Partido do governo vence eleições parlamentares na Ucrânia
29 de outubro de 2012As eleições parlamentares na Ucrânia coincidiram com o fim do horário de verão, neste domingo (28/10). Os relógios foram atrasados em uma hora. No que diz respeito à política, o país parece ter retrocedido dez anos.
"Podemos comparar esta eleição com a eleição parlamentar de 2002", afirma Olexandr Chernenko, diretor da ONG Comitê de Eleitores da Ucrânia, em entrevista à televisão local. Ele falou em violações sistemáticas da legislação em algumas zonas eleitorais, o que pode ter influenciado o resultado da eleição.
Segundo levantamentos preliminares, o comparecimento às urnas foi de 58%. O resultado final ainda não estava disponível até a manhã desta segunda-feira, pois as cédulas de votação são contadas a mão. Mas já está certo que o Partido das Regiões, do presidente Viktor Yanukovytch, será a maior força no Parlamento. Com metade das urnas apuradas, o partido tinha 35,03% dos votos. Não havia números sobre os candidatos independentes (não ligados a partidos políticos), que vão compor a metade do Parlamento da Ucrânia.
Sucesso eleitoral para pugilista
Em segundo lugar estava a Oposição Unida, aliança liderada pelo partido da ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, com 21,98%. Logo após vinham os comunistas, com 14,89%, conseguindo entrar novamente no Parlamento.
Um dos vencedores da eleição também é o partido de oposição UDAR, do campeão de boxe Vitali Klitschko. Sua Aliança Democrática Ucraniana para Reformas participou pela primeira vez de uma eleição parlamentar e conseguiu, com 12,88%, conquistar o quarto lugar, segundo a apuração parcial.
Mas o próprio Klitschko não quis celebrar, dando a entender que esperava um resultado melhor. "Havia um grande potencial, com muitos eleitores indecisos", comentou Klitschko na sede de seu partido, em Kiev, acrescentando que o partido iria agora analisar por que não conseguiu um resultado ainda melhor. "Vamos nos dedicar a essa análise", disse o pugilista, que se apresentou diante da imprensa de calça jeans, paletó e camisa branca, sem gravata.
Nacionalistas pela primeira vez no Parlamento
O resultado do partido nacionalista Svoboda (Liberdade) é tido como uma sensação. A agremiação conseguiu, segundo a primeira apuração, 8,34% dos votos, acima do que os especialistas esperavam. Assim, pela primeira vez na história recente da Ucrânia, um partido de extrema direita entra no Parlamento. O Liberdade tinha até agora seus redutos principalmente no extremo oeste da Ucrânia.
No meio político, o Liberdade tem reputação duvidosa. "O nome e o estilo parecem, em parte, inspirados no Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ)", escreveu o pesquisador de extremismo de direita Andreas Umland. Parceiros do Liberdade a nível europeu incluem a Frente Nacional, da França, e o movimento húngaro Jobbik.
Umland afirma, ainda, que o Liberdade tem uma forte russofobia em sua ideologia partidária, propagando o lema "Ucrânia para os ucranianos". Especialistas atribuem parte do sucesso eleitoral do partido à política de Yanukovytch, que promove a cultura russa na Ucrânia, o que desagradaria muitos ucranianos.
Relatos de compra de votos
O Liberdade e o partido de Tymoshenko querem se aliar no futuro Parlamento. Klitschko também anunciou sua intenção de se unir à oposição, mas disse ter reservas para com a ideologia do partido Liberdade.
Mesmo que os três partidos da oposição queiram se unir, seus votos não são suficientes para formar uma coalizão de governo porque apenas metade do Parlamento é eleito por listas partidárias. A outra metade é composta de candidatos independentes, como manda a nova lei eleitoral, introduzida por Yanukovitch.
Dessa forma, o partido governista de Yanukovitch espera alcançar, com a ajuda dos mandatos independentes, a maioria absoluta no Parlamento, afirmam analistas. Críticos falam em "compra de votos".
Acusações conhecidas
Essas acusações também são conhecidas da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que enviou um número recorde de observadores à Ucrânia. Em seu relatório preliminar, a entidade criticou o "abuso de recursos administrativos", na maioria das vezes em favor do Partido das Regiões citando. Um dos exemplos dados é a distribuição de alimentos a eleitores.
Porém, o maior problema desta eleição é o fato de políticos proeminentes da oposição, como a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, não poderem concorrer. É considerado muito provável que os observadores da OSCE classifiquem a eleição como antidemocrática em vários aspectos. Isso aconteceria a primeira vez desde a Revolução Laranja, em 2004.
Autor: Roman Goncharenko (md)
Revisão: Alexandre Schossler