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Guiné-Bissau: "Repressão da manifestação foi intimidação"

Nádia Issufo
10 de abril de 2017

Liga Guineense dos Direitos Humanos critica "intervenção musculada" da polícia no sábado (08.04.) contra manifestantes que contestam longa crise política e o Presidente Jomav. ONG diz que foi uma intimidação ao cidadão.

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José Mário Vaz, Presidente da Guiné-BissauFoto: Getty Images/AFP/S. Kambou

A polícia usou gás lacrimogéneo, bateu e deteve sete dos descontentes por algumas horas. A libertação só tera sido possível graças a intervenção da UNIOGBIS (gabinete integrado da ONU para consolidação da paz na Guiné-Bissau) e da Liga Guineense dos Direitos Humanos. A DW África entrevistou o presidente da Liga, Augusto Silva, sobre o sucedido:

DW África: Houve algum ato de vandalismo ou de violência que justificasse o uso de gás lacrimogéneo?

Augusto Silva (AS): Não houve nenhum ato de vandalismo e nem de perturbação da ordem pública que pudesse justificar o uso de gás lacrimogéneo. As pessoas estavam a manifestar-se de forma pacífica, convocaram uma vigília para o dia de sábado e estavam lá concentradas de forma pacífica sem praticar atos que pudessem por em causa a ordem pública. Nós achamos que a intervenção da polícia foi abusiva, que visava simplesmente restringir o exercício de um direito fundamental e essa restrição foi abusiva, sem qualquer fundamento legal. Nem as circunstâncias das manifestações justificavam uma intervenção musculada da polícia.

DW África: Esta nova postura da polícia guineense pode ser entendida como uma demonstração de força, ou até intimidação, por parte do Presidente Jomav e do Governo próximo a ele?

Augusto Silva  Präsident Liga Guineense dos Direitos Humanos
Augusto Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH)

AS: Não me posso referir diretamente ao Presidente ou ao primeiro-ministro, mas reportando-se diretamente ao ato da polícia, eu acho que é uma forma de intimidar os cidadãos para se absterem de exercer um direito cívico, constitucionalmente consagrado e nós não podemos compactuar com comportamentos do género. A polícia não deve estar para nenhum regime, deve estar para proteger os cidadãos, para defender a segurança nacional e a ordem pública, independentemente de quem esteja no poder. Portanto, pensamos que a polícia deve conformar os seus atos com os princípios de Estado de direito, princípios constitucionais e legais que regulamentam e disciplinam a atuação de agentes da ordem pública.

DW África: O Movimento de Cidadãos Conscientes e Inconformados criticou a comunidade internacional por considerar que esta tem um comportamento passivo face a crise política que a Guiné-Bissau vive. Vê a situação da mesma maneira?

AS: Não, acho que a comunidade internacional tem dado apoio dentro das suas competências ao longo desta crise. A comunidade internacional privilegiou o diálogo e nós pensamos também que esse deve ser o caminho para a saída da crise. Agora, a nossa classe política é que tem de ganhar consciência que esta crise só pode ser ultrapassada não por via da força, mas pelo diálogo e colocarmos os interesses supremos da Guiné-Bissau e do povo acima de qualquer outro interesse.

DW África: Depois desta repressão a sociedade civil vai se deixar intimidar e parar de contestar a crise política?

AS: Não, pela experiência que tenho da sociedade civil e do povo guineense [não]. O povo guineense é por natureza resistente, não é com este comportamento dos agentes policiais que nós vamos deixar de exercer os nossos direitos cívicos e fundamentais, entre outros. A sociedade mantém-se firme e determinada em não deixar cair por terra as conquistas alcançadas até aqui. A liberdade de expressão e manifestação é uma conquista histórica do povo guineense.

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