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Tragédia coloca em questão bem-estar de mães adolescentes

Rina Goldenberg
5 de setembro de 2020

Mulher de 27 anos é suspeita de matar cinco de seus seis filhos. Sua primeira gestação ocorreu na adolescência. Crime levanta debate sobre assistência oferecida a mães jovens no país.

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Velas, flores e bichinhos de pelúcia colocados em frente ao local do crime em Solingen, onde cinco crianças foram achadas mortas
Velas, flores e bichinhos de pelúcia são colocados em frente ao local do crime em homenagem às crianças mortasFoto: Imago Images/Reichwein

A investigação sobre o assassinato de cinco crianças, em Solingen, na Alemanha, está apenas começando. A mãe, de 27 anos, é a única suspeita. Acredita-se que ela tentou suicídio após aparentemente ter matado os filhos que tinham 1,2,3,6 e 8 anos de idade. Os detalhes do caso são vagos e pouco se sabe como a família vivia.

Mas o fato de a mulher ter tido seu primeiro filho, de 11 anos que sobreviveu à tragédia, durante a adolescência chamou a atenção para a assistência oferecida a jovens mães no país. Suspeita-se que ela estivesse se sentindo sobrecarregada emocionalmente quando cometeu o crime.

Pela lei, mães adolescentes na Alemanha tem direito a um aconselhamento gratuito, oferecidos por governos locais, ONGs e igrejas, que auxiliam as jovens a se candidatarem para receber benefícios sociais, encontrar moradia e creche, além de oferecerem conselhos para problemas na escola e serviço.

O seguro de saúde obrigatório cobre todas as despesas médicas, desde exames na gravidez, passando do parto, até o atendimento médico da criança, do nascimento à adolescência. Um conselheiro do serviço de assistência a menores avaliará ainda as condições de vida da mãe adolescente. Verificando, entre outros, se ela ainda vai a escola, se mora com os pais, se precisa de ajuda financeira e se o pai da criança está envolvido na educação e no suporte financeiro do filho.

Casas de abrigo presentes na maioria as cidades alemãs oferecem acomodação assistida para mães adolescentes que necessitam de moradia e apoio. Em Solingen, por exemplo, a casa de abrigo local tem capacidade de receber até oito mães com crianças de até seis anos.

O serviço de assistência a menores também ajuda a organizar o cuidado infantil. O objetivo é que a jovem família possa lidar com a situação de forma independente. Se ambos os pais forem menores de idade, o órgão pode assumir formalmente a custódia da criança, cuidando de todas as formalidades legais e questões financeiras até a mãe completar 18 anos – isso se nenhum parente da mãe adolescente assumir essa função.

Os pais continuam sendo responsáveis pelos cuidados infantis, tendo o direito de escolher o nome da criança e decidir sobre seu local de residência, procedimentos médicos e educação religiosa.

Várias organizações foram criadas para garantir que as crianças tenham um bom começo de vida. Elas oferecem uma ampla gama de informações online. Além disso, sites e telefones de linhas de apoio são anunciados em propagandas e no transporte público.

A agência de ajuda católica Caritas é uma das principais organizações que atendem jovens famílias na Alemanha. "Em Solingen, oferecemos vários serviços, como assistentes de cuidados infantis que visitam famílias em suas casas, grupos de autoajuda e aconselhamento para pais solteiros", afirma a porta-voz da organização, Mathilde Langendorf.

"Com o coronavírus, porém, foi difícil manter isso funcionado e nem sempre foi fácil entrar em contato conosco pelas linhas de apoio. Isso significa que nem todos que precisaram receberam apoio nos últimos meses, embora muitos tenham visto seus problemas piorarem, como por exemplo a insegurança financeira", acrescenta Langendorf.

Condições econômicas e gravidez na adolescência

O Fundo de População das Nações Unidas associa a gravidez na adolescência com a pobreza. Países como Níger e Bangladesh têm muito mais mães adolescentes do que nações economicamente ricas, como Suíça ou Japão. O mesmo padrão é observado dentro dos próprios países. No Reino Unido, cerca da metade das gestações de menores de idade está concentrada na camada populacional que engloba os 30% mais pobres.

Na Alemanha, o número de mães adolescentes tem caído constantemente nos últimos 20 anos, assim como em toda a União Europeia. Cerca de 2% dos pouco mais de 12 mil nascimentos ao ano na Alemanha são de mães com menos de 20 anos. Na Romênia e na Bulgária, essa taxa chega a mais de 8%.

Em Solingen, os vizinhos contaram à DW sobre violentas discussões entre a mulher suspeita de ter matado seus cinco filhos e seu parceiro. Ainda não está claro, se a tragédia tem um histórico de abandono e abuso infantil.

Mas o número de tais incidentes tem aumentado na Alemanha. Em agosto, autoridades alemãs soaram um alarme. Cada vez mais crianças têm sido vítimas de abuso ou negligência. Em 2019, foram registrados 55 mil casos do tipo, um aumento de 10% em relação ao ano anterior, além de ser a maior cifra já registrada no país. Uma em cada duas vítimas tinha menos de oito anos e a maioria vivia apenas com a mãe ou o pai.

A maioria das denúncias veio da polícia ou tribunais e 15% delas foram anônimas. Esse crescimento foi atribuído ao aprimoramento da vigilância, possivelmente ocasionado pelo aumento de reportagens na imprensa sobre o abuso infantil.

Quando o serviço de assistência a menores encontra sinais de abuso ou negligência, ele é obrigado a agir, o que muitas vezes significa tirar a criança da guarda dos pais ou denuncia-los a um tribunal. Em 2019, em 19% dos casos, as crianças foram afastadas da família.

A associação alemã de proteção à criança alerta contra uma análise prematura da tragédia em Solingen. "Não conhecemos o histórico deste caso terrível, não sabemos que tipo de assistência a família estava recebendo e se a mãe realmente tentou conseguir ajuda", afirmou a porta-voz da organização Juliane Wlodarczak, acrescentado que o momento não é de tirar conclusões precipitadas.