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Bert Neumann recebe Prêmio de Teatro de Berlim

Simone de Mello11 de maio de 2003

O cenógrafo e figurinista Bert Neumann, desde 1992 na Volksbühne, recebe no domingo (11) o Prêmio de Teatro de Berlim 2003.

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O cenógrafo-chefe do teatro berlinense VolksbühneFoto: Jens Berger-TIP

Após ter sido escolhido duas vezes seguidas, em 2001 e 2002, cenógrafo do ano pela revista Theater Heute, Bert Neumann recebe no domingo (11) o Prêmio de Teatro de Berlim. Segundo a justificativa do júri, Neumann influenciou como ninguém a estética teatral dos últimos dez anos na Alemanha, espelhando assim as mudanças ocorridas no mundo neste período. Seu trabalho como cenógrafo-chefe da Volksbühne de Berlim representaria "a revolução na permanência". Para o júri, a importância de Neumann reside em ter alterado o olhar e as maneiras de percepção do teatro na era multimídia.

"Naturalismo de um mundo desnaturado"

Os cenários de Bert Neumann são geralmente construídos para ser usados como espaços reais, oferecendo a necessária resistência a atores e diretores por confrontá-los com um naturalismo incomum. Rompendo a vertente estilizada da cenografia da década de 80, Neumann sempre criou espaços sob medida humana, destacando sobretudo a presença do ator.

A incorporação de uma perspectiva cotidiana e o interesse por um teatro próximo da realidade social foram motivos decisivos para a premiação de Neumann. Destacado como pensador de resistência, ele é homenageado por ter introduzido na estética teatral alemã o "naturalismo de um mundo desnaturado". Para os premiadores, o mérito de Neumann reside em se distanciar de uma arte vazia, "investigando as formas de vida encenadas e a encenação da vida na arte, de forma conseqüente e transformadora".

Neumann em Neustadt

Colaborando com o encenador Frank Castorf, diretor-geral da Volksbühne desde 1993, Neumann influenciou — praticamente desde a reunificação — a imagem deste teatro de Berlim, conhecido pelo acionismo de suas produções. No início de 2003, por ocasião dos dez anos de atuação da equipe de Castorf na Volksbühne, o teatro resolveu abdicar de festas e realizar um "experimento megalomaníaco", como descreveu Neumann.

Trata-se da cidade "Neustadt", um espaço urbano com supermercados, cabeleireiros e escritórios, palco de duas novas produções da última temporada, 24 horas não são um dia (24 Stunden sind kein Tag), sob direção de René Pollesch, e Os Idiotas (Die Idioten), na montagem de Frank Castorf. A "Cidade Nova" de Neumann rompe a dissociação entre palco e auditório, fazendo com que cada espectador tenha uma perspectiva única e individual do espaço. A idéia de que cada um tem acesso a diferentes informações, de acordo com o posicionamento, corresponde à nossa experiência cotidiana, justificou Neumann por ocasião das estréias.

O culto ao trash

O cenógrafo, conhecido no Brasil com Teatro de Pronta Entrega e The Puppetmastaz, montadas em São Paulo no final do ano passado, nasceu em Magdeburgo, em 1960, e cresceu em Berlim Oriental, em meio à "cultura do leste". Filho de arquitetos que sempre defenderam a estética da Bauhaus contra as críticas de vazio formalista, comuns na Alemanha Oriental, Neumann optou — em seu trabalho — pelo trash, pelos materiais baratos, pelos objetos produzidos para ser jogados fora, pelos fetiches do consumo de massa.

A opção de Neumann não representa, no entanto, uma crítica unilateral à sociedade de consumo. Mais do que isso, o lixo industrial é usado como instrumento de articulação de desejos, aquém da sublimação. A concepção da "Neustadt" permite justamente isso, estabelecendo-se como espaço "sustentável" que permite a integração de teatro e urbe.