Em busca de uma nova via
12 de julho de 2003Enfrentar um processo "doloroso" de modernização dos programas partidários. Esta é a fórmula sugerida pelo chanceler federal alemão aos partidos social-democratas que pretendem manter-se no poder. Gerhard Schröder acrescentou numa entrevista ao jornal Financial Times que seu Partido Social Democrata (SPD) "precisa encontrar um novo equilíbrio entre liberdade, de um lado, e solidariedade ou segurança, do outro".
O exemplo dos socialistas franceses teria mostrado a reação dos eleitores quando isto deixa de acontecer, lembrou Schröder. O líder político alemão viaja a Londres neste domingo para participar da Conferência sobre Governança Progressista, que contará com a participação de 400 representantes de vários países.
Além do ex-presidente norte-americano, Bill Clinton, aliás um dos iniciadores do movimento, também conhecido como Terceira Via, a quinta edição da cúpula reformista dos governos de centro-esquerda terá a participação do presidente brasileiro, Luís Inácio Lula da Silva, do premiê canadense, Jean Chretien, do chefe de governo da África do Sul, Thabo Mbeki, e do chileno Ricardo Lagos.
Globalização e americanismo – O premiê britânico, Tony Blair, conclamou uma política mundial de justiça social e da solidariedade como condição para a paz e o bem-estar. Ao mesmo tempo, advertiu para uma política de exterior antiamericanista e que rejeita a globalização. "Ambas as posições levam a becos sem saída, pois a globalização não pode mais ser freada e traz consigo muitas chances", declarou Tony Blair nesta sexta-feira (12).
O ministro alemão da Economia disse na abertura da conferência que "em muitos casos, como na Holanda e na Dinamarca, o eleitorado não apoiou social-democratas que obtiveram êxitos econômicos seguindo a terceira via", mas acrescentou que talvez outros temas tenham relegado os êxitos a um segundo plano. Para Wolfgang Clement, a tarefa central de uma social-democracia avançada é conjugar "uma maior flexibilidade econômica com um máximo de segurança social".
O jornal londrino Guardian publicou em sua edição deste sábado advertências do presidente do Brasil sobre uma acomodação do espírito neoliberal. A esquerda deve continuar seguindo seu objetivo de atingir uma sociedade mais justa: "Realismo político não pode ser a justificativa dos que abrem mão dos sonhos que servem de base para o pensamento de orientação esquerdista", escreve o jornal citando Lula.
Exemplo brasileiro – O presidente do Brasil é considerado uma das figuras-chave do encontro, pelo seu projeto de combate à miséria e suas críticas contra as barreiras comerciais que penalizam os países em desenvolvimento.
A imprensa britânica manifestou ceticismo com o encontro de quatro dias. "Partidos social-democratas há muito já não compõem alianças internacionais", escreveu o Independent. "O premiê britânico, Tony Blair, procura com muito mais freqüência os chefes de governos de direita, como o espanhol José Maria Aznar e o italiano Silvio Berlusconi", publicou o diário de tendência liberal de esquerda.