Guiné-Bissau: Alta dos combustíveis pode gerar "caos social"
9 de abril de 2022O presidente da Associação dos Consumidores de Bens e Serviços da Guiné-Bissau, Bambo Sanhá, está preocupado com um eventual aumento do preço dos combustíveis no país e alerta que pode causar um "caos social".
"Temos uma situação extremamente complicada neste momento que tem a ver com combustíveis e derivados. Os operadores económicos estão a ameaçar fechar as bombas de gasolina. Algumas bombas fecharam porque têm rutura de combustível e estão a exigir aumentos", disse Bambo Sanha, em entrevista à agência de notícias Lusa.
"Tendo em conta a situação atual que o país atravessa, o aumento do preço de combustível pode causar um caos social, uma vez que os preços dos produtos já estão insuportáveis", alertou o dirigente da associação dos consumidores guineenses.
Bambo Sanhá disse que o Governo está atento e que criou uma comissão interministerial que "está a tentar travar a situação através da redução de algumas bases tributárias e para que os operadores possam abdicar de avultadas margens de lucro" para que haja "um preço médio".
Consumidores injustiçados
"O combustível entra em todo o circuito económico e social da vida, se aumentar vamos ter problemas com os transportadores que já estão a ameaçar aumento de tarifas de forma unilateral", salientou o presidente da Associação dos Consumidores de Bens e Serviços.
Segundo Bambo Sanhá, há dois anos que não havia variação no preço do gasóleo, o que significa que não houve justiça com os consumidores. "Com a Covid-19 houve uma queda histórica do combustível, mas o mercado nacional não beneficiou apenas o consumidor. A população guineense tinha o direito de beneficiar dessa baixa de preço, o que não foi o caso", afirmou.
"Agora, com a retoma das atividades empresariais e industriais, o preço do combustível começou a subir de novo e os nossos operadores dizem que já não têm ganhos e que o preço deve aumentar", acrescentou o responsável.
"Temos cidadãos a ir dormir sem comer"
Desde o início da pandemia da Covid-19 que os preços dos bens alimentarem têm vindo a aumentar na Guiné-Bissau, nomeadamente peixe, carne, fruta, vegetais, pão, óleo, açúcar, farinha e arroz, que é a base alimentar dos guineenses. O país importa quase tudo e está dependente das variações dos preços praticados nos mercados mundiais, que têm aumentado devido à crise energética e a recente guerra na Ucrânia.
"Nós sabemos que os guineenses já não tinham poder de compra, o que se agravou com a situação da Covid-19 e da guerra na Ucrânia e lançámos vários apelos ao Governo, fizemos várias denúncias, diligências com entidades competentes, incluindo com o chefe de Estado, para que se possa inteirar da difícil situação que a população está a passar neste momento", afirmou Bambo Sanhá, que dirige a associação de defesa dos consumidores guineense.
O responsável explicou que houve um aumento generalizado dos preços, incluindo do pão, que é o bem alimentar mais acessível a toda a população. "Aumentou a fome, a pobreza, temos cidadãos que estão a ir dormir sem comer. A maioria da população vive do dia a dia, mesmo aqueles que são funcionários públicos, os salários não são suficientes com este aumento do custo de vida. É insuportável", lamentou o dirigente.
Apelo ao Governo
O presidente da Associação dos Consumidores de Bens e Serviços defendeu que "é urgente" estancar a especulação dos preços dos produtos de primeira necessidade e que o Governo deve adotar medidas para que a população "possa ter espaço de manobra em termos de poder de compra" e "acesso aos produtos".
"O bolso do consumidor guineense está cada vez mais apertado com a perda de poder de compra e isso põe em causa, em risco, a segurança alimentar das nossas populações, porque quem não tem poder económico não terá condições de se alimentar em qualidade e quantidade", disse, salientando que isso deve ser combatido em primeiro lugar pelo Governo.
Bambo Sanhá denunciou igualmente o que considera ser um aproveitamento de alguns operadores económicos e comerciantes, que de forma abusiva e sob pretexto de rutura de estoques, fazem um "autêntico roubo ao bolso do consumidor".
Dando como exemplo o aumento do pão, que está a ser justificado com a guerra da Ucrânia, o responsável sublinhou que a farinha de trigo já estava no armazém muito antes de o conflito ter começado.