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Alemães redescobrem as virtudes

vs/rw24 de julho de 2003

Pontualidade e seriedade, características associadas aos alemães e consideradas fora de moda, são redescobertas pelos jovens. Por quê, em tempos de crise, virtudes são valorizadas? Um comentário de Verica Spasovska.

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A expressão "novos valores" povoa os jornais alemães. Valores que na realidade nem são novos, mas de hora para outra voltaram a ser modernos. Seja na vida privada, na escola ou na economia, os valores tradicionais vivem um renascimento.

As revistas publicam séries inteiras sobre o tema "bom comportamento". Sobre quem, por exemplo, deve ser apresentado a quem primeiro. Questões que de repente voltaram a ser importantes. Escolas discutem com profunda seriedade a reintrodução dos uniformes, para evitar que os adolescentes sigam a moda da "barriga de fora" e também para não deixar transparecer as diferenças sociais entre os alunos.

O presidente da Confederação Alemã dos Empregadores, Dieter Hundt, chegou a apelar por uma "educação que acentue mais os valores". Quais seriam os motivos de os alemães retornarem aos velhos valores? Trata-se apenas de uma tendência passageira? Ou virou tema porque falta assunto à mídia?

De forma alguma. Já no ano passado, o renomado estudo Shell, que regularmente analisa o comportamento da juventude alemã, revelou tratar-se de uma geração pragmática.

Participação x isolamento – Jovens alemães consideram família e filhos especialmente importantes. Seu lema é "ascender em vez de cair fora": a juventude quer participar positivamente da sociedade, em vez de se isolar dela.

Esta tendência está se desenvolvendo. O que não impressiona, pois a chamada "geração Golf" – alemães de 20 a 35 anos, que há alguns anos, com o boom na Bolsa, estava bem "por cima" e, seguindo um clichê antigo, dirigiam chiques Golfs da Volkswagen – foi derrubada pela conjuntura enfraquecida. Quanto maior a insegurança conjuntural, maior a necessidade de segurança, a disposição de fazer algo – e também seguir um cânone obrigatório de valores.

Exatamente formas de comportamento que no alemão considerado ultrapassado se denominam "virtudes". Formulado no alemão moderno, são as "competências pessoais e sociais" que estão sendo redescobertas pela economia, pelas escolas e pelos próprios jovens.

Escola e vida profissional – O clamor pelo retorno aos "novos velhos" valores é uma conseqüência clara do choque causado pelos resultados do estudo PISA. Eles haviam revelado que os escolares alemães, e com isso todo o sistema de ensino da Alemanha, são medíocres numa comparação internacional. A conseqüência é que, de repente, todo o país começou a debater os déficits da "escola" como tradicional instituição de ensino.

Se o presidente da Confederação Alemã dos Empregadores cobra virtudes como confiabilidade, pontualidade e disciplina, isto também é um reflexo de que as empresas estão vendo que falta cada vez mais preparação para a vida profissional aos que deixam as escolas.

A cota deste "grupo de risco" com problemas em sua formação profissional cresceu de 10% para 25% nos últimos anos. Porém, justamente no setor da prestação de serviços, são importantes a seriedade, a pontualidade, as boas maneiras e a honradez no tratamento dos clientes.

Papel da família e da escola – Nem a economia alemã quer uma juventude "super certinha". Mas ela tem um grande interesse em que voltem a ser transmitidas mais intensamente as competências sociais e pessoais.

Esta é uma tarefa nas famílias e principalmente das escolas. Justamente ali é preciso recuperar o atraso. Os maus resultados dos escolares alemães no estudo internacional PISA deixaram claro que as notas nos boletins não refletem o desempenho moral e social. Mas também está claro que autodisciplina e a dedicação melhoram o desempenho.

Onde – como é comum hoje em dia na Alemanha – se gasta muito tempo tratando de acalmar classes barulhentas nas escolas, antes de começar a ensinar algum conteúdo, lá está sendo impedido o processo de aprendizagem. A Saxônia já aprendeu com o problema e há três anos foi o primeiro Estado alemão a reintroduzir, nos boletins de seus alunos, uma avaliação sobre o comportamento.

A educação, isso já disse o ex-presidente alemão Roman Herzog, não é apenas a transmissão do conhecimento. Para o desenvolvimento da personalidade, é preciso transmitir também valores e competências sociais.