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Thiago desabafa

Marcio Pessôa/rw3 de fevereiro de 2009

Segundo o jogador, apesar de seus esforços pela integração no Hamburgo, não havia diálogo com o técnico, o holandês Martin Jol. Thiago fala da expectativa de voltar ao seu clube preferido no Brasil e jogar já no domingo.

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Thiago Neves: fiz tudo certo no HamburgoFoto: AP

O jogador brasileiro Thiago Neves, que completa 24 anos no próximo dia 27 de fevereiro, volta ao Brasil decepcionado com o Hamburgo e critica o técnico Martin Jol.

Em entrevista a DW-WORLD.DE, ele reclama da falta de diálogo com o treinador. Neves diz que sempre era escalado em uma posição diferente da que estava habituado no Fluminense.

Para o jogador curitibano, o fato de o Hamburgo ter feito negociações, segundo ele sem seu conhecimento, com o Al Hilal, da Arábia Saudita, foi outra questão que o entristeceu. Thiago Neves jogou duas partidas como titular. Sua estreia foi contra o Bayer Leverkusen no dia 13 de setembro.

De lá para cá, acumulou frustrações. Foi relacionado no banco de reservas em alguns outros jogos, mas diz que não chegou a jogar dez partidas. O meia-atacante está sendo negociado pelo Hamburgo com o Al Hilal e deve ficar sob empréstimo ao Fluminense até o dia 10 de julho.

Versão do clube

Na segunda-feira (2/2), Martin Jol havia declarado ao site Welt Online não ter escalado Thiago para o clássico de sexta-feira contra o Bayern e ter suspenso o jogador até segunda-feira, temendo que ficasse de "cara amarrada": "Por isso, disse ao Thiago que era melhor ele ficar em casa. Posso compreender a atração que sente por Copacabana, mas não entendo a desistência logo após o primeiro obstáculo".

O Welt Online escreve ainda que "o comportamento de diva do sul-americano" teria irritado seus colegas. "É difícil quando em seu país você é uma estrela e em um novo clube tem de começar do início", disse o capitão David Jarolim, que criticou ainda a falta de iniciativa de Thiago: "Ele deveria ter trabalhado mais".

Nesta terça-feira, contatada pela DW-WORLD.DE, a assessoria de imprensa do Hamburgo informou que o técnico não concede mais entrevistas sobre o assunto.

Leia a entrevista na íntegra:

DW-WORLD.DE: Quando o jogador sai do Brasil para a Europa, sempre existe a expectativa de um futuro brilhante, de participações nas competições mais importantes do mundo, em clubes milionários. O que aconteceu com você?

Thiago Neves: Eu também não vou saber explicar. Eu fiz tudo certo aqui no Hamburgo. Treinava, sempre fui disciplinado. Pediram para eu fazer aula de alemão e eu fiz. Só que o treinador acabou falando para a diretoria e para outras pessoas que não gostou do Thiago, que não estava jogando do jeito que eu jogava no Fluminense.

Só que eu não entendi por que eu nunca joguei na minha posição. No Fluminense, eu jogava de meia-atacante, chegando ao gol. Sempre fiz gol no Fluminense. Aqui, não. Estava jogando de segundo volante, jogador de marcação. Uma posição que para mim não dá certo. É uma posição que estava dificultando o meu futebol aqui. Por isso eu não jogava. Também não entendi o fato de ele [o treinador] reclamar que eu não estava me adaptando, se eu nunca estava jogando na minha posição.

A direção do Hamburgo procurou você para falar sobre o problema?


Não, comigo não. Falaram com meus antigos representantes e eles me informaram. Eu sempre chamava o treinador para conversar, sempre explicava o que estava acontecendo e ele nunca me falou nada. Isso é que me revolta. Se ele falasse direto para mim, eu iria entender. Eu ia procurar treinar na posição que ele estava me colocando, mas nem isso acontecia. No treino, eu atuava em uma posição e, no jogo, em outra. Aí, fica complicado.

Como surgiu o pedido de saída do Hamburgo?

Eles queriam me negociar e eu não sabia de nada. Nem o meu empresário sabia. Eles estavam negociando com outras pessoas que não tinham nada a ver...

Já negociando com o Al Hilal?

Sim. E quando a gente soube, eu disse que não queria ir. O Al Hilal então propôs o empréstimo para o Fluminense e a mudança de algumas coisas. O Fluminense foi fundamental para o meu retorno. Tenho questões familiares, planos para minha vida. Minha namorada está fazendo pós-graduação. Isso tudo também ajuda na volta ao Brasil.

O Fluminense chegou a anunciar o empréstimo na semana passada e o Hamburgo bloqueou. Qual foi a chave para que o clube alemão cedesse?

Foi o Fluminense. Até então, o Hamburgo não sabia do empréstimo para o Fluminense. Negociou com o Al Hilal, mas não sabia que a gente estava querendo este empréstimo. Aí, houve uma negociação e eles, mesmo assim, não aceitaram porque temeram que eu me lesionasse ou que voltasse para um rival do Hamburgo aqui na Alemanha. Com o tempo, eu fui conversando, negociando com diretor e treinador e acabou dando certo. Pelo menos no Fluminense eu vou jogar. Mesmo que eu fique no banco, mas vou jogar mais do que aqui.

Foi uma compensação financeira que o Al Hilal ofereceu?

Deutschland Fußball Bundesliga Thiago Neves von Hamburger SV
Thiago comemora seu gol para o Hamburgo contra o Leverkusen, em setembro de 2008, numa das poucas partidas em que jogou na AlemanhaFoto: picture-alliance/ dpa

Também. Mas o que ajudou foi quando eles sugeriram o empréstimo para o Fluminense. Foi por isso que eu aceitei. Se não existisse o empréstimo para o Fluminense, eu não iria. Poderiam triplicar o valor que eu não iria. O fato de voltar a vestir a camisa do Fluminense me agrada muito. Quero chegar na quinta-feira porque quero ver o jogo (Duque de Caxias x Fluminense). Quero treinar já na quinta-feira e, na sexta, participar das atividades com todo mundo para concentrar no sábado (para o clássico contra o Vasco) para jogar.

Você acredita que nesse retorno para o Fluminense vai conseguir repetir as boas atuações do ano passado?

Eu vou fazer o possível para isso acontecer o mais rápido possível. São seis meses, é pouco tempo, mas vou jogar da mesma forma que sempre joguei. Honrar a camisa como sempre honrei. Quando chegar no Fluminense, tentarei dar o melhor de mim.

Com está a sua condição física?

Treinava todo o dia, concentrava. Só não entrava nos jogos. Aqui na Alemanha se treina mais do que no Brasil e eu estava trabalhando. Estou em forma para jogar. Já conversei com o pessoal do Fluminense para ficarem tranquilos porque, na questão física, estou bem.

Você fica no Fluminense até o dia 10 de julho, quando deve se apresentar no Al Hilal. O que você sabe sobre o clube saudita?

Eu sei muito pouco. Mas sei que é uma das melhores equipes da Arábia Saudita, um país onde o futebol está crescendo muito. Então, vamos ver se lá a gente consegue ser feliz.

A adaptação na Alemanha foi complicada?

Não, para mim não. Questão de clima, atmosfera, não atrapalhou em nada. Se ele [o treinador] pelo menos me deixasse jogar na minha posição, eu ficaria aqui e feliz do jeito que sempre fui. Mas ele nunca me colocou na minha posição e ainda reclamava.

Depois desta experiência complicada com o técnico Martin Jol, você voltaria a jogar na Alemanha?

Para a Alemanha eu volto. Sem problema nenhum. Não tenho problema algum com a Alemanha.

Para outro clube?

Até jogaria no Hamburgo, mas se mudassem algumas coisas.

Por exemplo?

O treinador.

Você teve algum problemas com os outros jogadores do grupo do Hamburgo?

Não, eu sempre tive um relacionamento bom com todos. Fiz amizades legais no clube. Vai ser bem ruim chegar na manhã desta terça-feira no treinamento dos meus companheiros para me despedir. Mas vou ficar com lembranças boas de todos aqui.

Você chegou a fazer alguma grande amizade na Alemanha?

Tenho um carinho muito grande pelo Paulo Guerreiro [peruano que joga no Hamburgo]. Ele me ajudou muito porque fala alemão muito bem. Ele fala espanhol, mas a gente enrola e se entende. Ele me ajudou no clube, com o treinador quando eu cheguei. Para falar algumas coisas em campo. O Guerreiro é um cara por quem eu aprendi a ter um carinho muito grande.