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Alemães dos Sudetos: cicatrizes abertas da Segunda Guerra Mundial

Paulo Chagas31 de janeiro de 2002

Os alemães dos Sudetos, que foram expulsos da Tchecoslováquia após a Segunda Guerra Mundial, constituem um obstáculo à normalização das relações entre a República Tcheca e a Alemanha.

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Governador da Baviera exige desculpa do primeiro-ministro tchecoFoto: AP

Numa entrevista recente à revista austríaca Profil, o primeiro-ministro da República Tcheca, Milos Zeman, afirmou que os alemães dos Sudetos foram a "quinta coluna de Hitler" e responsabilizou-os pelo desmembramento da Tchecoslováquia. A reação alemã mais virulenta partiu do governador da Baviera, Edmund Stoiber (CSU), candidato da oposição ao cargo de chanceler nas eleições de setembro de 2002.

Stoiber acusou Zeman de estar propagando a tese de "culpa coletiva", responsabilizando os alemães dos Sudetos pelos crimes praticados pelos nazistas na ex-Tchecoslováquia, e exigiu que ele pedisse desculpas. O primeiro-ministro tcheco atenuou parcialmente suas acusações admitindo que houve alemães dos Sudetos contrários ao regime de Hitler, mas que uma "parte essencial" participou da destruição da Tchecoslováquia, em 1938. Ele, Zeman, não mencionou na sua entrevista o termo "culpa coletiva" e, por isso, não há por que pedir desculpar. Os fatos históricos falam por si, disse Zeman. "Não se pode pedir desculpas pela verdade."

Papel desatroso

– Na década de 30, 3,2 milhões de alemães viviam nas regiões do Sul e do Norte da Tchecoslováquia, sob o domínio tcheco. Adolf Hitler utilizou-os no seu plano para destruir a Tchecoslováquia. Conspirando com os líderes das comunidades alemãs, Hitler pressionou o governo tcheco e, nos Acordos de Munique de 1938, conseguiu que a Tchecoslováquia fosse dividida e que a região dos Sudetos fosse anexada à Alemanha.

Em 1939 as tropas nazistas marcharam sobre a Tchecoslováquia. O país, desmembrado nos protetorados da Boêmia e Morávia, foi degradado a uma colônia. Os nazistas sufocaram impiedosamente qualquer tentativa de resistência, como por exemplo na total aniquilação da aldeia de Lidice, em 1942, pelas tropas da SS.

A tese de uma "culpa coletiva" dos Sudetos é rejeitada pelo historiador Wolfgang Benz, diretor do Centro de Pesquisas sobre o Anti-Semitismo da Universidade Técnica de Berlim. "Houve alemães sudetos social-democratas, que emigraram para Londres", afirmou Benz.

A partir de 1945, os alemães dos Sudetos foram expulsos do território tcheco. Mais de 140 decretos do então ex-presidente da Tchecoslováquia, Edvard Benes, permitiram que eles fossem desapropriados sem receber qualquer indenização. Esses decretos estão em vigor até hoje.

Relações delicadas

– As atrocidades do regime nazista e a expulsão do sudetos são, ainda hoje, um obstáculo nas relações entre a República Tcheca, a Alemanha e a Áustria. Ao comentar as recentes declarações do primeiro-ministro Milan Zeman, o presidente tcheco, Vaclav Havel, disse que lhe faltou tato e sensibilidade num assunto tão delicado.

O deputado Paul Kisser, do Partido do Povo Austríaco (ÖVP), pediu à República Tcheca para suprimir os decretos da década de 40 que, segundo ele, constituem um empecilho para a admissão deste país na União Européia. Esses decretos, segundo Kisser, representam até hoje uma violação aos direitos humanos. É um problema que terá de ser resolvido, antes que a UE ratifique a admissão da República Tcheca.