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'É fácil ser alemão no exterior'

Julie Gregson (av)21 de abril de 2008

Na Alemanha para lançar seu novo livro, Steffen Möller conquistou a Polônia com uma arma pouco germânica: auto-ironia. "Basta exagerar os clichês e aí subvertê-los", afirma o humorista e astro da TV polonesa.

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Steffen Möller vive na Polônia há 14 anosFoto: Martin Pudenz

O alemão Steffen Möller visitou a Polônia pela primeira vez há 14 anos, para um curso de idioma de duas semanas. Ele apreciou tanto o país, que decidiu voltar para ficar. Após sete anos ensinando alemão, lançou sua carreira de cabaretista e ator de televisão. Embora relativamente desconhecido no país natal, o astro de novelas e apresentador de game shows já se tornou patrimônio polonês.

O emigrante alemão também escreveu uma série livros, dos quais o mais recente é Viva Polonia – relato de suas experiências e guia para a pátria adotada. Em 2005, Möller recebeu a Cruz de Mérito Alemã, por seus serviços às relações teuto-polonesas.

DW-WORLD.DE: Havia muitos alemães como você, quando chegou à Polônia em 1994? A situação mudou, desde então?

Steffen Möller: Muitos alemães vão trabalhar para empresas alemãs na Polônia, porém tendem a permanecer como gerentes dessas firmas. Eu era um dos poucos empregados por poloneses. Agora realmente recebo, de vez em quando, e-mails de alemães que se mudaram para a Polônia, mas não acho que sejam tantos assim. Penso que haja muitos mais em Praga ou Budapeste.

Qual é a razão para isto, na sua opinião?

Polen Deutschland Presse Titelblatt Wprost Angela Merkel und Lech Kaczynski
Merkel e os irmãos Kaczynski foram capa do semanário popular 'Wprost' em junho de 2007Foto: AP

Entre todos os países da União Européia, a Polônia e a Romênia têm talvez a pior reputação na Alemanha, sendo a da Polônia talvez a pior de todas. Acho que isso está ligado ao fato de o país ser o segundo maior vizinho da Alemanha.

As relações com a Polônia só se normalizaram nos últimos anos, e há muitíssimo a ser recuperado. Além disso, é claro, é enorme a diferença do padrão de vida na fronteira oriental alemã. Muitos alemães só conhecem poloneses trabalhando em feiras e bazares típicos... e um monte de ladrões poloneses de carros. Mas neste ponto, o problema é cada vez menor, pois os extremos estão se aproximando.

Os alemães foram sempre fixados no Ocidente. Meu irmão, que vive em Paris, conta que os franceses têm para com a Alemanha a mesma relação que os alemães com a Polônia: para os franceses, a Sibéria começa no rio Reno, para nós, no rio Oder.

As relações entre alemães e poloneses mudaram, desde que você passou a morar na Polônia?

Sim. Há cada vez mais casais binacionais. Não se trata de agricultores alemães escolhendo mulheres polonesas num catálogo. Somente em 2005 houve 6 mil casamentos teuto-poloneses. Mais de 400 cidades dos dois países mantêm parcerias, e há diversas cooperações entre escolas. Porém não estou certo de que seja uma tendência crescente. Em 2002-2003 houve bastante interesse do lado alemão, devido ao ingresso da Polônia na UE, mas acho que ele diminuiu um pouco.

Seu livro Viva Polonia foi lançado na Alemanha este ano. No final do ano passado a editora Suhrkamp lançou um dicionário enciclopédico da cultura polonesa. Parece haver na Alemanha um mercado para publicações sobre o vizinho oriental.

Os alemães não sabem muito sobre a Polônia, e acho muito triste não se poder realmente estudar polonês aqui. Em todo o país há apenas uma cadeira de Estudos Poloneses. Há gente trabalhando em estudos eslávicos ocidentais, mas ninguém exclusivamente especializado na Polônia. Berlim está a apenas 80 quilômetros da fronteira polonesa, mas parecem mil.

Os poloneses sabem muito sobre a Alemanha?

Os poloneses têm muito mais interesse em outros países do que outras nações pós-socialistas. Considere o volume de emigração para a Inglaterra. Muitos alemães nem se dão conta de que quase 2 milhões de poloneses vivem atualmente na Inglaterra.

Continue lendo sobre o sucesso de um humorista alemão na Polônia e o futuro das relações teuto-polonesas.

Você ficou conhecido na Polônia sobretudo pelo papel de Stefan Müller, um agricultor alemão, numa das telenovelas mais populares do país, M jak Milosc (A de amor). Por que essa personagem alemã se tornou tão importante na Polônia? E o verdadeiro Steffen Möller?

Na verdade, não tenho aparecido na telenovela nos últimos seis meses, estou "descansando". A coisa boa na Polônia é que as personagens não têm que morrer em acidentes aéreos, elas são simplesmente enviadas para o exterior. Faz todo o sentido, pois os poloneses vivem viajando. Acho que Müller é tão popular por ser tão lamentável. Ele não tem sorte no amor, mas é um cara ultra simpático, que todo o mundo quer ajudar.

Também apareço num show humorístico sobre a Europa. Nele represento um comediante e demonstro uma característica que os poloneses não esperam dos alemães: auto-ironia. É fácil ser alemão no exterior: você só precisa exagerar um pouco os clichês e depois subvertê-los e, pronto, virou um cabaretista-estrela. Nenhum outro país europeu tem uma imagem tão negativa quanto a Alemanha, e isto é um bom ponto de partida para o humorismo.

Quer dizer que você na verdade se beneficia dos estereótipos sobre os alemães?

Claro!

Buchcover Steffen Möller Viva Polonia Fischer Verlag Als deutscher Gastarbeiter in Polen
Capa de 'Viva Polonia'Foto: Martin Pudenz

Quando Jaroslaw Kaczynski era primeiro-ministro, as relações entre Berlim e Varsóvia eram muito tensas. No ano passado, um novo governo assumiu. Isto marca um novo capítulo nas relações teuto-polonesas?

Com certeza. O novo premiê, Donald Tusk, está tentando normalizar as relações entre os dois países, com grande sucesso. Prova é o fato de que a Polônia esteve praticamente invisível na mídia alemã, nos últimos meses: isto demonstra que tudo está normal. Talvez as vendas de meus livros se beneficiaram disto, pois alguns alemães acham que agora podem passar férias na Polônia. Isso é uma bobagem, claro. Os alemães de visita à Polônia sempre esperam ser confrontados com o passado alemão. Num certo modo, isso procede, mas no sentido de memoriais e cemitérios.

É interessante, os poloneses tratam a nós, alemães, muito bem. Um motivo é que os russos invadiram o país após os alemães, e esta lembrança é muito mais forte. Mas há uma outra razão: a desconfiança mútua é a doença nacional polonesa. Os poloneses não se suportam uns aos outros.

Se você quer alugar um apartamento em Cracóvia, competindo com seis poloneses, pode ter certeza: como alemão, você conseguirá a casa. Não porque o proprietário ame você, mas por não confiar que seus compatriotas pagarão o aluguel e o telefone. Nós, alemães, também lucramos com isso economicamente, pois somos considerados confiáveis e honestos, assim como ingênuos e sem humor.

De que sentiria falta, se deixasse a Polônia?

Do calor humano. No Natal recebi 40 mensagens de conhecidos poloneses, alguns dos quais não via há três anos. Mensagens bem longas. De minha cidade natal, Wuppertal, recebi uma única mensagem, dizendo "Feliz Natal".

Os poloneses também têm um senso de humor absurdo, de que os forasteiros também participam. Quando me perguntam se os alemães têm humor, digo: "Sim, mas só à noite, quando estão sentados no cabaré e sabem que têm permissão para rir".

O cartão de visita de meu bombeiro diz: "Lento, caro e nada confiável". Perguntei se a coisa funcionava como publicidade. Ele me disse que na Polônia todos reconhecem que era uma piada e ligam justamente por esta razão.

O que se poderia fazer para aprimorar as relações teuto-polonesas?

Acho que se deveria criar um canal de TV. Não por uma questão de correção política. Seria interessante ter notícias de nossos vizinhos europeus, isto contribuiria muito para cimentar a identidade européia. Poderíamos também construir sobre o que já há, expandir as parcerias existentes.

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