Partido Pirata quer chegar ao Parlamento Europeu
7 de janeiro de 2014No último fim de semana, o Partido Pirata na Alemanha começou a se preparar, numa convenção, para as próximas eleições europeias. A legenda só conseguirá ocupar cadeiras no Parlamento europeu se ultrapassar o mínimo exigido de 3% dos votos no país.
Nas últimas eleições parlamentares na Alemanha, o partido teve apenas 2,2% dos votos, porcentagem que não seria suficiente para a entrada no Legislativo comunitário – onde já há dois deputados piratas suecos, no momento aliados aos Verdes.
Nas eleições europeias de 2009, os piratas conseguiram apenas 0,9% dos votos. Nos anos seguintes, o partido chegou a ultrapassar os 10% de intenção de votos nas enquetes e ocupou cadeiras em quatro Legislativos estaduais alemães. Hoje, o Partido Pirata tem 205 vereadores nas câmaras municipais do país e conta com 30 mil filiados.
Escolhidos principais candidatos
A lista de 12 candidatos para as eleições europeias teve um total de 62 inscritos. Julia Reda, de 27 anos, presidente da organização Jovens Piratas da Europa, encabeça a relação. Ela empenha-se por uma reforma do direito autoral e por uma maior interação entre os países europeus.
"Defendemos uma Europa comum, sem fronteiras", diz a candidata, que aponta o Twitter como um bom meio de mobilização dos eleitores. "O primeiro passo é gerar nas pessoas um entusiasmo pela Europa e mostrar a elas o quanto o Parlamento Europeu tem a ver, de fato, com suas vidas."
O segundo nome da lista é Fotios Amanatides, de 43 anos, que coordena desde 2010 os programas de política exterior e de defesa dos piratas. Ele defende decisões mais transparentes e um maior compromisso entre os países do continente. "A Europa não funciona sem seus cidadãos", acentua Amanatides.
Anke Domscheit-Berg, conhecida ativista da web, apresentou de última hora sua candidatura e foi eleita em terceiro lugar pelos aproximadamente 600 votantes da convenção. "A política atual me irritou tanto que tive a sensação de não poder mais ficar sentada no sofá", justificou a ativista de 45 anos. Ela preside o partido no estado de Brandemburgo e é casada com Daniel Domscheid-Ber, ex-porta-voz do Wikileaks.
Em defesa de plebiscitos europeus
Entre outros pontos defendidos pelos piratas está a introdução de plebiscitos europeus, a fim de garantir a proteção do cidadão da vigilância do Estado, bem como uma reforma do direito autoral. O partido defende uma transformação das "fronteiras europeias em pontes e não muros", com uma ampliação das razões que tornam requerentes aptos a receberem asilo político e condições mais seguras para que os migrantes possam entrar na Europa.
Os piratas defendem ainda uma proteção maior para os whistleblowers (informantes que denunciam a existência de irregularidades em instituições ou empresas), e um acordo internacional pela liberdade na internet, uma resistência digital e um salário mínimo incondicional para toda a Europa.
"Temos uma visão social da Europa, tendo em vista um Estado europeu democrático", diz Martina Pöser, também candidata dos piratas. Em primeiro plano, segundo ela, está a democratização da União Europeia com a participação do cidadão.
"O fundamento disso seria uma Constituição Europeia que fosse criada diretamente pelos cidadãos", acrescenta, por sua vez, Patrick Schiffer, outro candidato pirata ao Parlamento Europeu.
Por uma "resistência digital"
No último sábado, o presidente do Partido Pirata na Alemanha, Thorsten Wirth, criador de softwares, analisou durante a convenção da legenda os resultados negativos nas últimas eleições parlamentares. "A vigilância total está aí. Percebemos isso, mas não enxergamos a situação", diz ele.
A consequência, prossegue, é o desinteresse das pessoas pelo assunto nas ruas. No entanto, completa Wirth, o trabalho dos serviços secretos deveria ser desmascarado, com maior número de denúncias públicas.
"Os serviços secretos deveriam ter medo", alerta Wirth. "Vamos recobrar nossa liberdade na rede. Internet é tecnologia, algo que dominamos. Vamos recobrar a infraestrutura", conclui.
As palavras de Wirth remetem ao chamado em prol de uma "resistência digital", defendida no recente encontro do Chaos Computer Club, a mais influente associação de hackers do país, por nomes como Julian Assange (fundador do Wikileaks) e Jacob Applebaum (ligado a Edward Snowden).
Mas Wirth tem consciência de que o Partido Pirata ainda é muito prejudicado pelas brigas internas. Por isso, ele pediu a seus correligionários que aprendam a aceitar melhor a opinião alheia. Segundo ele, o "autodilaceramento emocional" do partido em público tem que cessar.