Luísa Pedro Damião, deputada do partido pelo círculo eleitoral nacional desde 2012, substitui no cargo João Lourenço, eleito novo presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Damião foi a mais votada na corrida com Carolina Cerqueira.
A nova vice-presidente do MPLA preside atualmente ao Grupo de Mulheres Parlamentares angolano.
Luísa Pedro Francisco Damião já foi secretária nacional para a Informação e Novas Tecnologias da Organização das Mulheres Angolanas (OMA), e é mestre em Ciências da Comunicação, tendo já trabalhado como jornalista, psicopedagoga e comunicóloga.
João Lourenço
De 2002 a 2007, foi conselheira de imprensa da Embaixada de Angola em Cuba e, entre 2007 e 2009, foi diretora de informação da Agência Angola Press (ANGOP), tendo, posteriormente, sido administradora para a área da Informação.
Já Álvaro de Boavida Neto, primeiro secretário e governador da província angolana do Bié, que concorreu com Ernesto Muangala, primeiro secretário do partido na província da Lunda Norte, substituiu no cargo António Paulo Kassoma.
Boavida Neto, natural de Huambo já desempenhou as funções de governador da província do Namibe.
A primeira reunião do Bureau Político está agendada para segunda-feira (10.09), para a eleição do novo secretariado de um dos principais órgãos da direção do partido.
João Lourenço foi eleito presidente do MPLA, durante o sexto congresso extraordinário, com uma votação de 98,58%.
O novo líder do MPLA, que substituiu no cargo José Eduardo dos Santos, após 38 anos à frente da liderança do partido, defendeu que as mulheres e jovens "estejam melhor representados [no partido] para contribuírem para o diagnóstico e para a resolução dos assuntos que mais afetam estas duas importantes franjas da sociedade angolana".
Nova equipa
Numa intervenção na reunião do Comité Central, João Lourenço felicitou os novos vice-presidente e secretário-geral do partido, pela eleição, bem como os membros eleitos para o Bureau Político e a Comissão de Disciplina e Auditoria.
Segundo João Lourenço, a nova lista do Bureau Político não foi ainda divulgada, por apresentar algumas imprecisões nos nomes, além da necessidade de se dar uma outra ordem à lista, em que a vice-presidente do partido e o secretário-geral devem ocupar a segunda e terceira posições.
João Lourenço frisou que é com esta equipa que pretende "jogar daqui para a frente".
"Acredito que vou encontrar a correspondência que espero, sobretudo trabalho e dedicação. Este é o critério principal que conta para mim. Mãos à obra. Temos muito trabalho pela frente", concluiu.
Raul Danda
UNITA espera práticas concretas
O vice-presidente da UNITA, Raul Danda, considerou que o discurso de encerramento do novo líder do MPLA no VI Congresso Extraordinário foi "bastante arrojado e corajoso", mas salientou que falta ver como tudo se passará na prática.
Em declarações à agência Lusa, Raul Danda, presente como convidado na sessão de encerramento do conclave do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), salientou que a intervenção de João Lourenço foi "positiva", sobretudo por abrir as portas ao diálogo entre as forças políticas e a sociedade.
"Vimos o Presidente João Lourenço bastante arrojado, corajoso naquilo que são as suas ideias, e vamos esperar que as coisas se traduzam na prática. Uma coisa é ler uma folha de papel em que se lê um discurso, e outra coisa é a prática, e só os próximos tempos vão poder demonstrar que temos uma liderança que faz diferente do que vinha sendo feito até agora", sublinhou à Lusa o vice-presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição.
Na intervenção que encerrou o congresso, o novo líder do MPLA, João Lourenço, também Presidente da República, reiterou o combate à corrupção, nepotismo e bajulação em Angola, que declarou como "inimigos públicos número um", elogiando o líder cessante, José Eduardo dos Santos.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Engenheiro petroquímico
Em 1961, aos 19 anos, José Eduardo dos Santos junta-se ao MPLA, o Movimento Popular de Libertação de Angola, que luta contra o colonialismo português. Em 1963, é enviado com uma bolsa de estudos para a União Soviética, onde frequenta um curso de Engenharia Petroquímica em Baku, capital do atual Azerbaijão. Dos Santos também tem aulas de comunicação militar e regressa a Angola em 1970.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Antecessor Agostinho Neto
Angola torna-se independente em 1975 e mergulha diretamente numa guerra civil entre os três movimentos de independência: MPLA, UNITA e FNLA. A capital Luanda é controlada pelo MPLA. O seu líder Agostinho Neto assume a Presidência do país e instala um regime monopartidário de inspiração marxista. Dos Santos assume vários ministérios, incluindo os Negócios Estrangeiros e Planeamento Nacional.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Aliança com países comunistas
Depois da morte de Neto a 10 de setembro de 1979, em Moscovo, dos Santos é eleito a 20 de setembro pelo MPLA como novo Presidente. Consolida a aliança entre Angola e os países do bloco comunista como a União Soviética e a República Democrática da Alemanha (RDA). Em 1981, dos Santos visita a RDA e é recebido pelo secretário-geral do Partido Socialista Unificado da Alemanha, Erich Honecker (à esq.).
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Mundo dividido
Durante a visita à RDA em 1981, dos Santos passa pelo Muro de Berlim, na Porta de Brandemburgo, símbolo da "Guerra Fria" e da separação do mundo em dois blocos. Angola é um dos países onde o confronto entre os blocos comunistas e liberais se transforma numa "Guerra Quente". Os países comunistas querem evitar uma vitória da UNITA, apoiada pela África do Sul e pelos Estados Unidos da América.
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Soldados cubanos
Em apoio militar ao Governo do MPLA, Cuba envia soldados a Angola. Os 40 mil soldados cubanos têm um papel decisivo para travar o avanço das tropas da UNITA e da África do Sul. Na foto: Soldados cubanos em Cuito Canavale no ano de 1988, uma das maiores batalhas da guerra civil. Três anos mais tarde, é assinado um primeiro acordo de paz na localidade de Bicesse, no Estoril, em Portugal.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Mais guerra apesar de acordo de paz
As primeiras eleições de Angola tiveram lugar em 1992. O MPLA obteve maioria absoluta no Parlamento, mas dos Santos não conseguiu maioria absoluta na primeira volta das presidenciais. A UNITA e o seu candidato, Jonas Savimbi, não reconheceram os resultados por alegada fraude eleitoral. A segunda volta não teve lugar, pois a guerra recomeçou. Na foto: Soldados governamentais reconquistam Dondo.
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MPLA ganha terreno
Os EUA reconhecem o Governo do MPLA em 1993. O Ocidente perde o interesse na guerra civil em Angola após a queda do muro de Berlim. E, com o fim do apartheid, o regime de segregação racial na África do Sul, a UNITA perde outro aliado e fica cada vez mais isolada. O MPLA abandona a retórica comunista e torna-se capitalista, e as riquezas do petróleo fazem do partido um parceiro atrativo.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Opção militar prevalece
Em 1994, foi assinado outro acordo de paz em Lusaka, Zâmbia. Um ano mais tarde, dos Santos oferece o posto de vice-Presidente a Jonas Savimbi. Este recusa em 1997 e falha a formação de um Governo conjunto. A seguir, a guerra intensifica-se. Dos Santos aposta na opção militar e investe fortemente nas Forças Armadas. O núcleo duro do seu regime é formado por generais e pela Guarda Presidencial.
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Aliança com Kabila no Congo
Com a sua intervenção militar na segunda guerra do Congo a partir de 1998, Angola presta um apoio decisivo a Laurent-Désiré Kabila, Presidente da RDC (Rep. Democrática do Congo). Com a nova aliança, o MPLA consegue eliminar uma retaguarda da UNITA. Dos Santos estabelece Angola como uma das principais potências militares e políticas na África Austral. Também envia soldados para o Congo-Brazzaville.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Vitória total sobre Jonas Savimbi
Um embargo internacional de armas enfraquece a UNITA, cada vez mais isolada. Pouco a pouco, o exército do Governo conquista espaço. A 22 de fevereiro de 2002, mata o líder da UNITA, Jonas Savimbi. Nesse ano, as duas partes assinam mais um acordo de paz. Termina finalmente uma das guerras civis mais sangrentas, com cerca de um milhão de mortos e quatro milhões de deslocados e refugiados.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Vestígios da guerra
Anos mais tarde, ainda são visíveis os danos da guerra, como nesta foto de 2009. O desenvolvimento do país ficou atrasado, estradas e caminhos-de-ferro tiveram de ser reabilitadas, campos desminados. No enclave de Cabinda, província nortenha rica em petróleo, continua outra guerra. Mas, até hoje, o movimento separatista FLEC não consegue ameaçar seriamente o poder do MPLA em Cabinda.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Eleições adiadas e canceladas
Originalmente previstas para 1997, as segundas eleições legislativas da história de Angola só tiveram lugar em 2008. O MPLA obteve 81,6% dos votos, a UNITA 10,4%. Houve queixas de um clima de intimidação durante a campanha e de desorganização do pleito. As eleições presidenciais, prometidas para 2009, nunca se realizaram. Mesmo assim, dos Santos continua no poder.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Esperanças goradas da Alemanha
Em 2011, a chanceler alemã Angela Merkel (à esq.) visita Angola, dois anos após a visita de dos Santos a Berlim. Há empresários alemães com muito interesse em investir em Angola. Mas poucos investimentos chegam a ver a luz do dia, nos anos seguintes. Angola continua a ser um parceiro difícil para a Alemanha. Há poucas empresas alemãs dispostas a enfrentar o ambiente de negócios angolano.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Repressão contra opositores
A partir de 2011, eclode uma onda de manifestações inspirada na Primavera Árabe. Os protestos foram brutalmente abafados pela polícia, vários ativistas detidos e condenados por alegado golpe de Estado. Em 2013, a Guarda Presidencial mata dois opositores a tiro. Membros da seita adventista "A Luz do Mundo" também são brutalmente perseguidos. A polícia é ainda acusada de execuções extra-judiciais.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Finalmente eleito, mas apenas indiretamente
Em 2010, o Parlamento muda a Constituição e elimina as presidenciais. A eleição passa a ser indireta: É eleito como Presidente o líder da lista mais votada nas legislativas. O MPLA vence as eleições de 2012 com 71,9% dos votos. Após 32 anos no poder, dos Santos ganha pela primeira vez legitimidade eleitoral, embora apenas de forma indireta. Observadores criticam desvantagens da oposição.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Homem de família
Para além dos militares, a família é outro núcleo do poder de José Eduardo dos Santos, que teve vários casamentos. A sua esposa atual é Ana Paula dos Santos (foto), antiga modelo, que conheceu quando ela trabalhava como hospedeira no avião presidencial angolano. Casaram-se em 1991 e tiveram quatro filhos. Nas eleições de 2017, Ana Paula dos Santos será candidata a deputada nacional pelo MPLA.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Filha é a mulher mais rica de África
Mas é Isabel dos Santos, filha do primeiro casamento com Tatiana Kukanova, uma russa campeã de xadrez que dos Santos conheceu em Baku, que tem maior protagonismo internacional. Através de uma licença de telecomunicações em Angola para a sua empresa Unitel, Isabel dos Santos construiu um império de negócios com atividades em Portugal e noutros países. É considerada a mulher mais rica de África.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Filho administra fundo soberano
Em 2013, a nomeação de José Filomeno dos Santos, filho da segunda mulher de José Eduardo dos Santos, para liderar o Fundo Soberano de Angola gerou controvérsia. O fundo administra parte da riqueza petrolífera do país. O pai tem o apelido popular de "Zedú", o filho de "Zenú". A mãe de "Zenú", Filomena de Sousa, foi funcionária do Ministério dos Negócios Estrangeiros, quando dos Santos foi ministro.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Luxo e riqueza do petróleo
Nos últimos anos, milhares de milhões de dólares entraram nos cofres de Angola, um dos maiores produtores de petróleo de África. A Avenida Marginal de Luanda é símbolo da nova riqueza. Mas muito dinheiro desapareceu das contas do Estado, acusam organizações não-governamentais como a Human Rights Watch. O Fundo Monetário Internacional também pediu mais transparência.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Parceria com a China
A China é o novo parceiro de eleição de José Eduardo dos Santos. O país torna-se no maior comprador do petróleo de Angola e concede vários créditos para financiar grandes projetos. Ao contrário do FMI e de outros parceiros, a China não exige transparência, nem reclama dos direitos humanos. Nascem novos bairros em Luanda como Kilamba Kiaxi (foto), financiada e construída por empresas chinesas.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Pobreza continua apesar da riqueza
Apesar das receitas milionárias do petróleo, Angola continua a ter graves problemas de pobreza. Mesmo na capital Luanda, há bairros sem saneamento como o de Kinanga (foto). Muitos serviços de saúde continuam fora do alcance dos mais pobres: Angola tem das maiores taxas de mortalidade infantil do mundo. O sistema de educação também é considerado inadequado para um país com tantos recursos naturais.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Homem discreto
José Eduardo dos Santos é conhecido como um homem discreto. Entrevistas com ele são raríssimas. Não costuma dar conferências de imprensa e faz poucos discursos públicos. Nos últimos anos, esteve regularmente fora do país para longos tratamentos médicos em Barcelona, Espanha. Em África, os seus 38 anos no poder como chefe de Estado só são superados por Teodoro Obiang da Guiné-Equatorial.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Sucessor como Presidente: João Lourenço
Depois de José Eduardo dos Santos anunciar que não seria candidato às eleições de 2017, o MPLA nomeou o ex-ministro da Defesa, João Lourenço, como candidato à sucessão. O MPLA ganhou as eleições de 23 de agosto e Lourenço é o novo Presidente de Angola. Mas dos Santos permaneceu por cerca de mais um ano na direção do partido e, deste modo, manteve uma considerável influência na política angolana.
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José Eduardo dos Santos: Percurso do "eterno" Presidente de Angola
Um ano mais tarde: sucessão no MPLA
Mesmo com José Eduardo dos Santos na chefia do MPLA, vários familiares seus perderam postos importantes: a filha Isabel foi exonerada como presidente do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol e o filho Zenú deixou de chefiar o Fundo Soberano. A 8 de setembro, no congresso do partido, o seu sucessor na Presidência, João Lourenço (foto), também deve assumir a chefia do partido.
Autoria: Johannes Beck