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SaúdeFrança

Variante ômicron: relaxar ou confinar?

Thomas Latschan
17 de janeiro de 2022

Em muitos países a incidência de casos de covid-19 atinge recordes. Alguns pressionam pelo endurecimento das regras de proteção, outros pleiteiam a flexibilização.

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Máscara médica suja, em chão molhado
Foto: Frank Rumpenhorst/dpa/picture alliance

França: professores protestam

Uma incidência semanal superior a 2.800 casos por 100 mil habitantes e quase 370 mil novas infecções em 24 horas: sob a impressão de cifras do covid-19 em ascensão meteórica, na noite de 12 de janeiro o Senado em Paris enrijeceu as restrições para os não vacinados.

No momento, estes não têm acesso a restaurantes, bares e eventos culturais, e não podem mais utilizar aviões nem trens de longa distância, como até então era possível apresentando um teste negativo para o novo coronavírus. O endurecimento será mantido enquanto houver mais de 10 mil pacientes de covid-19 internados nas clínicas francesas. Atualmente são 24 mil.

No entanto o Senado rechaçou adotar punições mais severas para as transgressões. As escolas também permanecerão abertas: só bem no início da pandemia elas foram temporariamente fechadas. Em seguida, apesar de todas as ondas de contágio, o governo francês fez questão de manter as aulas presenciais o máximo possível.

Entre os docentes, contudo, é grande o descontentamento com a troca constante das diretrizes para proteção de alunos e pessoal escolar, que não resultam em regulamentos definidos para o funcionamento ordenado do ensino. Na quinta-feira (13/01), houve greve nacional dos professores: a gota d'água foram as novas exigências de testes, impostas pouco antes do fim das férias de Natal e, desde então, já alteradas duas vezes.

Classe com crianças de máscara protetora
Classe em Thionville: França procurou manter aulas presenciais a todo custoFoto: Pierre Heckler/MAXPPP/picture alliance/dpa

Dinamarca: relaxar e vacinar

Nas ruas de Copenhague voltou basicamente a reinar a normalidade. Quase nada indica que também na capital dinamarquesa as cifras da pandemia são extremamente altas: há semanas a incidência semanal bate recordes, estando atualmente em 2.500, e diariamente mais de 20 mil cidadãos se contagiam com o Sars-Cov-19. Apesar disso, desde o domingo zoológicos, parques de diversão, cinemas e teatros puderam reabrir. O acesso só é permitido a vacinados, recuperados de uma infecção ou testados.

O ministro da Saúde Magnus Heunicke afirma que, no geral, os contágios com a variante ômicron transcorrem brandos, e a situação nas unidades hospitalares de tratamento intensivo está sob controle: embora os números estejam altos, a curva das novas infecções estaria se aplainando.

Na Dinamarca, a tendência é encarar de modo relaxado a onda da ômicron, apostando sobretudo na alta quota de vacinação: mais de 80% da população está inteiramente vacinada, 55% já recebeu uma dose de reforço. E Heunicke já acenou com uma quarta vacinação, em breve, para os grupos populacionais especialmente vulneráveis.

Espanha: "gripalização" controversa

Ao dar uma entrevista no rádio, em 10 de janeiro, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, desencadeou uma polêmica por todo o país.

Para proteger o sistema de saúde sobrecarregado, ele propôs futuramente não monitorar mais tão minuciosamente a progressão dos contágios. Diante da quota nacional de vacinação de mais de 80% e do fato de a ômicron resultar em quadros clínicos mais brandos do que as variantes anteriores, seria hora de considerar se não se passa a tratar a covid-19 como uma onda de gripe, sugeriu Sánchez.

As críticas não se fizeram esperar: para diversos médicos e cientistas, seria decididamente cedo demais para tal passo. Com a incidência semanal acima de 1.400 casos por 100 mil habitantes, e tantas UTIs sobrecarregadas, em todo o país, não se pode comparar a covid-19 a uma gripe, condenou Óscar Zurriaga, vice-presidente da Sociedade Espanhola de Epidemiologia. Os números de vítimas do coronavírus seriam também muito mais altos do que numa onda de gripe média.

Relaxar ou não? O potencial divisor dessa pergunta se reflete também nas medidas para contenção do coronavírus atualmente vigentes na Espanha. Enquanto na capital, Madri, apesar de uma incidência superior a mil, só se imponha a obrigatoriedade do uso de máscaras sanitárias, diversas regiões exigem atestado de vacinação ou recuperação. Em Astúrias, estão proibidos serviços gastronômicos em espaços fechados; na Catalunha vigora até mesmo o toque de recolher noturno.

Reino Unido: nos rastros de Madri?

No Reino Unido, a situação é bastante semelhante à da Espanha: o número de casos é alto, a quota de vacinação também. E também lá os primeiros especialistas anunciam o fim da pandemia, enquanto outros aconselham cautela, já que a incidência semanal ultrapassa 1.500, e diariamente se registram 170 mil novas infecções.

Entretanto, também o ex-diretor da força-tarefa britânica para vacinas Clive Dix urge o retorno a uma "nova normalidade", uma vez que a ômicron apresenta quotas de mortalidade semelhantes à de uma gripe. Em vez de testagens em massa, Dix aposta numa "estratégia direcionada" para os grupos especialmente vulneráveis.

Mais de 90% dos britânicos estão inteiramente vacinados, 60% já receberam uma dose de reforço. A incidência é alta, porém a curva de contágios se aplainou significativamente. Na Inglaterra, o período de quarentena para os pacientes de covid-19 foi reduzido de sete para cinco dias, a fim de aliviar a falta de pessoal em empresas, escolas e hospitais.

Em outras partes do reino insular, as regras anti-covid são bem mais estritas. No início de janeiro, 200 soldados foram mobilizados para os hospitais londrinos, pois demasiado pessoal médico faltara por motivo de doença. O número de operações marcadas que tiveram que ser adiadas alcançou o recorde de 6 milhões. Assim, também no Reino Unido, as medidas de flexibilização planejadas são alvo de controvérsias acaloradas.

Grande barraca com pessoal médico e sujeitos de teste sentados a mesas de plástico
Em Tianjin, testes em massa foram reação imediata a primeiros casos com variante ômicronFoto: CHINATOPIX/dpa/picture alliance

China: tolerância zero, apesar de cifras baixas

Ao contrário de diversos países europeus, na China não se cogita relaxar as regras antipandemia – apesar de há meses a incidência semanal ser quase nula no país. Em três metrópoles foi decretado lockdown: Xi'an, 13 milhões de habitantes; Anyang, com 5,5 milhões; e Yuzhou, com 1 milhão.

Os confinamentos são parte de uma rigorosa estratégia de "zero covid": tão logo se registram mesmo poucos casos, cidades inteiras são colocadas em quarentena. Todos os moradores são testados e não podem sair de casa; as pessoas de contato mais próximas dos infectados são internadas compulsoriamente em hotéis de quarentena. O aplicativo de registro de casos de covid-19 é obrigatório, tornando fácil monitorar os contatos.

O tráfego aéreo internacional segue significativo restrito, os passageiros que chegam são colocados em quarentena durante semanas. Desde o início da pandemia, a China só registrou oficialmente cerca de 100 mil casos de covid-19 – menos do que os infectados em um só dia na França ou Espanha.

Excetuados os lockdowns regionais, contudo, a vida basicamente voltou ao normal no país. Ainda assim, conta-se com uma continuação da estratégia "covid zero", pelo menos até os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em meados de março.