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Sem apoiar CNT, Brasil irá a conferência internacional sobre Líbia

31 de agosto de 2011

País enviará representante a Paris para conferência sobre Líbia esta semana (1/9). Brasília ainda não tem posição oficial sobre apoio ao Conselho Nacional de Transição (CNT), órgão político dos rebeldes no país africano.

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Antônio Patriota, chefe da diplomacia brasileira; Governo não tem posição oficial de apoio a rebeldes líbios
Antônio Patriota, chefe da diplomacia brasileira; Governo não tem posição oficial de apoio a rebeldes líbiosFoto: DW

Nos últimos dias, a situação da Líbia tem ganhado destaque na pauta de discussões internas do Governo brasileiro. Uma reunião entre a Presidente Dilma Rousseff e o Ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, na segunda-feira (29/8), assegurou a participação de um representante brasileiro na reunião organizada pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy, com países do chamado Grupo de Contato, que envolve as maiores economias do mundo.

O Brasil não faz parte do grupo, mas foi convidado a participar do encontro, que acontece na quinta-feira (1/9) e tem como objetivo discutir a reconstrução da Líbia entre cerca de 60 delegações esperadas pelo ministério das Relações Exteriores francês.

"Uma preocupação é uma estabilização pós-mudança de Governo", diz o chefe da diplomacia brasileira, que espera que a reconstrução ajude a diminuir o nível de violência no país do norte africano. Além disso, segundo Patriota, a reestruturação servirá "para que a Líbia possa se dedicar à reconciliação nacional [e] a um cronograma de transição política que leve a um país mais democrático".

O ministro garante que o Governo mantém contato com interlocutores, como representantes da Liga Árabe, com o Presidente sul-africano Jacob Zuma e com membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU).

Brasil, Índia, China, Rússia e Alemanha não votaram resolução que permitiu ataques aéreos internacionais na Líbia
Brasil, Índia, China, Rússia e Alemanha não votaram resolução que permitiu ataques aéreos internacionais na LíbiaFoto: AP

Sem posição oficial sobre apoio a rebeldes

A posição oficial do Governo brasileiro atualmente é que o Brasil apoia as aspirações do povo líbio por liberdade, democracia, melhores oportunidades e por progresso institucional. A manifestação oficial virá depois da deliberação do comitê de credenciais da Assembleia Geral das Nações Unidas para decidir quem é o Governo legítimo da Líbia – uma decisão que deverá ser acatada pelo conjunto da comunidade internacional, incluindo o Brasil.

Além de Índia, China, Rússia e Alemanha, o Brasil também não votou quando o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 1973 na Líbia, autorizando o uso da força para proteger civis.

Segundo o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antônio Patriota, "havia a suspeita e o temor de que esta autorização [de ataques aéreos para proteger a população civil] pudesse ser desvirtuada. É um elo muito problemático associar a promoção de democracia e de direitos humanos a iniciativas militares", afirma.

Pio Pinto, especialista em Relações Internacionais da Universidade de Brasília, avalia que a posição do Brasil é de excessiva cautela. Porém, esse cuidado brasileiro faria sentido no âmbito de uma estratégia de alinhamento sul-sul, que contraria os métodos dos países do hemisfério norte.

"A África do Sul, que é outro importante parceiro brasileiro tanto no [grupo dos] BRIC [Brasil, Rússia, Índia e China] quanto no IBAS [Índia, Brasil, África do Sul], também colocou restrições a essa velocidade dos países ocidentais – que fizeram a intervenção internacional na Líbia e queriam também uma evolução mais rápida do quadro", exemplifica Pinto.

Pragmatismo e interesses econômicos

Pio Pinto também opina que é importante o Brasil participar de conversas e estratégias de reconstrução da Líbia, levando em conta os interesses econômicos brasileiros no país. "O Brasil deveria ser pragmático e participar, porque há investimentos brasileiros na Líbia. Algumas grandes empresas brasileiras estavam atuando lá", lembra. "Agora, será mais ou menos como foi no Iraque: a reconstrução vai ser uma mina de ouro para os países que destruíram parte importante da estrutura do país", avalia.

Autora: Ericka de Sá (Brasília)
Edição: Renate Krieger / Marta Barroso