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Boom do petróleo sem reflexos no desenvolvimento do Chade

Oliveira de Sousa, Gloria Sofia10 de outubro de 2013

O início da exploração de petróleo, há dez anos, acelerou a economia. Mas o Chade continua longe de erradicar a pobreza. As receitas do ouro negro têm reforçado sobretudo o exército e o poder do Presidente Idriss Déby.

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Sendo o quinto maior país em África, o Chade é o 10º em termos de reservas de petróleo. A produção começou em 2003, depois de finalizada a construção de um oleoduto do Chade para o Oceano Atlântico, através dos Camarões, país vizinho.

Este ano de 2013, a produção deverá situar-se nos 110 mil barris de petróleo por dia, de acordo com a Administração de Informação sobre Energia norte-americana. Mas o governo chadiano estima que, quando começar a exploração de petróleo nas proximidades do Lago Chade, no próximo ano, a produção chegue aos 300 mil barris/dia em 2015.

As receitas do petróleo têm um importante peso na economia do país: cerca de 1,2 mil milhões de dólares/ano (mais de 880 mil milhões de euros), ou seja proximadamente 80% das receitas do Estado.
No entanto, 62% da população vive com menos de um euro por dia, um terço dos adultos não sabe ler nem escrever e a esperança média de vida não chega aos 50 anos. E no Índice de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU), o Chade ocupa a posição 184 de um total de 187 países. Atrás do Chade estão apenas Moçambique, a República Democrática do Congo e o Níger.

Além disso, os direitos humanos são frequentemente violados. "Muitos opositores no Chade são detidos e intimidados. Há muitas detenções arbitrárias, corrupção e abuso de poder por parte da polícia e militares. No Chade, se alguém vir os seus direitos desrespeitados, é quase impossível que volte a recuperá-los", afirma Martin Petry, consultor independente para o desenvolvimento que conhece o país da África Central há vários anos.

Receitas utilizadas no setor militar

Os lucros do petróleo ajudam o Preidente Déby, no poder desde 1990, a consolidar a sua posição interna: oferece posições de prestígio a adversários políticos, silenciado assim vozes desconfortáveis. E apenas uma pequena parte das receitas é canalizada para a luta contra a pobreza ou na construção de infraestruturas.

Por outro lado, as receitas do petróleo têm-se refletido no sector militar. Segundo Helga Dickow, especialista em assuntos do Chade na Universidade alemã de Freiburgo, "o Chade tem o exército melhor equipado da África Subsariana".

"O Governo tem acesso às receitas do petróleo e pode utilizá-las para a sua campanha eleitoral. O clientelismo e a cooptação de adversários políticos acontecem agora a uma escala muito maior do que antes", complementa Helga Dickow.

Um exército forte contribui para uma imagem internacional também forte do Presidente Idriss Déby. Quando a França desencadeou a intervenção militar no Mali, no início deste ano, o Chade disponibilizou 2400 soldados.

Chade reforça política externa

Com a participação na luta contra rebeldes islâmicos e grupos terroristas, o Chade conseguiu destaque na cena internacional e a nível interno. "Não existe uma pressão massiva contra o Presidente chadiano, porque as pessoas precisam dele na luta contra o terrorismo", observa o consultor para o desenvolvimento Martin Petry.

Na opinião do chadiano Remadji Hoinathy, que trabalha no Instituto Max-Planck de Antropologia Social, na Alemanha, "a diplomacia militar do Chade permite ao Estado posicionar-se de forma diferente dos seus parceiros.

Quando por exemplo, a França precisa do Chade, numa área em particular, os dois países podem dialogar em pé de igualdade".

Para a França, antiga potência colonial, o Chade é um parceiro económica e estrategicamente importante. O exército francês têm duas bases militares no país africano, na capital, N'djaména, e a ocidente, em Abéché.

A estratégia da política externa chadiana apresenta também resultados no continente. A União Africana (UA) vai apoiar a candidatura do Chade para o lugar de membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU em 2014/2015.