UE divide o bolo
22 de maio de 2005Além de discutirem questões relacionadas a "regiões em crise", como o Sudão e o Uzbequistão, os ministros das Relações Exteriores da União Européia anteciparam para este domingo (22) a "mesa-redonda das finanças", quebrando a tradição dos encontros que sempre acontecem às segundas-feiras.
A atmosfera desta vez, porém, não parece nada amistosa. Países "contribuintes", ou seja, aqueles que mais pagam que recebem dos cofres de Bruxelas – como a Alemanha e a França, por exemplo – divergem essencialmente da postura das nações que mais recebem do que enviam verbas à UE, como é o caso da Espanha e da Polônia, entre outras.
Divergências entre os que pagam e os que recebem
A Comissão Européia prevê para o período 2007-2013 um orçamento em torno de 1025 bilhões de euros. Nestes sete anos, o bloco deverá gastar, segundo sugestão da atual presidência da UE, aproximadamente 900 bilhões de euros. Um soma considerada alta demais para Berlim e Paris, que insistem que as despesas da UE não devem ultrapasar os 815 bilhões de euros. O que significaria 1% do PIB de todo o bloco. Um limite que foi reafirmado mais uma vez pelo premiê alemão, Gerhard Schröder, e pelo presidente francês, Jacques Chirac, na última semana.
Reino Unido: fim dos privilégios à vista?
Outro ponto polêmico a ser definido pelos ministros reunidos em Bruxelas diz respeito ao "desconto" nas contribuições aos caixas da UE concedido ao Reino Unido há nada menos que 21 anos. Enquanto o Conselho Europeu pretende diminuir gradualmente este privilégio – o que traria vantagens imediatas para grandes contribuintes como Holanda, Suécia e Alemanha – Londres nega-se terminantemente até mesmo a discutir o assunto.
E as discórdias sobre o dinheiro não param por aí. O atual presidente luxemburguês do Conselho Europeu, Jean-Claude Juncker, sugere uma redistribuição das verbas dentro da UE. Hoje, por exemplo, fluem boas somas em direção aos Estados da ex-Alemanha Oriental, cujo padrão de vida foi até agora considerado inferior à média dos países do bloco. Caso a sugestão de Juncker seja aprovada, o Leste alemão não receberia mais somas tão consideráveis da UE. O que resulta, obviamente, num categórico "não" de Berlim.
Ajuda mínima ao desenvolvimento
Fato é que uma solução para o destino financeiro da UE ainda parece distante. Em encontro paralelo, os ministros da Ajuda ao Desenvolvimento dos países do bloco discutem nesta terça-feira (24) estratégias que possibilitem alcançar os alvos estipulados pelas Nações Unidas em 2000. Entre estes, está a redução dos níveis de pobreza, até o ano de 2015, à metade dos índices atuais.
Para isso, os países industrializados e ricos deveriam destinar 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) à ajuda ao desenvolvimento. Dentro da UE, apenas Luxemburgo, Dinamarca, Holanda e Suécia atingem este percentual. A Alemanha pretende, no ano de 2006, canalizar 0,33% de seu PIB em direção aos países pobres. Usando como argumento os caixas vazios de Berlim, o ministro alemão das Finanças, Hans Eichel, nega-se a fazer quaisquer previsões futuras exatas neste sentido.
Também os países do Leste Europeu, que ingressaram recentemente na UE, são chamados a destinar 0,33% do PIB à ajuda ao desenvolvimento. Cifras periféricas para grandes e ricos, mas certamente consdieráveis para aqueles que as recebem.