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CriminalidadeMoçambique

Moçambique: O crime de rapto compensa?

28 de dezembro de 2022

A impunidade dos criminosos está a compensar os raptos e assassínios de empresários em Moçambique, afirmam analistas. E perguntam até que ponto a própria polícia do país estará envolvida nos crimes.

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Polícia Maputo
A onda de raptos abalou a confiança nas forças de ordem de Moçambique Foto: GRANT NEUENBURG/REUTERS

O Serviço Nacional de Investigação Criminal, SERNIC, anunciou, na terça-feira (27/12), a detenção de um indivíduo suspeito de ter assassinado o empresário Halyumm Alimomad.

O SERNIC avança que ainda não foram apuradas as causas exatas da morte do empresário Halyumm Alimomad, raptado há mais de uma semana em Maputo, e encontrado morto no bairro de Tchumene, a norte da cidade da Matola, capital da província de Maputo.

O porta-voz do SERNIC, Serviço Nacional de Investigação Criminal, Leonardo Simbine, que anunciou a detenção, realçou o rápido trabalho da polícia.

"Desde o primeiro momento que tivemos conhecimento deste crime, desdobrámo-nos no terreno em busca dos perpetradores", salientou Simbine, acrescentando: "O SERNIC … tudo tem feito para resolver esta problemática de crimes de rapto".

Impunidade para os autores dos raptos

A opinião não é partilhada pelo analista político Wilker Dias, que explica assim o aumento deste tipo de crime no país: "A indústria de raptos em Moçambique acaba tendo as suas compensações e sem perseguições. Digo isto porque já estamos há anos a conviver com este fenómeno de raptos e sem nenhuma solução à vista", disse Dias à DW África. 

Dois detidos em Manica
Os detidos são muitas vezes pessoas inocentes ou só perifericamente envolvidas nos raptos, dizem analistasFoto: Bernardo Chicotimba/DW

Segundo o SERNIC, dos 13 crimes de rapto ocorridos, nove foram esclarecidos e resultaram em 33 detenções. Wilker Dias entende que, muitas vezes os detidos são pessoas só indiretamente envolvidas nos crimes, talvez por estarem presentes no local do cativeiro ou serem vítimas de perseguições.

"São intermediários, ou são donos das casas, ou pessoas que cuidavam dos reféns. Mas em nenhum momento encontramos os que são os verdadeiros mandantes destes crimes", disse Dias.

A polícia estará envolvida?

A situação desespera os empresários, principais alvos dos raptos em Moçambique. O vice-presidente da CTA, Confederação das Associações Económicas, Vasco Manhiça, condenou o crime e pediu "às autoridades que medidas enérgicas sejam tomadas para parar com estes atos macabros que minam o nosso ambiente de negócios".

O analista Wilker Dias diz que não há nem vontade, nem esforço visível das autoridades para apanhar os perpetradores. "É um tipo de crime que é possível combater, está ao nosso alcance", afirma.

A criação de uma brigada anti-raptos, anunciada pelo Presidente Filipe Nyusi em dezembro de 2020, poderia ser parte da solução, diz ainda Dias. Mas não basta. É preciso igualmente reformar as forças de segurança: "Sentimos alguns polícias envolvidos", diz o analista, salientando as riquezas "astronómicas" de que usufruem "alguns funcionários afetos a essa área". São riquezas que não "condizem com o que são os seus rendimentos e nem existem negócios que possam justificar esse tipo de fortuna", explica, para rematar: "Mas não é feito nada".