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SociedadeAlemanha

Ucranianos na Alemanha: "Este vai ser um Natal sem paz"

Ariana Miranda
22 de dezembro de 2022

Apesar dos efeitos da guerra na Ucrânia, a tradição do Natal continua para os alemães, enquanto os refugiados ucranianos a viver na Alemanha tentam adaptar-se. Os desejos são de muita paz e de um ano novo de recuperação.

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Ukraine | Weihnachtsbaum in Mykolajiw
Foto: Mykolaiv City Council

O Natal aproxima-se. E na Alemanha vai ser um Natal completamente diferente. Os preços aumentaram, há uma guerra não muito longe - à porta da Europa - e muitos refugiados ucranianos que vivem cá esperam melhores dias.

De um lado, um cenário festivo agradável aos olhos, artigos e iguarias para todos os gostos e bolsos. Mas são os bolsos que mais se queixam da especulação. Até os alemães que levam muito a sério a festa de Natal admitem que este ano tiveram de fazer poupanças.

Do outro lado, um elemento com o qual não se contava no Natal passado: refugiados de guerra da vizinha Ucrânia. Desde o início da guerra, em fevereiro, só a capital alemã já acolheu cerca de 90 mil refugiados ucranianos, e mais refugiados deverão chegar ainda durante o inverno. 

Para estes, também o Natal este ano não vai ter tanto brilho.

Mercado de Natal de Bona
Mercado de Natal de BonaFoto: Oliver Berg/dpa/picture alliance

A tradição vale mais do que o euro

Uma sandes de carne de porco custa cerca de 3 euros no "Weihnachtsmarkt" de Bona, o mercado de Natal da cidade. Muitos alemães aproveitam ainda o famoso "Glühwein", vinho quente, para acompanhar as diversas iguarias servidas nas barraquinhas instaldas no centro da antiga capitral da Alemanha, todas decoradas a rigor.

Mas até aqui se sentem os efeitos da guerra na Ucrânia. Eva Hoffmann diz que fazer compras de Natal nunca foi tão difícil.

"A batata, a salsicha e o vinho não podem faltar. O alemão dá muita importância ao Natal, é uma festa de fartura e as donas de casa pensam sempre na família reunida. Mas este ano o preço dos produtos está mais caro. Nem toda a gente vai ter esse poder de compra", conta esta habitante de Bona.

Na época natalícia, o centro da cidade transforma-se num grande mercado, com uma diversidade de produtores e produtos que vão desde a gastronomia, arte e artesanato, música, artigos de decoração, até peças de vestuário típicos do inverno, o que é já tradição.

A novidade são os preços e a queixa do poder de compra. Os feirantes dizem que sim, entra um dinheiro extra, mas nem sempre vai compensar os custos da produção e estadia durante os dias da feira.

Abdoul Mahelet, emigrante e comerciante oriundo da Etiópia, queixa-se que o movimento na loja está razoável, mas nada que se compare a anos anteriores. Diz que a carne de porco é o que mais sai e que está à espera de um carregamento da Etiópia com frutos secos para repor o stock.

"O movimento está bom, mas as pessoas queixam-se do preço. Compram porque Natal é Natal, mas espero que o Ano Novo seja de recuperação económica", relata à DW.

Uma vitória contra a guerra

"Este vai ser um Natal sem paz"

Não são só os alemães e os imigrantes que vão passar um Natal diferente este ano, também os refugiados ucranianos, longe da família, e com a incerteza de quando haverá paz.

Anna e sua família encontram-se abrigadas num centro para refugiados em Bona. Os filhos Nayeel e Zoei brincam no pátio e fazem bonecos de neve, mas dizem que queriam estar em casa e perto dos seus amigos.

"Já fiz alguns amigos aqui, mas a escola é complicada, não falamos a mesma língua. Eles tratam.nos bem, deram-nos livros e brinquedos", conta Nayeel.

"Eu gosto daqui, jogamos à bola e brincamos com a neve. Mas sinto saudades do meu pai.", acrescenta Zoei.

O pai continua na Ucrânia e Anna tenta mostrar alguma coragem. Diz que não sabe quando vão voltar para o seu país. Até que chegue esse dia, tenta construir um novo lar para a família no campo de refugiados.

"O meu marido aconselhou-me a fugir com as crianças, primeiro para a Polónia, mas depois conseguimos vir para a Alemanha. Aqui tentamos recomeçar, não é fácil. O Natal na Ucrânia costuma ser aconchegante, perto da família. Aqui tentamos ouvir a nossa música, fazer a nossa comida e temos esperança em dias melhores", diz.

É o que todos esperam: dias melhores, um Feliz Natal e um próspero Ano Novo.