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A escolha do voto no exterior

8 de outubro de 2018

Mais de 25 mil brasileiros foram chamados às urnas na Alemanha. Em tempos de eleição, há quem diga que quem está fora não conhece mais o Brasil. Perguntei a conterrâneos em Berlim como eles escolheram seu candidato.

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Em Berlim, brasileiros votaram na Embaixada do Brasil
Em Berlim, brasileiros votaram na Embaixada do BrasilFoto: DW/C. Neher

Munida de informação e do meu título de eleitor fui à Embaixada do Brasil em Berlim neste domingo (07/10) para cumprir meu dever democrático. Eu era uma entre 25,3 mil brasileiros aptos a votar na Alemanha.

Em tempos de eleição e em momentos políticos conflitantes, costumo escutar que quem está no exterior não deveria ter o direito de opinar sobre o Brasil, pois não saberia mais o que acontece no país. Acho esse argumento vazio, afinal, conheço muitos brasileiros que moram fora e se mantêm muito bem informados sobre sua terra natal.

Não sou a única confrontada com esse tipo de argumento. Por isso, neste ano, aproveitei para perguntar a outros brasileiros que moram em Berlim e que não fazem parte do meu círculo de convivência como eles escolheram seus candidatos.

Conversei com conterrâneos que acabaram de chegar e votaram pela primeira vez no exterior e outros que moram longe há mais de 25 anos. Não me surpreendi com as respostas: apesar de estar longe, a maioria não deixou de acompanhar o que acontece no Brasil por meio de notícias e conversas com a família.

Para decidir o voto, a maioria buscou informações sobre os presidenciáveis na imprensa – tanto tradicional como independente, tanto nacional quanto internacional – e quase todos leram os planos de governo dos candidatos. Apenas um dos meus 12 entrevistados afirmou que escolheu o candidato com base em publicações do Facebook e do Whatsapp.

Uma das brasileiras com quem conversei e que está a mais tempo longe do Brasil foi Raquel Goldenstein, há 28 anos no exterior. Nascida no Rio de Janeiro, ela nunca perdeu uma eleição. Neste ano, além de ler os planos de governo, como costuma fazer, pesquisou a ficha dos candidatos.

"Vivemos na era da internet. Todos estão conectados. Não deixei de ser brasileira em nenhum dia dos últimos 28 anos. Além do mais, com minha família no Brasil, tenho que saber o que se passa lá", destaca.

Morando há 20 anos no exterior, Marcos Botelho, de Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, também considera importante votar e gostaria que brasileiros que não estão no país tivessem ainda a oportunidade de escolher os representantes no Congresso. Na escolha do seu candidato, acompanhou a campanha eleitoral e notícias publicadas na imprensa brasileira e estrangeira.

"Temos, com certeza, uma visão diferente por estarmos distantes fisicamente do Brasil. Mas nos dias atuais é possível ter acesso à informação e se manter informado", opina.

Já Flávia Brunner, de Presidente Prudente, em São Paulo, que está há quase 16 anos na Alemanha, acompanhou a campanha pela internet. Porém, ela contou que quando se mudou recebia vídeos com as propagandas eleitorais pelo correio, que haviam sido gravadas por sua mãe no Brasil.

"Continuo sendo tão brasileira quanto antes e me sinto na obrigação de contribuir para a democracia do país. Sofro com os problemas que temos e me alegro quando o povo vive um bom momento político e econômico", afirma.

A escolha do candidato não foi difícil para Heloisa Ujimori, de São Paulo. Morando há 12 anos em Berlim, ela acompanha diariamente as notícias do Brasil e costuma ir com frequência ao país, mesmo assim ela buscou os planos de governo e acompanhou os debates.

"Me entristece muito ouvir que não sei das coisas e não teria capacidade de discernir. A preocupação com o bem-estar da nação e dos nossos compatriotas ultrapassa qualquer barreira", acrescenta.

Para Thiago Barbosa, de Belo Horizonte, Minas Gerais, e que mora em Berlim desde 2011, essa foi a sua segunda eleição no exterior. Ele ressalta que, apesar do voto ser obrigatório, acha importante ir às urnas, pois a escolha do presidente afeta sua família e amigos.

"Além do mais, a pessoa que ocupar a Presidência influenciará diretamente minhas chances de voltar ou não para o Brasil: trabalho com ciência, que é um campo profissional que depende diretamente de decisões tomadas no âmbito do governo federal", argumenta.

Para Débora Nicola e Renan Uchôa, esta foi sua primeira eleição no exterior. Ambos moram há pouco mais de um ano em Berlim e para escolher o candidato, assim como tantos outros, leram planos de governo e buscaram informações sobre os presidenciáveis na imprensa.

Natural de Santo André, São Paulo, Nicola lembra que eleitores que residem em outros países não deixaram de ser brasileiros. "Não é porque escolhemos viver em outro país que não damos importância ao que acontece na nossa terra natal. Optamos por outras experiências, e cada um está aqui por motivos diferentes. Acho que no fim das contas acabamos acompanhando muito mais as notícias do que aqueles que nos acusam de não saber o que acontece no Brasil", afirma.

"Com o advento da internet e suas múltiplas plataformas de acesso à informação, podemos acompanhar tudo o que acontece em tempo real. Basta ter internet e terei o mesmo acesso a informação que qualquer outra pessoa que mora no Brasil", acrescenta Uchôa, de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul.

Vivemos num mundo globalizado, e a internet democratizou o acesso à informação. Mesmo estando longe, é possível ter contato diário com familiares e amigos que continuam no Brasil, acompanhar o noticiário local pela imprensa, assistir a programas e ouvir as músicas do momento, ou seja, estar sempre atualizado com os debates que estão ocorrendo na sociedade.

Estar em outro país não significa estar num universo paralelo e alienado, fora da realidade brasileira. Nós que estamos no exterior adquirimos, talvez, outros parâmetros e outras formas de ver e perceber alguns problemas locais.

Dizer que quem está longe não sabe discernir ou não conhece mais os problemas e a realidade do Brasil, parece-me muitas vezes uma tentativa de desfazer uma opinião que costuma ser diferente da do propagador desse tipo de argumento.

Clarissa Neher trabalha como jornalista freelancer para a DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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