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Carros para o Mercosul, etanol para a UE

Geraldo Hoffmann23 de junho de 2004

Brasil oferece cotas de importação de automóveis europeus e negocia venda de etanol para União Européia. Alemanha interessada em soja orgânica.

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Empresários alemães e brasileiros reunidos em StuttgartFoto: Geraldo Hoffmann

Seguindo o exemplo da UE, que quer estabelecer cotas para importação de produtos agrícolas do Mercosul, o bloco dos países do Cone Sul oferece cotas para importar automóveis produzidos na Europa. A informação foi dada pelo ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, em entrevista à DW-WORLD, no encerramento do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, nesta terça-feira (22), em Stuttgart.

Os detalhes da proposta ainda serão discutidos com a indústria automobilística, mas o ministro já revelou um número: "A Europa quer vender 60 mil veículos por ano, mas nós pensamos em cerca de 30 mil que poderiam entrar no Mercosul sem taxa de importação", disse. Para o setor de autopeças, o Mercosul oferece uma redução gradativa dessas taxas num período de dez anos.

Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogério Golfarb, o Brasil importou 12 mil carros da UE em 2003. Ele não acredita que essas cotas prejudiquem a indústria brasileira do setor. "O Brasil tem experiência com cotas e esse instrumento pode facilitar o início do comércio entre UE e Mercosul". Essa opinião é partilhada também por Ben van Schaik, presidente da DaimlerChrysler do Brasil: "A competitividade da indústria automobilística brasileira é tão alta em termos de preços e qualidade que isso não deve causar problemas", salientou.

Conforme o vice-presidente do Fórum Empresarial UE-Mercosul, Ingo Plöger, as cotas para os automóveis são a resposta brasileira para tentar resolver o impasse nas negociações do acordo de livre comércio entre os dois blocos econômicos. "Mas o Brasil quer também vender 1 bilhão de litros de etanol para a UE. Vamos ver se eles abrem as mãos nesse sentido", disse.

Agronegócios e biocombustível

A delegação brasileira no encontro em Stuttgart pressionou a Alemanha a ajudar o país a colocar produtos agrícolas e biocombustíveis no mercado europeu. O governo alemão mostrou-se um tanto resistente neste assunto, mas prometeu colaborar com uma campanha de informações sobre o carro flex fuel (que permite combinar gasolina com álcool em qualquer proporção) junto ao setor automobilístico e às companhias petrolíferas do país.

Carlos Lovatelli
Carlo Lovatelli, da AbagFoto: Geraldo Hoffmann

A delegação alemã em Stuttgart também mostrou interesse num acordo preferencial para importação de soja não transgênica do Brasil. Se vier a ser concretizado, este acordo mais tarde poderá ser estendido à UE, segundo o presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Carlo Lovatelli. Pelos dados da Abag, 75% da soja brasileira não é geneticamente modificada. A UE importa anualmente 20 milhões de toneladas de soja – metade em grão, metade em farelo –, sendo que 60% do total vem do Brasil, produtor de 54 milhões de toneladas por ano.

As delegações dos dois países saíram satisfeitas da reunião da Comissão de Cooperação Econômica Brasil-Alemanha, que ocorreu no âmbito do encontro de Stuttgart. "Avançamos em vários pontos e ficou claro que o Brasil não está sendo esquecido pelos investidores alemães", concluiu Jürgen Harnisch, do grupo ThyssenKrupp, que chefiou a delegação empresarial alemã. Ele acredita que principalmente nos setores de infra-estrutura, energia, biotecnologia e logística ocorrerão fortes investimentos alemães no Brasil nos próximos anos.