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Tensão pós-eleitoral ameaça estabilidade na Venezuela

Fernando Caulyt17 de abril de 2013

Após morte de sete pessoas em protestos da oposição, Capriles apela à calma, mas insiste em não reconhecer vitória de Maduro. Especialistas alertam que violência e pressão por recontagem podem acirrar divisões no país.

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Foto: Reuters

A Venezuela passa por momentos de instabilidade política desde a divulgação, nesta segunda-feira (15/04), do resultado das primeiras eleições presidenciais após a morte de Hugo Chávez. Confrontos entre chavistas e oposicionistas deixaram, até agora, sete mortos e dezenas de feridos em várias cidades do país.

O candidato governista Nicolás Maduro ganhou a eleição do último domingo com 50,66% dos votos (7.505.338) frente a 49,07% do oposicionista Henrique Capriles (7.270.403) – uma diferença de cerca de 230 mil votos, ou, em termos percentuais, menos de dois pontos.

Por essa razão, Capriles convocou uma marcha para esta quarta-feira para pressionar por uma recontagem dos votos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). A manifestação, no entanto, foi suspensa para não aumentar a violência entre os dois grupos políticos que polarizam a cena política do país.

Maduro, por sua vez, elevou o tom e ameaça agora processar os opositores que pedem a recontagem de votos, além de acusá-los de promover violência política na Venezuela. Ele afirmou que poderá radicalizar "a fundo" a revolução bolivariana iniciada por Hugo Chávez e responsabilizou Capriles pelas mortes da véspera.

"Acredito que, se o CNE não realizar a recontagem dos votos, a divisão não será resolvida. Há realmente o perigo de novos confrontos entre os dois grupos. Devemos ter em mente que o nível de violência na sociedade venezuelana é alto", diz Stefan Peters, especialista em Venezuela da Universidade de Kassel, na Alemanha.

A diferença de votos inferior a 2 pontos percentuais é muito menor que os quase 11 pontos de vantagem que Chávez, então presidente, obteve nas eleições de outubro de 2012 sobre o mesmo Capriles. "Quero pedir a todos os venezuelanos a sua confiança: lutem para ter o seu voto. Eu lhes peço confiança na condução desta crise que há na Venezuela", assinalou o candidato opositor.

Venezuela Nicolas Maduro Wahlsieg
Se violência continuar, Maduro disse que vai radicalizar "a fundo" a revolução bolivarianaFoto: LUIS ACOSTA/AFP/Getty Images

Entre as irregularidades informadas por Capriles, 283 fiscais de mesa de seu partido teriam sido retirados "à força" de seções eleitorais, em alguns casos, segundo ele, "com armas de fogo". Além disso, chavistas teriam ameaçado eleitores em 397 centros de votação.

Oposição ganha terreno

Para Ana Soliz Landivar, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo, o aumento da instabilidade no país vai depender das decisões que vão ser tomadas pelas autoridades venezuelanas. A proibição da marcha dos opositores por parte do governo, mesmo que denunciada como autoritária, é vista por ela como prudente.

"Qualquer repressão violenta vai servir apenas para gerar mais violência. Existe a prudência de se evitar grandes concentrações de gente em locais onde possa originar-se uma violência em grande escala e a justificativa posterior do uso das Forças Armadas do país", frisa Landivar.

Caso a violência venha a se prolongar de fato no país, na opinião de Thiago Galvão Gehre, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), seria o primeiro indício de que poderá haver uma ruptura social no país, até mesmo com o impedimento de Maduro governar.

"Mas isso não aconteceu. Inclusive outros governos latino-americanos, como o brasileiro, já reconheceram a eleição de Maduro. Isso tem um peso, e esse reconhecimento externo é também importante para a governabilidade dele", afirma.

Gehre disse, ainda, que a derrota apertada para um candidato do chavismo deve ser considerada uma vitória para os oposicionistas. "O grande objetivo era reduzir a diferença de votos. A derrota pode ser considerada uma vitória para a oposição. Mas, agora, eles têm que assumir isso como parte do processo democrático e não podem estimular passeatas."