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Artes cênicas

Juliana Lugão19 de março de 2007

No festival luso-alemão organizado pelo Studiobühne de Colônia o carro-chefe foi, sem dúvida, a famosa troca de figurinhas.

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O grupo NNU em cena com 'Ifigênia em Táurida', de FassbinderFoto: Studiobühne Köln

A semana de 10 a 17 de março foi uma verdadeira maratona de teatro. Para artistas e espectadores. Quem quis acompanhar tudo o que foi apresentado no festival organizado pelo Studiobühne de Colônia viu, em uma semana, mais de 15 horas de peças.

O Theaterszene Europa, entretanto, não é um festival de espectadores, mas de amantes do teatro. O que mais impressionou em toda a semana, além de algumas propostas cênicas realmente desconcertantes, foi a vontade de intercâmbio de experiências e a atmosfera que tomou conta do saguão do Studiobühne.

Mais do que assitir às novas propostas, quem resolveu mergulhar na semana teatral pôde trocar impressões do que assistiu com artistas e espectadores das mais diferentes linhas de pensamento e concepções estéticas. Fosse nas discussões diárias sobre as apresentações do dia anterior, previstas pela organização do festival na programação, ou no café dos intervalos. Na semana do festival luso-alemão o assunto não era outro que não teatro.

O anfitrião

Szene aus Tafelrunde Sophokles Studiobühne Köln
O piano rege os movimentos do coro da perfomance do 'Grenzengänger': na hora do almoço, culinária e vinho gregosFoto: Studiobühne Köln

A Alemanha mostrou uma produção teatral muito desigual em termos de qualidade. Se por um lado foi o grupo de ocasião Grenzengänger o que mais inovou (entre todas as apresentações do festival) e transformou a sala vegetariana do refeitório da Universidade de Colônia em um verdadeiro espaço ritual, convidando o público a saborear Sófocles – literalmente –, obrigando todos os espectadores a se sentirem parte do coro, mesmo que involuntarimente, e mostrando que teatro não necessariamente se faz no palco, foram também os alemães que deixaram claro, na maioria das peças trazidas, que a tradição da literatura dramática continua muito arraigada nas produções do país.

É claro que um texto bem executado e cenicamente bem pensado acaba culminando em produções como a Ifigênia em Táurida, do grupo berlinense NNU, mas o que a maioria das peças trouxe foi uma necessidade verborrágica maior do que a necessidade cênica.

O convidado

Marionetten Studiobühne Köln
O universo Beckett contado por mariontes e atores-marionetesFoto: Studiobühne Köln

Portugal não fez nada feio com as produções escolhidas para representar a cena alternativa lusitana. Algumas peças tinham estética talvez ultrapassada para um espectador brasileiro, mas de qualquer forma todas a execuções eram muito boas e, segundo os espectadores, especialistas e desavisados, a falta de traduções simultâneas quase não interferiu no entendimento das peças.

O destaque lusitano ficou para dois grupos vindos do Porto. O Teatro Bruto, em sua peça Alter Ego, conseguiu colocar na cena atores se relacionando entre si e com o vídeo de uma forma esteticamente impressionante. O outro grupo, o teatro de marionetes, colocou o universo de Beckett no trabalho feito com bonecos, divertindo mesmo quem não é familiarizado com o autor.

Quando o mundo teatral se encontra

Bruto Studiobühne Köln
Utilização de vídeo no teatro: 'Alter Ego'Foto: Studiobühne Köln

Divergências estéticas e culturais à parte, o festival serviu para mostrar que amantes do teatro querem fazer, ver e discutir teatro, e em qualquer lugar do mundo com a mesma empolgação. E, principalmente, que certos hábitos mudam por causa da língua, mas o significado, lá no fundo, continua o mesmo. Enquanto os lusófonos desejam "Merda!", uns aos outros antes de entrar em cena, os alemães não usam a tradução "Scheisse!", mas a expressão "Toi, toi, toi!", o que representaria três cuspidas por cima do ombro do interlocutor. Não é exatamente um palavrão, mas uma expressão carinhosa, isso também não é.