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Progresso sem melhora

Marcio Weichert, enviado a Frankfurt16 de maio de 2003

Negociação de acordo entre União Européia e Mercosul continua empacada apesar de concessões de Bruxelas. Ministro Furlan busca alternativas para o impasse sobre agronegócio.

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Furlan quer mais produtos com valor agregado na carteira de exportações

O trem avança pelo túnel e ganhou ainda mais velocidade. Entretanto, a luz de sua saída ainda não está à vista. A comparação reflete de certa maneira o relato do ministro Luiz Fernando Furlan, em Frankfurt, sobre o andamento das negociações do Mercosul com a União Européia para um acordo de livre comércio.

"As ofertas da UE melhoraram, mas não contemplam o mais importante para o Mercosul, ou seja, o agronegócio", disse Furlan à DW-WORLD. De acordo com o ministro, os produtos agropecuários respondem por 80% das exportações uruguaias, 50% das argentinas e 40% das brasileiras. Ou seja, a queda das barreiras alfandegárias européias à importação destas mercadorias é pré-requisito para o Mercosul fechar um acordo.

Alemães do lado sul-americano

Nesta reivindicação, a Alemanha é uma aliada do Brasil. "Berlim é claramente favorável a uma reforma da política agrícola européia, como a ministra da Agricultura, Renate Künast, me disse em Berlim e o chanceler federal Gerhard Schröder ao presidente Lula em janeiro. Mas, por outro lado, eles têm de cuidar para não haver um racha na UE", mostra-se compreensivo o ministro. A França e a Espanha são os países mais resistentes à abertura do mercado europeu para produtos agrícolas.

Durante a Conferência Latino-Americana da Economia Alemã, as empresas do país mostraram-se sintonizadas com as reivindicações sul-americanas. "O empresariado alemão conclama a Comissão Européia a acelerar as negociações do planejado acordo com os países do Mercosul. Para seu sucesso, faz-se necessária maior flexibilidade na política agrícola da UE", diz a Declaração de Frankfurt, documento de encerramento do encontro.

Outros caminhos

Enquanto o impasse permanece, o Brasil busca alternativas. Variar a carteira de exportações é uma delas. "Os produtos de valor agregado possuem inclusive tarifas alfandegárias menores", ressaltou Furlan. Outra idéia desenvolveu-se a partir de sua visita à Polônia. "Uma possibilidade seria aplicar um sistema de cotas similar ao adotado pela UE para os países do Leste Europeu que vão entrar na comunidade. Houve um período de transição que possibilitou à Polônia entrar gradualmente nos mercados europeus. Hoje, o país está dentro da UE de fato, mas não ainda de direito. Quando entrar oficialmente, será o coroamento de um processo e não seu início", diz o ministro brasileiro. "É uma boa proposta para discussão, mas ainda não há nada de concreto nela."

Apesar de outros países emergentes, como México, Chile e África do Sul, terem passado o Mercosul para trás e já assinado acordos de livre comércio com a União Européia, Furlan insiste nas negociações conjuntas dos países do Mercado do Cone Sul e rejeita a hipótese de o Brasil tentar uma ação isolada. Ele acredita que, passada a crise do Mercosul, as perspectivas estão melhorando. "Neste momento, temos novos presidentes no Brasil, no Paraguai e na Argentina. Eles podem dar nova unidade ao Mercosul e levar adiante as negociações com a UE", disse o ministro.

No comércio bilateral, o Brasil tem superávit com a União Européia – em março, de 201 milhões de dólares. Segundo o ministro Furlan, o Mercosul está negociando acordos com a África do Sul, o Peru e a Venezuela.