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Jejum como prática religiosa

Stefanie Duckstein /sm15 de outubro de 2004

O nono mês do calendário lunar islâmico, Ramadã, começa nesta sexta-feira. Muçulmanos praticantes jejuam durante quatro semanas nesta fase de conscientização religiosa, também na Alemanha.

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Muçulmanos oram às vésperas do Ramadã 2004Foto: AP

"Embora eu já tenha vivido o Ramadã tantas vezes, toda vez é algo muito especial", diz Hüseyin Midik, nascido na Turquia e residente em Berlim há 25 anos. "O mês de jejum é especial porque as pessoas são um pouco mais religiosas do que o usual. Além disso, dá para sentir na própria pele o que significa passar fome e sede. Isso leva a gente a pensar em quem tem bem menos para viver do que um alemão médio."

Hüseyin Midik jamais deixou passar em branco um Ramadã. Ele é um dos 3,3 milhões de muçulmanos na Alemanha, entre os quais a prática do jejum não é unânime. Viajantes e doentes são dispensados do jejum, bem como gestantes e mães que amamentam.

Sem brigas, mentiras e calúnias

O jejum é um dos cinco deveres sagrados dos muçulmanos, entre a profissão de fé, a oração cinco vezes ao dia, a doação de esmolas a pessoas necessitadas e a peregrinação a Meca.

De acordo com a tradição, o Ramadã começa assim que a lua crescente estiver visível no céu. Isso pode levar a divergências em relação à data de início e o fim do "mês quente". No deserto árabe, por exemplo, a lua pode ser observada com mais facilidade do que na nublada Europa Central. Para evitar confusões, existem calendários com o registro das diferentes fases de oração.

Durante os 30 dias do Ramadã, todo muçulmano praticante tem que se ater a uma rigorosa abstinência. Do nascer ao pôr-do-sol, não se pode comer nem beber. Outras ações motivadas por desejo, como fumar e manter relações sexuais, também não são permitidas. Brigar, mentir e caluniar também são atos a serem evitados. Todos devem se esforçar para ser tolerantes e pacientes para com os outros. Um verdadeiro desafio para Hüseyin: "Quando alguém me dá nos nervos, digo simplesmente 'Estou em jejum. Saia da minha frente.' É uma época para se conscientizar, tomar distância do cotidiano. Então dá para perceber como somos finitos, na verdade".

Compartilhando a alegria

No fim de um dia de abstinência, a pessoa é recompensada com o Iftar, a cerimônia de quebra do jejum. Todos participam de abundantes jantares com a família ou amigos. Nas noites do Ramadã, a vida social e religiosa se intensifica. Trinta vezes seguidas, a tensão ascética do dia é sucedida pela descontração da noite.

Ramadan in Deutschland
Início do Ramadã na mesquita de Constança, no sul da AlemanhaFoto: AP

Hüseyin já passou o Ramadã na Turquia algumas vezes. Para ele, não faz muita diferença ir a uma mesquita na Alemanha ou na Turquia. Se bem que as festas noturnas na Turquia sejam bem mais animadas do que em Berlim, admite ele. Os alemães têm outro ritmo, um ritmo mais diurno, pensa Hüseyin.

Ramadã e dia de trabalho

Algumas empresas alemãs abrem espaço para facilitar a prática religiosa de seus funcionários. A fábrica da BMW em Berlim emprega cerca de 300 estrangeiros. A maioria deles é de origem turca ou muçulmanos praticantes. Para Dieter Krohm, porta-voz da BMW, a prática da religião é algo altamente pessoal, mas a relativa abertura da empresa para com os funcionários religiosos é motivo de orgulho. "Temos uma sala de oração na fábrica há aproximadamente 20 anos. Todo funcionário pode ir rezar lá, mesmo que somente durante os intervalos de trabalho. Afinal, isso não pode interromper o fluxo da produção. Mas as coisas funcionam bem. A sala é muito bem freqüentada."

Doce recompensa

Quem jejuar durante 30 dias tem, por fim, uma recompensa um tanto mundana. A festa da quebra do jejum, Bairam, marca o fim do Ramadã com uma imensa quantidade de doces, não apenas para as crianças.