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Separatistas anglófonos condenados nos Camarões

Lusa | AP | Elisabeth Asen | ac
21 de agosto de 2019

Tribunal militar camaronês condenou líder de movimento separatista anglófono e nove dos seus seguidores a prisão perpétua. Defesa diz que julgamento não foi justo e pretende recorrer da decisão.

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Foto: Reuters/Stringer

O tribunal militar considerou esta terça-feira (20.08) que Julius Sisiku Ayuk Tabe, líder do movimento separatista anglófono, e nove outras pessoas são culpados de atos de terrorismo, secessão e hostilidade contra o Estado. Os réus foram condenados a prisão perpétua e a pagar vários milhões de dólares em indemnizações.

Mas os arguidos não reconheceram o tribunal militar. A defesa boicotou o julgamento, em protesto, e, segundo um dos representantes dos réus, tudo foi uma encenação.

"É uma deceção total: todas as regras processuais foram violadas. Tudo foi preparado com antecedência, é realmente um roubo judicial", afirmou o advogado Christophe Ndong.

Outro advogado de defesa, Edwin Fongo, citado pela agência Associated Press, prometeu recorrer da sentença: "Negaram justiça a estas pessoas. Vamos tomar as providências necessárias para garantir que vamos a recurso. Não se julga pessoas nestas circunstâncias, sem advogado."

Aprofundam-se as divisões nos Camarões

"Perdeu-se oportunidade de diálogo"

O líder do movimento separatista e os outros arguidos foram detidos na Nigéria em janeiro do ano passado e extraditados para os Camarões. Julius Sisiku Ayuk Tabe assume-se como o Presidente do Estado da "Ambazónia", que declarou, unilateralmente, a independência dos Camarões em outubro de 2017.

Os camaroneses anglófonos representam cerca de 20% dos 24 milhões de habitantes do país e acusam a maioria francesa de serem discriminados na educação, justiça e nas oportunidades económicas.

Em 2016, na sequência de protestos de professores e advogados contra a alegada discriminação, houve episódios de violência. E o Governo camaronês respondeu com uma campanha de repressão militar contra os separatistas. 1.850 pessoas morreram nos confrontos, segundo a organização não-governamental International Crisis Group (ICG).

Depois de ser detido, o líder do movimento separatista anglófono, Julius Sisiku Ayuk Tabe, disse estar disposto a dialogar com o Governo camaronês, em território estrangeiro, em troca da libertação dos separatistas detidos.

Mas, com a condenação de Ayuk Tabe e dos seus seguidores, o Governo de Paul Biya perdeu essa oportunidade de diálogo, comenta um dos advogados dos separatistas.

"É um Governo que mente ao mundo inteiro dizendo que é capaz de dialogar, mas que, na verdade, não quer dialogar e condena o líder de um povo inteiro. Se amanhã houver uma insurgência nesta parte dos Camarões, isso será culpa do Governo", afirmou o advogado Christophe Ndong em entrevista à DW.