Acampamento indígena em Brasília
Índios acampados em Brasília contam histórias de lutas e dificuldades, mas também de sucesso, como mestrados e pesquisas universitárias sobre problemas de povos indígenas.
Wasidi Xakriabá, Minas Gerais
Aos 19 anos, Wasidi, da etnia xakriabá, se junta aos membros mais velhos de sua aldeia para protestar em Brasília pela primeira vez. Desde criança, ela ouve sobre a morte do cacique em 1987, a mando de um grileiro de terras que foi preso à época, e da tentativa de assassinato de seu avô. "Nós, os jovens, temos que lutar pelos direitos indígenas", afirma.
Henrique Xukuru Ororuba, Pernambuco
A palha de coco seca dá formato ao chapéu que os indígenas xukuru chamam de barretina. Essa era uma marca registrada do cacique Xicão, assassinado há 20 anos depois de conflitos com fazendeiros da região de Pesqueira. A terra indígena, que abriga cerca de 12 mil moradores, é demarcada e tem diversas nascentes de água - o que aumenta a cobiça dos invasores.
Elaine e Marivane, Distrito Federal
As irmãs da etnia guajajara moram na aldeia Tekohaw, a pouco mais de 10 km do Congresso Nacional. Cerca de 30 famílias indígenas aguardam a demarcação da área, num impasse que já dura mais de dez anos. A área onde elas plantam mandioca, milho, produzem farinha, no setor Noroeste, é uma das regiões onde o metro quadrado em Brasília é dos mais caros.
Elza Xerente, Tocantins
Veterana no Acampamento Terra Livre, Elza Nāmnadi Xerente participa desde 2006. Na terra indígena onde vive, que abriga Floresta Amazônica e Cerrado, a pulverização aérea de agrotóxico nas fazendas vizinhas é um dos principais problemas. Apesar das dificuldades, ela se orgulha da filha, que está no primeiro ano de faculdade em Pedagogia.
Gilmara Munduruku, Pará
Após viajar três dias de ônibus, Gilmara e o filho Miguel, 3 anos, montaram acampamento em Brasília. Ela vem da aldeia Sawré Muybu, às margens do Tapajós. A área indígena já foi reconhecida pela Funai, mas não está oficialmente demarcada. O local também está no mapa de novas hidrelétricas na Amazônia. Em 2016, depois de uma campanha internacional movida pelos munduruku, o governo adiou os planos.
Vitória Tupinambá, Pará
Desde pequena, Vitória acompanha o pai, cacique, a encontros com lideranças pelo país. Na terra onde vive, a seis horas de barco de Santarém, desmatamento ilegal para roubo de madeira é uma preocupação. Com 17 anos, seu sonho é estudar medicina e combater o preconceito que indígenas sofrem. "Somos todos seres humanos, e cada povo tem sua forma de viver", diz.
Kotoqi Kamayurá, Mato Grosso
O cacique Kotoqi trouxe a família a Brasília para lutar contra o desmonte da Funai que, segundo ele, está dominada atualmente pelos interesses dos ruralistas. Morador do Xingu, ele diz que é tio de Lulu Kamayurá, criança retirada da aldeia e adotada pela ministra Damares Alves. Kotoqi diz que uma visita à sobrinha está marcada.
Adriana Fernandes Carajá, Minas Gerais
Da etnia pataxó, Adriana faz mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais e pesquisa a retirada compulsória de crianças guarani kaiowá no Mato Grosso do Sul por decisão judicial. Ela identificou um aumento de casos a partir de 2012. Mães são proibidas de ver os filhos, que perdem a cultura. Dados apontam que 60% das crianças em abrigos no estado são indígenas.
Gilza Ferreira de Souza, Paraná
Nascida e crescida na Terra indígena São Jerônimo, Gilza é kaingang e foi a primeira indígena a ser aprovada num mestrado na Universidade Estadual de Londrina. Ela estuda as mulheres awa guarani que vivem em regiões de conflito no oeste do Paraná. Segundo ela, os indígenas tentam retomar as terras tradicionalmente habitadas, atualmente ocupadas por produtores de soja e pecuaristas.