No entanto, a situação política permanece pouco clara. "É muito difícil dizer quem está realmente a controlar o poder no Gabão, porque há muita informação contraditória por parte do Governo e os observadores internacionais estão preocupados porque as forças de segurança e os serviços de inteligência podem estar a desempenhar algum papel neste jogo de poder", comenta Fonteh Akum, especialista do Instituto de Estudos de Segurança em Dakar (ISSA).
O Presidente do Gabão, Ali Bongo, soltou as rédeas do país de dois milhões de habitantes há dois meses, quando foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) numa visita à Arábia Saudita. Desde então, o chefe de Estado de 59 anos está em Marrocos a receber tratamento médico.
Na história política do Gabão, Ali Bongo sucedeu ao pai, Omar Bongo, que se manteve no poder 41 anos, até 2009, em parte impulsionado pelos resultados bem-sucedidos do setor petrolífero.
De músico a Presidente
"Alain" Bernard Bongo nasceu no ano 59 do século passado, mas a pedido do progenitor a família Bongo converteu-se ao islamismo em 1973. "Alain" passou então a chamar-se "Ali" e pouco tempo depois foi estudar Direito para a Universidade Sorbonne, em Paris.
Nos primeiros anos fora de casa, dedicou-se à música e chegou a gravar discos. No entanto, isso não o impediu de entrar na política de forma ativa quando regressou ao Gabão. Rapidamente tornou-se ministro dos Negócios Estrangeiros e depois assumiu a pasta da Defesa.
Após a morte do pai, Ali Bongo candidatou-se às presidenciais, vencendo com grande margem. Apesar das acusações de irregularidades no processo eleitoral, as instâncias judiciais nunca o conseguiram provar. Nos primeiros anos no poder, Ali Bongo esforçou-se para modernizar o país.
"Ao nível político, tentou modernizar o Partido Democrático (PDG). E a nível económico, uma das medidas mais importantes foi a proibição de exportação de madeira tropical não processada do Gabão", lembra o jornalista e Seidick Abba.
Segundo o escritor nigeriano, "essa medida teve importantes implicações para o desenvolvimento sustentável do setor madeireiro". No geral, acrescenta, Ali Bongo também tentou diversificar os parceiros económicos do Gabão.
Especulações sobre estado de saúde
A reeleição de Ali Bongo como Presidente em 2016 gerou tumultos. Se na primeira eleição, em 2009, Bongo tinha o apoio de França, em 2016 não foi bem assim. "A França tinha outro Presidente em 2009: Nicolas Sarkozy era um aliado do clã Bongo. O Presidente seguinte, François Hollande, interferiu muito menos nas eleições em 2016. Houve uma mudança em relação ao Gabão entre Sarkozy e Hollande", conta Fonteh Akum.
Dois anos depois, em outubro de 2018, Ali Bongo sofre um AVC. O desaparecimento político do Presidente, alimentado por especulações e boatos geraram caos e vazio de poder.
Mas, pelo menos por agora, o Gabão continua nas mãos do clã Bongo. O líder da tentativa de golpe de Estado de segunda-feira (07.01), o tenente Kelly Obiang, foi detido quando tentava escapar da estação de rádio que tomou de controlo. Dois soldados rebeldes foram abatidos.
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Presidentes africanos para sempre
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
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Presidentes africanos para sempre
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
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Presidentes africanos para sempre
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
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Presidentes africanos para sempre
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
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Presidentes africanos para sempre
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
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Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
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Presidentes africanos para sempre
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
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Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
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Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.
Autoria: Vera Covelo Tavares, Johannes Beck