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Romney é melhor para o comércio exterior brasileiro, avaliam analistas

26 de outubro de 2012

Uma eventual vitória do candidato republicano poderia melhorar as relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, hoje prejudicadas pelas barreiras impostas a vários produtos brasileiros.

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Foto: AP

Com a corrida presidencial nos Estados Unidos na reta final, especialistas ouvidos pela DW Brasil avaliam que uma eventual vitória do candidato republicano, Mitt Romney, compensaria os quatro anos de indiferença durante o governo do presidente Barack Obama, especialmente com relação à economia.

Os analistas ouvidos pela DW Brasil apontam alguns cenários para o futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos. Para a professora de relações internacionais Renata Rosa, do Centro Universitário de Brasília (Uniceub), a tendência é de que, caso Obama seja reeleito, tanto o Brasil como a América Latina continuem sem ter prioridade na agenda de política externa dos Estados Unidos.

"O governo de Obama não teve uma relação de muita proximidade com o Brasil e a América Latina. É uma relação mais de indiferença, porque o Partido Democrata estava envolvido em outras questões mais centrais para a política externa americana, como a luta contra o terrorismo, a caça a Osama bin Laden, a crise financeira, problemas domésticos muito sérios. Então, a América Latina não foi o foco da agenda do Partido Democrata com Obama", afirma a professora.

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Nem Obama nem Romney têm o Brasil e a América Latina entre suas prioridadesFoto: AP

Sobre o que seria melhor politicamente para o Brasil e o mundo, a economista e professora Lia Valls Pereira, da Fundação Getúlio Vargas, ressalta: "Se formos priorizar a forma como os candidatos têm expressado o papel dos EUA no mundo, acho que Obama é melhor, mais disposto a dialogar, e atenua um pouco a diretriz unilateralista dos republicanos mais radicais que Romney parece cortejar".

Economia

A principal mudança – caso Romney vença a eleição - ocorreria nas relações econômicas entre os dois países. "No caso da política comercial, os republicanos seriam, em tese, mais liberais e os democratas, mais protecionistas", comenta Valls Pereira. No entanto, tudo depende do momento econômico, salienta. "Os governos republicanos de Reagan e Bush ergueram uma série de medidas protecionistas."

Rosa argumenta que Romney, que "conhece bem o Brasil, a Avenida Paulista e os empresários", seria mais vantajoso para o setor empresarial brasileiro, que poderia capitalizar melhor a relação Brasil-Estados Unidos nos planos comercial, industrial e financeiro, ao contrário do que acontece com a política de restrições comerciais aos produtos brasileiros, tradicionalmente utilizada por governos democratas.

"O Brasil está enfrentando várias crises em relação a vários produtos – como o algodão – sobre o qual os democratas colocam barreiras, e os republicanos já prometeram que o objetivo deles é facilitar – e não dificultar – o comércio com a América Latina e principalmente com o Brasil", diz Rosa.

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Patriota (na foto ao lado de Hillary Clinton) tem por missão fortalecer as relações com os EUAFoto: Reuters

Conselho de Segurança da ONU

Entretanto, a professora alerta que a política externa de Romney pode vir a desagradar em muitos aspectos o Palácio do Planalto, especialmente pelo fato de ele ter declarado, durante a campanha, que dará carta branca para Israel entrar em guerra contra quem quiser, com o apoio dos Estados Unidos.

Rosa acrescenta que os americanos se ressentem um pouco da posição do Brasil na agenda internacional de segurança. "Eles dizem que, em 80% das decisões que os Estados Unidos tomam, o Brasil vai contra", destaca.

Isso atrapalha diretamente, por exemplo, as pretensões do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, status almejado há anos. "O Partido Democrata e o governo Obama não apoiariam abertamente uma cadeira para o Brasil, ao contrário do que Obama fez com a Índia, a quem declarou apoio público."

Já para Valls Pereira, algumas das questões centrais da política externa – como a reforma do Conselho de Segurança – são questões de Estado, e os partidos não têm posições marcadamente divergentes.

O Itamaraty, segundo Rosa, calcula como agir em ambos os cenários. "Caso Obama se reeleja, o Itamaraty vai querer prosseguir e aprofundar as parcerias estratégicas que tem estabelecido com os Estados Unidos, principalmente na figura do ministro Antonio Patriota, que está no cargo justamente para cumprir esta função: fortalecer as relações do Brasil com os Estados Unidos. Num eventual cenário com Romney eleito, o Itamaraty deve organizar melhor os empresários para que os lucros sejam maximizados na relação comercial e industrial com os EUA."

Autor: Rodrigo Alvares
Revisão: Francis França