou.

Desde o fim dos anos de 1990, após muitos dos soldados que retornaram do Kosovo não terem conseguido trabalhar suas experiências de guerra, médicos de quatro hospitais da Bundeswehr se ocupam de psicotraumatologia. Muitos especialistas afirmam que, nesse campo, na Alemanha, a prevenção e a atenção posterior seriam exemplares.

Biesold reivindica, no entanto, que, com o aumento do número de missões internacionais, a capacidade dos hospitais da Bundeswehr deve ser ampliada.

Número crescente de soldados traumatizados

Entre as propostas da moção discutida pelo Bundestag, está a criação de um centro de pesquisa sobre transtornos de estresse pós-traumático. Além disso, deverá ser feito um estudo sobre os soldados com TEPT que não se apresentam para tratamento médico.

Elke Hoff, especialista do Partido Liberal Democrata saudou o fato de o tema ser agora "discutido publicamente". Segundo Hoff, é crescente o número de soldados traumatizados da Bundeswehr, devido ao agravamento da situação de segurança no Afeganistão. Hoff considera de grande importância o estabelecimento de centros anônimos de aconselhamento.

O ministro alemão da Defesa, Franz Josef Jung, afirmou que quadruplicou nos últimos dois anos o número de soldados da Bundeswehr traumatizados. Segundo o ministro, cerca de 2% dos soldados que retornaram da missão no Afeganistão sofrem de algum trauma.