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Udo Lindenberg, o eterno menino do pop alemão

Silke Wünsch (av)29 de abril de 2016

Voz nasal, chapéu e bico de desdém de sempre, o astro pop alemão se autocelebra, aos 70 anos, no álbum "Mais forte que o tempo", refletindo sobre o seu próprio passado, presente e futuro.

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Cantor e compositor Udo Lindenberg lança seu 36º álbum de estúdio
Cantor e compositor Udo Lindenberg lança seu 36º álbum de estúdioFoto: Tine Acke

Udo Lindenberg é aquele que, através de uma canção, convidou a si mesmo para visitar o antigo líder da Alemanha comunista Erich Honecker. Ele é o inventor de inúmeras personagens – turistas teutônicos festeiros, desorientados, fãs de carros esporte, alucinados, controladores maníacos –, às quais dedicou várias músicas em suas décadas de carreira: Bodo Ballermann, Rudi Ratlos, Votan Wahnwitz, Johnny Controlletti, Riki Masorati.

De chapéu e charuto, o cantor alemão igualmente criou o seu próprio ícone. Prestes a completar 70 anos, ele ostenta 35 álbuns de estúdio, vários ao vivo e colaborações com outros músicos. Tudo isso prova que trabalhador fanático ele é, quanta energia investiu e ainda investe em sua personagem autocriada.

Resgatado pela geração MTV

Adorado pelos fãs, escarnecido por alguns como "eterno menino", mais tarde respeitado e admirado, Lindenberg nunca se deixou abater, nem mesmo pelos 20 anos em que ficou quase esquecido, em que muitos se perguntavam: "Será que ele não notou que está ficando velho? Ou será que ele não consegue mesmo ser diferente?"

Essa última teoria certamente procede, pois ele se manteve fiel a si mesmo e não tem a menor vontade de mudar. Seu famoso "bico de desdém" pode ter ganhado algumas rugas profundas, mas jamais se calou.

Quando, em 2008, Lindenberg reuniu em estúdio um grupo de músicos jovens e famosos – entre eles Jan Delay e Silbermond – para seu disco Stark wie zwei (Forte como se fosse dois), a nação pop alemã aguçou os ouvidos. O álbum foi sucesso imediato, ocupando o primeiro lugar das paradas de sucesso nacionais. Nunca um lançamento de Lindenberg vendera tanto: triplo disco de platina por mais de 600 mil exemplares vendidos.

Ao lado de Clueso (dir.) Lindenberg relançou seu sucesso "Cello"
Ao lado de Clueso (dir.) Lindenberg relançou seu sucesso "Cello"Foto: Tine Acke

Três anos mais tarde Jan Delay, Clueso, Max Herre, Stefan Raab e outros se juntavam ao compositor no palco para um show da série MTV Unplugged. O álbum Live aus dem Hotel Atlantic ocupou durante 112 semanas as listas alemãs de sucessos, vendendo mais de 1,1 milhão de cópias. E assim Udo Lindenberg fazia a felicidade não apenas de seus velhos fãs, mas também dos netos deles.

De Udo, por Udo, para Udo

Com sua inconfundível voz nasalada, Udo parte agora para a 36ª produção de estúdio, Stärker als die Zeit (Mais forte do que o tempo). As canções são reflexões sobre ele mesmo, sua vida, seu futuro. Há algumas semanas já saíra o single Durch die schweren Zeiten (Através dos tempos difíceis), em que o autor acompanha a si mesmo através do próprio presente.

Ele passeia por seu lar, o Hotel Atlantic em Hamburgo, onde há décadas ocupa uma suíte; entra em seu Porsche vermelho, coloca um cassete enquanto atravessa o túnel do Rio Elba. Transitando pela margem, seu segundo eu lhe acende um cigarro.

Gravado em estúdio pelo mundo afora, "Stärker als die Zeit" teve um ano e meio de gestação
Gravado em estúdio pelo mundo afora, "Stärker als die Zeit" teve um ano e meio de gestaçãoFoto: WMG

"Eu te carrego através dos tempos difíceis, como uma sombra vou te acompanhar [...] Pois nunca é tarde demais para dar a partida mais uma vez", canta Lindenberg, se assegurando que "tempos do cacete" sempre virão.

Contudo, escuta-se também resignação e dúvida de si mesmo, por exemplo quando, em Der einsamste Moment (O momento mais solitário), ele assiste ao noticiário na TV e, diante das guerras e dos atentados, se pergunta por quanto tempo é possível continuar engolindo isso, se ele é capaz de chegar a alguma coisa com as suas canções – "Afinal, a gente queria mudar o mundo, em alguma hora."

Em Mein Body und ich, dá parabéns ao seu próprio corpo: "Fumei como uma chaminé, bebi que nem um poço, te maltratei à beça, mas ainda assim a gente ainda está vivo." E por fim também presta homenagem a seus fãs em Eldorado. Sem medo de refletir sobre o próprio passamento, ele descreve com humor as inevitáveis reações da política, mídia e da indústria musical à morte de um astro pop.

Shows de Lindenberg são disputados por seus fãs
Shows de Lindenberg são disputados por seus fãsFoto: Tine Acke

Sob o signo do pânico

Seguindo a moda do momento, o álbum foi realizado em diversas locações espalhadas pelo mundo, em Los Angeles, Nova York, Berlim, Hamburgo e até nos legendários estúdios Abbey Road, em Londres, onde chegou a empregar uma orquestra sinfônica de 60 músicos.

Durante um ano e meio. Udo e sua equipe de produção – a mesma responsável pelo disco anterior – apuraram canções, arranjos e sonoridade. O investimento valeu a pena, resultando naquele que é talvez o melhor lançamento de toda a carreira do músico.

Seu título "Mais forte do que o tempo" é programa: as canções são atemporais, suaves, soam bem cálidas. A voz de Lindenberg não trai seus quase 70 anos: ele canta como nos melhores tempos, agora enriquecido pela experiência da idade. E experiência é o que não lhe falta: 11 anos atrás ele já lançava a autobiografia Panikpräsident (Presidente do Pânico). As presentes 15 faixas seguem relatando sobre sua vida.

Em 2016 – ano em que completa seu 70º aniversário, em 17 de maio –, Udo Lindenberg também se apresentará com a Panikorchester e convidados musicais em diversos mega-teatros e estádios de futebol da Alemanha. A turnê significativamente intitulada Keine Panik (Nada de pânico) traz apelo irresistível para fãs e curiosos, com o slogan "Maior, mais rápido, mais alto do que nunca".