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Estado de DireitoAlemanha

A cena de extrema esquerda na Alemanha

2 de junho de 2023

Agência de inteligência interna alemã vê "alto nível de radicalização" na esquerda. O exemplo da estudante Lina E., condenada à prisão nesta semana, parece confirmar essa avaliação.

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Faixas em apoio a Lina E. penduradas na fachada de edifício de Leipzig
Faixas convocam manifestações de apoio a Lina E., condenada à prisão por agredir neonazistas Foto: Sebastian Willnow/dpa/picture-alliance

Lesões corporais graves e envolvimento em organização criminosa – por essas acusações, a estudante Lina E., de 28 anos, foi condenada a cinco anos e três meses de prisão por um tribunal da cidade alemã de Dresden nesta quarta-feira (31/06). Outros três cúmplices receberam sentenças de cerca de três anos. As vítimas agredidas eram extremistas de direita.

O juiz que os condenou, Hans Schlüter-Staats, citou em sua sentença o ataque a um suposto neonazista, que foi severamente espancado e "ficou com cicatrizes para sempre" por causa de um boné com um logotipo da extrema direita. Esse ato mostra até que ponto a militância antifascista pode chegar.

O que o Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV), o órgão de inteligência interna alemão, escreveu em seu relatório de 2022 sobre o extremismo de esquerda na Alemanha se aplica bem a esse caso. O potencial de perigo continua "alto". O número de extremistas de esquerda orientados para a violência aumentou de cerca de 700 para 10.300. "Os atos de violência são realizados de forma planejada e direcionada por pequenos grupos, que agem de forma conspiratória e profissional."

De acordo com o BfV, o alvo da violência é "sobretudo a polícia e os extremistas de direita identificados como tal, mas também empresas, especialmente do setor imobiliário, continuam a ser alvo". Além disso, alguns desses extremistas tentam influenciar os protestos sobre as políticas climáticas.

Do ponto de vista puramente estatístico, no entanto, o extremismo de esquerda está em declínio acentuado, pelo menos quando se considera os crimes registrados. De 2022 para o 2021, houve uma queda de 31% no número de crimes com motivação política de esquerda.

No entanto, eles se referem principalmente a delitos de propaganda e danos à propriedade. O número de lesões corporais registradas caiu apenas 9%, de 438 para 399. Nesse ponto, a tendência é oposta no extremismo de direita: aumento de mais de 16%, de 869 para 1013 no período.

Preocupação no Departamento Federal de Investigações

O presidente do Departamento Federal de Investigações (BKA), Holger Münch, leva esses desenvolvimentos a sério: "Eles são direcionados contra nossa ordem básica democrática e livre e colocam em risco nossa paz social". Ele refere-se, em particular, ao extremismo de direita e aos crimes de ódio, amplamente difundidos na internet.

Mas o BfV também atesta um "alto nível de radicalização" do extremismo de esquerda voltado à violência. A disposição de usar a violência é tão pronunciada em alguns membros dessa cena "que eles se separam do resto do espectro orientado para a violência e cometem seus próprios atos, meticulosamente planejados e muitas vezes extremamente brutais, em pequenos grupos".

As cidades de Berlim, Hamburgo e Leipzig são descritas como locais críticos. Lina E., que foi condenada à prisão, é natural de Leipzig. A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, comentou a decisão do juiz: "Não devemos permitir que essa espiral de radicalização e violência continue." Aparentemente, os limites de inibição foram reduzidos, suspeita a política social-democrata.

Dois veículos da polícia desbloqueiam rua onde há tentativa de barricada.
Símbolo do extremismo de esquerda em Berlim: frequentemente há confrontos perto de um prédio ocupado na Rigaer StraßeFoto: Andreas Rabenstein/dpa/picture alliance

As sentenças contra Lina E. e seus cúmplices tiveram grande repercussão no cenário extremista de esquerda, segundo Faeser. Portanto, as autoridades de segurança "ficariam de olho neles", e estavam tomando medidas tão decisivas contra o extremismo de esquerda como contra o extremismo de direita ou o terrorismo islâmico.

Sem motivo para baixar a guarda

Embora o número de crimes e de violência de extremistas de esquerda tenha diminuído no último ano, o BfV não vê motivo para baixar a guarda: depois do forte aumento nos anos anteriores, isso deve ser visto como uma "estabilização em um nível alto".

O chefe do órgão, Thomas Haldenwang, vê o caso de Lina E. como parte de um fenômeno de longo prazo: "Se a espiral de radicalização continuar e os atos se tornarem cada vez mais brutais e desenfreados, ficaremos mais próximos do momento em que devemos falar também de terrorismo de esquerda", diz uma declaração dele na página do BfV.

O aumento da frequência dos protestos sobre a política climática está no radar das autoridades de segurança há algum tempo. Os extremistas de esquerda tentam justificar seu método de ação, incluindo a prática de atos criminosos e violentos, como um meio legítimo na batalha política para influenciar o debate, diz o relatório do BfV.

Para onde vai o Letzte Generation?

A desobediência civil foi reinterpretada, e a resistência deliberada e às vezes violenta foi equiparada aos movimentos de direitos humanos e civis que protestam de forma não violenta contra a injustiça. No entanto, quando essa análise era feita, não havia bloqueios de rua sistemáticos na Alemanha pelo grupo ambientalista que se autodenomina Letzte Generation (última geração).

Desde então, são presos cada vez mais membros do grupo, que colam suas mãos nas ruas e avenidas, paralisando o tráfego. Em maio, foram realizadas operações policiais em todo o país dentro de uma investigação sobre suspeita de apoio a organização criminosa. As ações das autoridades de segurança provocaram um debate acalorado sobre a sua proporcionalidade.

Antes de ter chegado a esse ponto, o cientista político e pesquisador de extremismo Armin Pfahl-Traughber defendeu os ativistas do Letzte Generation contra a acusação de extremismo de esquerda em um podcast do Centro Federal sobre Militância de Esquerda. "Eles se deixam ser presos pela polícia. Eles não resistem a isso. Eles não usam violência contra policiais", disse.

Todas essas são características distintas em comparação com as ações dos extremistas de esquerda. No entanto, Pfahl-Traughber não quer legitimar as ações. Ele as considera "estrategicamente equivocadas" por causa do descontentamento generalizado entre a população. E se preocupa com outros desdobramentos: "Se houver grandes experiências de frustração no movimento climático, um pequeno grupo poderá se radicalizar cada vez mais."

Marcel Fürstenau
Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.