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Retomada pouco promissora

1 de setembro de 2010

Coorganizado por Washington, o primeiro encontro em dois anos entre lideranças israelense e palestina é pouco promissor, do ponto de vista europeu. Apesar de ser maior doador para a região, influência da UE é mínima.

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Abbas, Netanyahu e Obama: nova esperança para o Oriente Médio?Foto: AP/DW

Está programada para esta quinta-feira (02/09) a retomada das negociações de paz no Oriente Médio. O próprio presidente estadunidense, Barack Obama, participou dos preparativos para a reunião entre o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente palestino, Mahmud Abbas. Trata-se do primeiro encontro entre ambas as lideranças desde 2008.

Apesar de muito dinheiro fluir da União Europeia (UE) para a região, os europeus mal são percebidos como atores políticos no conflito. Recentemente, a coordenadora da diplomacia da UE, Catherine Ashton, definiu assim a meta da política europeia para o Oriente Médio:

"Acreditamos que, no prazo de dois anos, as negociações trarão um acordo, levando a um Estado da Palestina independente, democrático, que coexistirá em paz e segurança com Israel e outros vizinhos."

Contudo, essa meta parece mais distante do que nunca: em quase todos os pontos controversos, as posições dos dois protagonistas são extremamente afastadas. E as expectativas dos europeus quanto à iniciativa de Washington são bem reduzidas.

Hamas, assentamentos e violência

Attentat auf Israelis
Violência na região não para: atentado contra assentamento israelense no final de agostoFoto: AP

Do lado palestino, um dos motivos para o ceticismo da UE é o grupo radical islâmico Hamas haver se apoderado da Faixa de Gaza, de modo que a administração oficial palestina só está governando, de fato, a Cisjordânia. E o Hamas tem-se recusado tanto a reconhecer o Estado de Israel quanto a renunciar à violência.

Do lado israelense, a construção de assentamentos na Cisjordânia e o bloqueio da Faixa de Gaza são motivos de preocupação europeia. Quando, no final de maio, a Marinha de Israel abordou no Mar Mediterrâneo uma flotilha internacional com bens de ajuda humanitária para Gaza, matando cidadãos europeus, houve muita crítica de Bruxelas.

A deputada belga socialista do Parlamento Europeu Véronique de Keyzer expressou-se assim: "Esta é uma tragédia também para Israel, pois perdeu todo o bom senso e a noção de direito internacional". Como já ficara decidido em 2008, sob essas condições a União Europeia não tem qualquer interesse em estreitar as relações com Tel Aviv.

Algo se move

Ambos os lados, portanto, dificultam muito à UE desenvolver uma política eficaz de entendimento. O que não impede que, contribuindo com 1 bilhão de dólares por ano, o bloco europeu seja, de longe, o maior financiador da Autoridade Autônoma Palestina.

Sem as verbas de Bruxelas, seria impossível manter boa parte dos serviços públicos nos territórios palestinos. Porém um problema para a UE é que uma grande porção de seu trabalho transcorre em pequena escala, mal sendo percebido pela comunidade internacional.

O ex-encarregado da UE para treinamento da polícia palestina Colin Smith relatou certa vez em Bruxelas sua difícil função. Ele organizara uma conferência com as polícias palestina e israelense sobre o trânsito, por considerar o tema bastante livre de carga política.

"Apesar disso, foram as horas mais difíceis da minha vida, mediando entre os dois lados", comenta. Por outro lado, um melhor intercâmbio de informações mudou algo: antes eram roubados muitos automóveis em Israel, porém os números caíram desde que a polícia palestina passou a ter acesso a bancos de dados israelenses. "Nesse nível, nota-se que algo acontece", registrou Smith.

Trabalho no escuro

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Assentamentos em Gaza; pedra no sapato também para a UEFoto: Shawgy Al-Farra

O principal problema da UE no Oriente Médio é a desproporção gritante entre seu gigantesco empenho financeiro e diplomático, e sua influência mínima. E os próprios europeus são responsáveis por tal situação.

Catherine Ashton, sua encarregada de Política Externa, foi, por exemplo, convidada para um jantar em Washington antes das conversações de paz propriamente ditas. Em vez disso, ela voou para uma visita à China, que fora programada com grande antecedência.

Um porta-voz da Comissão Europeu afirmou que Ashton não teria "qualquer influência substancial" sobre as conversas, já que as negociações individuais se desenrolam estritamente entre os dois protagonistas.

Diversos críticos consideram a ausência da representante diplomática, no entanto, um erro sintomático. Segundo eles, seria justamente devido a essa atitude reservada que a União Europeia se encontra tão abaixo de suas possibilidades de atuação no palco da política mundial.

Autoria: Christoph Hasselbach (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer