Cabo Verde: Polícia Nacional inicia greve de três dias
27 de dezembro de 2017Esta é a primeira greve na história da Polícia Nacional de Cabo Verde, que conta com 147 anos de existência. Os grevistas reivindicam o nivelamento salarial, a resolução dos pendentes, nomeadamente as promoções e progressões, e a redução da carga horária.
No primeiro dia de greve, centenas de polícias, vestidos de preto, percorreram as principais artérias da cidade da Praia, proferindo palavras de ordem: "Polícia Nacional é do povo. Ainda é só o começo".
"Não queremos Paulo Rocha [ministro da Administração Interna]", foi o pedido feito em frente ao edifício do Ministério da Administração Interna pelos manifestantes.
José Barbosa, presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL), disse à Rádio de Cabo Verde que a adesão à greve é grande em todo o país, assegurando que "temos o pulsar das outras unidades nas outras ilhas e é impressionante, vimos que a adesão é de 99 por cento".
A julgar por estes números, tudo leva a crer que o SINAPOL não está a cumprir a requisição civil decretada na noite do último domingo pelo Governo.
"Se se cumpre a requisição civil? Não sei! Isto é da responsabilidade do Governo e nos termos em que o decretou. Nós, enquanto sindicato, nem temos conhecimento oficial disto", assegura José Barbosa.
Unidades policiais funcionam normalmente
Po seu lado, o diretor nacional da Polícia Nacional, o superintendente Geral Emanuel Staline Moreno, garantiu à imprensa que a maior parte das unidades policiais está a funcionar normalmente.
"As informações que eu tenho em relação às unidades policiais é que o pessoal compareceu no serviço. Um ou outro que não compareceu, mas estão garantidos os serviços em relação à questão da segurança tanto nas esquadras da capital como dos comandos regionais nas diferentes ilhas, mas também nos outros serviços especializados como nas fronteiras e Guarda Fiscal", afirma Staline Moreno.
Já o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, lembra os agentes que "o incumprimento de uma requisição civil tem consequências disciplinares, criminais e eventualmente de responsabilização civil, isto não fica assim", disse. "O Estado é um só, não existe Estado dentro do Estado", ressaltou.
Paulo Rocha admitiu ainda que, se for necessário, o Governo poderá recorrer a outras forças de segurança.
"A Polícia Nacional não é a única força de segurança. Nós temos a Polícia Judiciária, as Forças Armadas", recorda o ministro.
O ministro da Administração Interna disse que em 2017 houve um investimento superior a 3,6 milhões de euros na corporação, um investimento que ele considera "jamais visto na segurança e na polícia neste país em termos de desbloqueamento de evolução na carreira e melhoria de condições salariais na Polícia Nacional".
Governo com pouca margem para aumento salarial
Paulo Rocha justifica que, em ano de seca severa e de mau ano agrícola, o Governo tem pouca margem de manobra para fazer mais aumentos salariais na Polícia Nacional.
Em reação a essas declarações do ministro, o presidente do SINAPOL, José Barbosa, diz que o Executivo nada mais fez do que a sua obrigação e explica: os recursos materiais introduzidos na polícia foi o dever de ofício do Estado representado pelo Governo. Agora é preciso entender sobre a questão do aumento salarial, da redução da carga horária, etc".
O presidente do SINAPOL acusou o ministro Paulo Rocha de deslealdade para com o sindicato. "O SINAPOL sempre esteve e continuará a estar aberto à negociação para chegarmos a um ponto de equilíbrio, mas não é com falta de respeito nem com deslealdade nem com mentiras", afirma.
E é neste tom que prossegue até sexta-feira, (29.12) a primeira greve geral da Polícia Nacional de Cabo Verde.