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PolíticaSão Tomé e Príncipe

Delfim Neves denuncia "caça às bruxas" em São Tomé

4 de fevereiro de 2023

Delfim Neves teme pela própria vida e diz pairar em São Tomé uma sensação de "caça às bruxas". Em entrevista à DW, o ex-presidente do Parlamento são-tomense recusa ser um dos financiadores do 25 de novembro.

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Portugal Lissabon | Delfim das Neves, Politiker aus São Tomé und Príncipe
Foto: João Carlos/DW

Delfim Neves nega estar envolvido na invasão ao quartel das Forças Armadas perpetrada por quatro civis, ocorrida na madrugada de 25 de novembro de 2022, em São Tomé. Na sequência do ataque, o ex-presidente da Assembleia Nacional esteve detido dez horas no quartel-general e cerca de três dias e meio na Polícia Judiciária.

O ex-candidado às presidenciais de 2021, que não foi formalmente interrogado no âmbito das investigações em curso, confirma que não sabia o que estava a acontecer naquela madrugada e nega ser um dos financiadores da alegada intentona que terminou em várias mortes.

"O que está mais visível é que o poder, na perspetiva de impedir ou tentar coartar a possibilidade de haver uma oposição forte, decidiu orquestrar esse dito golpe de Estado para prender ou matar alguns opositores mais diretos", denuncia.

Portugal Lissabon | Demonstration, Protest für Aufklärung von Ereignissen im Jahr 2022 in São Tomé und Príncie
Cerca de duas dezenas de pessoas manifestaram-se este sábado (04.02) em Lisboa contra o "massacre" do 25 de novembroFoto: João Carlos/DW

"Se o Arlécio [Costa] é que havia dito que eu iria financiar e que Arlécio era o mandante, tendo sido detido e preso, não há dúvida que a melhor forma de provar isto tudo era mantê-lo vivo. Ora, matando o Arlécio, eu não sei como é que vão tirar isto a limpo", comentou.

"Todos os ditos assaltantes ao quartel, inclusive os seus familiares mais próximos, são militantes da Ação Democrática Independente (ADI). Então, como é que eu, de um partido oposto à ADI, havia de financiar uma operação com militantes de outro partido?", questiona.

Receio pela vida

O político são-tomense, que deve regressar ao país nas próximas semanas após tratamento em Portugal, receia pela sua vida por considerar que existe uma espécie de "caça às bruxas" no país. "Há sinais claros", frisou.

Sao Tomé und Principe | Arlecio Costa
Arlécio Costa morreu na sequência da invasão ao quartel das Forças Armadas em São ToméFoto: Ramusel Graça/DW

Delfim Neves acusa a falta de isenção e o silêncio do Presidente Carlos Vila Nova neste processo e, por outro lado, põe em causa a investigação oficial em curso, com o apoio de agentes da Polícia Judiciária portuguesa.

"Eu acho que essa investigação está viciada", salienta. "À partida, o próprio primeiro-ministro [Patrice Trovoada] está a transmitir uma mensagem de que ele está comprometido, está a imiscuir-se nas investigações", opina.

Ana Gomes critica silêncio

A ex-eurodeputada Ana Gomes considera "de uma gravidade total" o que aconteceu a 25 de novembro naquele país africano e critica a postura de silêncio prolongado das autoridades portuguesas.

"Perturba-me muito que o Governo português não tenha tido uma única palavra crítica em relação à violência e às grosseiras violações dos direitos humanos que ocorreram de forma inédita em São Tomé e Príncipe", considera.

Portugal Lissabon | Ehemalige Europaabgeordnete | Ana Gomes
Ana Gomes, ex-eurodeputadaFoto: João Carlos/DW

Ana Gomes é da opinião que se deveria constituir uma investigação internacional independente como propôs as Nações Unidas, uma vez que, segundo a antiga eurodeputada, existe "a possibilidade de encobrimento" dos factos.

Este sábado (04.02), cerca de 25 são-tomenses manifestaran-se em Lisboa numa marcha pela justiça entre o Mosteiro dos Jerónimos e o Palácio de Belém, onde fizeram a entrega de uma carta ao Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a exigir um posicionamento claro sobre a situação em São Tomé e Príncipe.

Empunhando uma faixa com a frase "Massacre de 25 de novembro 2022" e imagens dos quatro suspeitos alegadamente mortos e torturados, os manifestantes exigiram justiça, fizeram apelos à ação das autoridades portuguesas e alertaram para as consequências da "normalização" do caso.