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"Terrorismo de direita é perigo crescente na Alemanha"

2 de outubro de 2018

Após prisão de seis pessoas acusadas de planejar atos terroristas na Alemanha, especialista Florian Hartleb afirma que perigo de atentados de extrema direita no país não deve ser subestimado.

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Manifestação de extremistas de direita em Chemnitz
Manifestação de extremistas de direita em ChemnitzFoto: picture-alliance/dpa/J. Woitas

A detenção de seis pessoas acusadas de pertencer a um grupo chamado Revolução Chemnitz, que estaria planejando um atentado terrorista no Dia da Unidade Alemã, chamou a atenção para o perigo representado pelo extremismo de direita na Alemanha.

Para o cientista político Florian Hartleb, esse perigo é real e crescente, "também devido ao debate polarizador sobre os refugiados". "Quanto mais durar esse discurso polarizador sobre a política de refugiados, mais provável se torna a formação de tais grupos terroristas de direita", afirmou, em entrevista à DW.

Hartleb, que estuda principalmente o extremismo de direita e o populismo, é o autor de Einsame Wölfe – der neue Terrorismus rechter Einzeltäter (Lobos solitários – o novo terrorismo praticado por criminosos que agem sozinhos, em tradução livre).

DW: Que tipo de grupo é o Revolução Chemnitz, e qual o seu grau de periculosidade?

Especialista Florian Hartleb
Hartleb: "O terrorismo de direita sempre carrega uma mensagem política"Foto: Herkki Merila

Florian Hartleb: O grupo foi descoberto nos estágios iniciais. Não houve um atentado terrorista. Houve ataques e uma ação. A coisa toda deveria ser parte de uma ação simbólica típica do terrorismo, como escolher o Dia da Unidade Alemã. Sabe-se também que alguns líderes são conhecidos na cena extremista de direita.

O grupo defende mesmo nada menos que uma mudança da ordem política democrática?

Não é atípico que terroristas proclamem uma revolução social. Vimos isso também nos anos 1970 e 1980 no caso da RAF [Fração do Exército Vermelho – grupo terrorista de esquerda, na época em atividade na Alemanha Ocidental].

Além disso, o terrorismo de direita é um perigo crescente [na Alemanha] também devido ao debate polarizador sobre os refugiados. Esse perigo também se percebe por meio da cena dos Reichsbürger [Cidadãos do Reich], que cresceu muito, e que se pode, sim, recorrer a atos terroristas, por exemplo quando ocorrem ataques a policiais.

Aparentemente, o Revolução Chemnitz foi formado recentemente a partir de vários grupos. Isso ocorreu de forma espontânea ou existe uma organização real, talvez até mesmo uma liderança forte por trás disso?

É preciso que tudo isso ainda seja investigado. Mas é certo que os eventos em Chemnitz foram o estopim para que se passasse a agir agora.

Um atentado em grande escala foi frustrado. O senhor acha que as autoridades investigadoras passaram a funcionar melhor depois dos incidentes com a célula terrorista NSU?

Há um problema fundamental quanto ao terrorismo de direita: muitos atos não são interpretados como sendo de terrorismo de direita ou são subestimados pelas autoridades.

O Revolução Chemnitz já é o terceiro grupo extremista de direita descoberto na Saxônia. É por isso que eu não consigo entender quando o secretário do Interior do estado, Roland Wöller, diz que tudo está sob controle porque se desmascarou um grupo desde cedo.

Como você diferencia o terrorismo de direita de ataques individuais?

O terrorismo de direita sempre carrega uma mensagem política. Elegem-se minorias étnicas como vítimas e existe uma clara intenção redentora em afirmações como "eu quero libertar a minha pátria". O grupo de Chemnitz até pregou uma revolução.

Trata-se da ponta de um iceberg?

Trata-se da mesma pergunta que havia no caso do grupo terrorista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU): se havia um entorno de simpatizantes que tinham conhecimento de tudo, e até que ponto há uma correlação com grupos neonazistas organizados informalmente, como também com a cena extremista de direita na Saxônia.

Diante do debate sobre os refugiados e dos dramáticos acontecimentos em Chemnitz e Köthen, é preciso também questionar se, neste caso, as pessoas não decidem trocar as palavras pelas armas e passam a cometer atos de terrorismo contra refugiados ou imigrantes.

Quanto mais durar esse discurso polarizador sobre a política de refugiados, mais provável se torna a formação de tais grupos terroristas de direita.

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