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Urnas fecham em clima de tranquilidade no Quênia

8 de agosto de 2017

Milhões de quenianos elegem presidente do país em meio a temor de repetição da violência de 2007, mas votação transcorre sem incidentes graves. Resultado preliminar indica reeleição de Uhuru Kenyatta.

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Eleitores esperam para votar em Nairóbi
Afluência às urnas foi grande, com muitos quenianos indo para suas cidades de origem para votarFoto: Reuters/T. Mukoya

Milhões de quenianos foram às urnas nesta terça-feira (08/08) para eleger o próximo presidente do país, numa disputa acirrada e marcada pelo temor de uma repetição da violência pós-eleitoral de 2007. Porém, a autoridade eleitoral do país afirmou, logo após o fechamento das urnas, que a votação transcorreu sem maiores incidentes.

Os dois principais candidatos são o atual presidente, Uhuru Kenyatta – de 55 anos e filho do primeiro líder do país –, e o seu rival de longa data Raila Odinga – ex-prisioneiro político de 72 anos e filho do primeiro vice-presidente do país. Kenyatta e Odinga trocaram acusações de fraude e incitação à violência durante a campanha eleitoral.

Um resultado preliminar da comissão eleitoral indicava Kenyatta à frente, com 55% dos votos, contra 44% dados a Odinga, depois de apurados os votos de quase três quartos dos centros eleitorais. A afluência às urnas foi grande, com longas filas se formando ao longo do dia.

Kenyatta vota em Nairóbi
Kenyatta é filho do primeiro líder do paísFoto: picture-alliance/abaca/A. Wasike

Na véspera do pleito, Kenyatta apelou à paz num discurso televisionado. Ele pediu que os eleitores aguardassem com calma os resultados. "Vá para casa e fale com seu vizinho, independente de qual seja sua tribo, cor ou religião. O Quênia continuará aqui após as eleições gerais", afirmou.

Antes de assumir a presidência, em 2013, Kenyatta foi vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças do país. O pai dele, Jomo Kenyatta, foi o primeiro presidente do país, de 1964 a 1978, e desempenhou um importante papel na transição de uma colônia do Império Britânico para uma república independente.

Como em cada eleição nesse país da África Oriental, com mais de 48 milhões de habitantes e 19,6 milhões de eleitores, um grande número de quenianos que trabalha nas grandes cidades regressou aos locais de nascimento para votar, mas também como medida de precaução.

As eleições no Quênia são tradicionalmente decididas por sentimentos étnicos. Por isso, tanto Kenyatta (um kikuyu) como Odinga (um luo) construíram duas fortes alianças eleitorais para disputar os votos das cinco principais etnias, às quais pertencem cerca de 70% dos eleitores.

Raila Odinga vota em Kibera, uma favela de Nairóbi
Odinga é um ex-prisioneiro político de 72 anosFoto: Reuters/T. Mukoya

Nos últimos dias, o governo destacou mais 180 mil membros das forças de segurança para evitar a repetição do cenário pós-eleitoral de 2007, quando o país mergulhou em dois meses de violência que deixaram mais de 1.100 mortos e 600 mil deslocados depois de a oposição, liderada por Raila Odinga, ter reclamado de fraude eleitoral.

Do colonialismo a conflitos étnicos

No fim do século 19, o Reino Unido pediu que seus cidadãos colonizassem a África Oriental Britânica, protetorado instituído no fim do século 19 e que ocupava uma área que hoje corresponde aproximadamente ao Quênia. Os colonos britânicos garantiram para si o fértil planalto central, estabelecendo nele plantações e zonas de caça.

A região se tornaria o centro de uma política de separação racial. Sobretudo os moradores expulsos – o maior grupo étnico do Quênia, os kikuyu – passaram a ver os britânicos como inimigos e se tornaram a principal força na luta pela independência.

O recomeço político foi incorporado pelo primeiro presidente do Quênia, Jomo Kenyatta, ele próprio um kikuyu. Mas, já no seu governo, a política se tornou cada vez mais étnica. Membros de seu grupo étnico tinham preferência na distribuição de terras e cargos políticos. O sucessor do primeiro presidente, Daniel Moi, que permaneceu no poder por 24 anos, seguiu adiante com tal política.

Em 2002, veio a grande surpresa: o Quênia se tornou símbolo de esperança para toda a África. A oposição formou uma aliança. Seu candidato comum, Mwai Kibaki, foi eleito presidente.

Nas eleições seguintes, em 2007, a disputa entre Kibaki e o oponente Raila Odinga foi acirrada. Apesar de acusações de fraude, a comissão eleitoral declarou Kibaki vencedor. Os grupos étnicos de ambos os candidatos entraram em confronto.

As consequências foram catastróficas. Conflitos nos moldes de uma guerra civil deixaram quase 1.300 mortos e centenas de milhares de deslocados. A violência diminui somente depois que Kibaki e Odinga, sob pressão internacional, formaram um governo de coalizão.

Em 2010, uma reforma constitucional reforçou a separação de poderes. Desde então, o país é dividido em 47 distritos administrativos semiautônomos. Em 2013, o filho do fundador do Estado queniano, Uhuru Kenyatta, foi eleito presidente em eleições em grande parte pacíficas.

Economia e ameaça terrorista

O Quênia é a principal economia da África Oriental. Devido a sua localização privilegiada no Oceano Índico, serve de rota de exportação para os países vizinhos, por onde são transportados carros, máquinas e produtos da Ásia. Entre os principais itens de exportação do Quênia estão flores, chá e café.

A riqueza, no entanto, não é bem distribuída. Cerca de 40% dos quenianos vivem abaixo da linha de pobreza. O desemprego juvenil elevado e a corrupção são considerados problemas graves.

Um importante setor da economia é o turismo. Mas os tumultos após as eleições de 2007 diminuíram o número de visitantes. A ameaça do terrorismo islamista também afastou muitos turistas. Em 2013, terroristas invadiram um centro comercial em Nairóbi e deixaram mais de 60 mortos.

O pior ataque islamista já realizado no país ocorreu em 1998, tendo como alvo a embaixada americana em Nairóbi. Mais de 200 pessoas morreram, e milhares ficaram feridas.

LPF/dw/efe/lusa