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Eleitores registam-se num lado, mas terão de votar noutro

Nelson Camuto (Malanje)
30 de maio de 2022

Alguns eleitores angolanos da província de Malanje queixam-se que foram retirados das suas zonas de voto para outras áreas. Segundo a UNITA, há mais de mil pessoas nesta condição na província. Advogado denuncia "fraude".

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Eleições em Angola em 2012
(Foto de arquivo)Foto: DW

São vários os eleitores a reclamarem que, no processo de registo eleitoral, foram deslocados para zonas de voto fora da sede provincial de Malanje, onde residem. Nelson Kixixi, de 30 anos, é um deles.

Eleitor angolano, Nelson Kifixi
Eleitor angolano, Nelson KifixiFoto: Nelson Camuto/DW

"Calhei no município do Massango. Acho que o que este Governo do MPLA está a fazer contra nós é muito vergonhoso. Não quer alternância. A maneira dele de se perpetuar no poder é mesmo desviar o voto da juventude."

Ainda assim, Kixixi garante que não abdicará do seu direito de voto nas eleições gerais de agosto, estando disposto a perder o dinheiro da passagem e percorrer mais de 300 quilómetros de Malanje até ao município de Massango. 

Outro eleitor é Pedro Diogo, que vota pela terceira vez. Quando atualizou os seus dados, tudo apontava que votaria numa escola no bairro da Maxinde. Mas Diogo terá mesmo de percorrer cerca de 150 quilómetros para votar, porque os seus dados foram deslocados de Malanje para o município de Caculama. Este eleitor pergunta-se todos os dias sobre o novo drama causado pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) aos eleitores.

Eleitor angolano, Pedro Diogo
Eleitor angolano, Pedro DiogoFoto: Nelson Camuto/DW

"Eu fui lá diretamente ao BUAP [Balcão Único de Atendimento Público] para ter mais informações e me disseram que, se for possível, devo mesmo votar no município de Caculama, não mais aqui no município sede. Isto me complicou muito. Como é que eu vou votar noutro município sabendo que eu fiz cadastramento para o município sede?", questiona.

Um problema antigo?

O advogado Carlos Lucas denuncia que o episódio de deslocamento de eleitores das suas zonas de voto é um problema antigo.

"Nos pleitos eleitorais de 2017 e 2012 houve deslocamento de cidadãos eleitores, fundamentalmente jovens, que não puderam exercer o seu direito de voto, sendo de facto uma abstenção induzida. Isso não tem outro nome se não mesmo fraude", acusa.

Advogado angolano Carlos Lucas
Advogado angolano Carlos LucasFoto: Nelson Camuto/DW

O secretário provincial da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) em Malanje, Mardanês Kalunga, afirma que o partido vai se mobilizar para estancar a "estratégia" do Governo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Segundo Kalunga, só na província, o número de eleitores deslocados das suas áreas de voto "ultrapassa os mil". O homem forte do "Galo Negro" diz que "é uma deslocação maciça dos eleitores das suas áreas."

Por seu turno, o diretor do Registo Eleitoral na província, Lando Pacheco, refere que, até agora, há registo apenas de 41 reclamações de eleitores devido a problemas na data de nascimento, morada, nome e outros.

"A UNITA gosta de levantar problemas que não existem. É má-fé do partido. Todo aquele que passar por nós, vamos fazer registo, a UNITA não pode aparecer com estes números", defendeu.

O ministro angolano da Administração do Território e Reforma de Estado, Marcy Lopes, assegurou recentemente que não houve irregularidades no registo eleitoral oficioso: "O processo é público, é livre, é transparente, é idóneo, é credível". 

Registo eleitoral: "Angola não aprende com os erros"