A caatinga selvagem no semiárido baiano
Boqueirão do Onça reúne desde pintura rupestre e animais selvagens até energia eólica e agricultura irrigada no norte da Bahia.
Só existe no Brasil
Maior área de caatinga selvagem do país, a região do Boqueirão do Onça tem o tamanho de cerca de 800 mil campos de futebol. A topografia e tipo de solo permitem que a água, escassa no semiárido, se acumule em alguns pontos e garanta o abastecimento por mais tempo. Quando chove, a caatinga, “mata branca”, fica tomada pelo verde.
Arte rupestre
Nos paredões de rocha próximos à comunidade Queixo D’Antas, inscrições deixadas por antigos moradores ainda precisam ser desvendadas pela ciência. O acesso até o sítio arqueológico é livre, mas é difícil chegar sem um guia local. Estima-se que as inscrições tenham sido feitas há 10 mil anos.
Onça em perigo
No último ano, a bióloga Cláudia Bueno de Campo, coordenadora do Programa Amigos da Onça, recolheu seis onças mortas na região: duas pintadas e quatro pardas. Elas foram abatidas por armas de fogo usadas por moradores locais, onde a cultura da caça ainda é forte. Atuação do Instituto Pró-Carnívoros na região tenta diminuir os conflitos.
Vida selvagem
Uma cobra caninana cruza a estrada na área que pode virar uma unidade de conservação. A espécie não é venenosa, mas os moradores contam que a picada é muito dolorida. Nessa faixa de caatinga selvagem vivem ainda veados, raposas, araras vermelhas e azuis, tatu-bola, tamanduá bandeira, entre outros.
Vida de sertanejo
Nas proximidades da unidade de conservação proposta, seu Cláudio e dona Nininha plantam abacaxi, feijão, milho e mandioca na comunidade Cercadinho. Eles fabricam farinha, tiram óleo do licuri - um tipo de palmeira -, vivem sem energia elétrica e precisam trazer toda a água que usam do povoado mais próximo, Gameleira, que fica a 3 horas de jegue.
Livre, mas identificados
Nas estradas de terra que circundam o Boqueirão da Onça, é normal cruzar com cabras e bodes soltos. A criação de caprinos é a mais comum entre as famílias que vivem no semiárido do Nordeste, marcado por longos períodos de estiagem. Cada animal recebe uma pequena marca na orelha para que sejam reconhecidos pelos proprietários.
História de seca e abandono
Entre os povoados rurais dessa região no norte da Bahia, não é difícil avistar casas abandonadas. A seca extrema dos últimos anos no semiárido fez com que açudes e poços secassem. A falta de água levou funcionários de uma antiga fazenda que cultivava frutas no local a deixarem as terras (foto), a cerca de 100 km de Juazeiro.
Agricultura irrigada
A colheita de tomate mobiliza toda a família nessa pequena propriedade rural, no município de Campo Formoso, Bahia, na região do Boqueirão da Onça. Faz quatro meses que o produtor conseguiu furar um poço para manter a plantação irrigada. “Sem irrigação é muito difícil. As chuvas não são mais como antes”, disse o produtor.
Energia eólica
A região do Boqueirão da Onça foi recentemente descoberta pela indústria de energia eólica. O potencial dos ventos que sopram no alto das serras atraiu diversas empresas internacionais. Segundo o governo do estado da Bahia, as negociações para criação de uma unidade de conservação na região tentam conciliar todos esses interesses.