Argélia: Acusações de fraude mancham reeleição de Tebboune
9 de setembro de 2024As alegações de irregularidades na sequência do anúncio dos resultados prejudicam o que antes "parecia ser uma vitória esmagadora" do chefe de Estado de 78 anos. E contradizem as suas próprias declarações, no dia anterior, em que afirmava "transparência".
"A campanha eleitoral foi muito transparente. Os candidatos estiveram à altura da tarefa e deram uma imagem muito honrosa da Argélia e da democracia na Argélia. Esperamos que isto sirva de exemplo para outros”, disse Abdelmadjid Tebboune.
No domingo (08.09), as autoridades eleitorais informaram que 5,6 milhões dos cerca de 24 milhões de eleitores compareceram às urnas, e anunciou que Tebboune obteve 94,7% dos votos do dia anterior, ultrapassando largamente os seus adversários, o islamista Abdelali Hassani Cherif, com apenas 3,2% dos votos, e o socialista Youcef Aouchiche, que obteve 2,2%.
Segundo a agência de notícias AP, horas após o anúncio Tebboune juntou-se aos seus adversários para questionar os resultados anunciados, tendo as três campanhas emitido conjuntamente uma declaração acusando o presidente do órgão eleitoral de anunciar resultados contraditórios.
As autoridades não explicaram por que razão tinham anunciado anteriormente uma taxa de 48% de participação na altura do encerramento das urnas.
A direção de campanha do candidato do Movimento da Sociedade pela Paz (MSP), Abdelaali Hassani Cherif, denunciou "pressões sobre certos membros das mesas de voto para inflacionarem os resultados”, nomeadamente, a taxa de participação.
Argelinos defendem união
Por outro lado, nas ruas, durante o pleito realizado este sábado, alguns eleitores apelavam à participação.
"Temos de votar para bem do nosso país. Em primeiro lugar, os jovens devem votar. Em segundo lugar, temos de votar por uma Argélia próspera. Tanto os jovens como os idosos devem votar para eleger um bom presidente para o país”, pediam um cidadão.
Outro defendia que "os argelinos devem unir-se para o bem-estar do país.”
Não se sabe ao certo o que acontecerá depois que os três candidatos lançarem dúvidas sobre as irregularidades e se isso levará a contestações legais ou atrasará a certificação final do resultado.
Mas as alegações de irregularidades encerram uma época eleitoral que indignou ativistas e grupos da sociedade civil. Os defensores dos direitos humanos criticaram a atmosfera repressiva da época de campanha e o perseguições e processos judiciais contra os membros dos partidos da oposição, dos meios de comunicação social e de grupos da sociedade civil.
Denúncias de abusos
Alguns denunciaram essa eleição como um exercício de "carimbo de borracha” para apenas consolidar o status quo. Na semana passada, a Amnistia Internacional (AI) condenou a "brutal repressão da Argélia aos direitos humanos, incluindo os direitos à liberdade de expressão, reunião pacífica e associação durante o período que antecedeu as eleições presidenciais do país”.
A contagem divulgada no domingo deu a Tebboune uma participação total de votos muito superior aos 87% que Vladimir Putin obteve nas eleições de março na Rússia e aos 92% que Ilham Aliyev obteve na disputa de fevereiro no Azerbaijão.
A Argélia é o maior país da África em área e, com quase 45 milhões de habitantes, é o segundo mais populoso do continente, depois da África do Sul, a realizar eleições presidenciais em 2024 - um ano em que mais de 50 eleições estão a ser realizadas em todo o mundo, abrangendo mais da metade da população mundial.